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Pesquisa da UNESCO aponta que multilateralismo e educação são as soluções para os desafios mundiais

28 dezembro 2020

  • Os resultados da pesquisa pública da UNESCO "O mundo em 2030" apontam que a mudança climática e a perda da biodiversidade são as maiores preocupações das pessoas, enquanto o multilateralismo e a educação são as soluções mais importantes.
  • Realizada entre maio e setembro deste ano, a pesquisa era uma chamada inclusiva internacional por insumos lançada pela Unidade de Apoio à Transformação Estratégica e atraiu respostas de mais de 15 mil pessoas do mundo todo. 
Foto: © UNESCO

Os resultados da pesquisa pública da UNESCO O mundo em 2030 apontam que a mudança climática e a perda da biodiversidade são as maiores preocupações das pessoas, enquanto o multilateralismo e a educação são as soluções mais importantes.

Realizada entre maio e setembro deste ano, a pesquisa era uma chamada inclusiva internacional por insumos lançada pela Unidade de Apoio à Transformação Estratégica e atraiu respostas de mais de 15 mil pessoas do mundo todo. 

As pessoas que responderam à pesquisa definiram os quatro maiores desafios que as sociedades pacíficas enfrentarão até 2030: mudança climática e perda da biodiversidade, violência e conflitos, discriminação e desigualdade, além da falta de alimentos, água e moradia. A educação, em suas várias formas, apareceu no topo como a solução essencial para muitas das dificuldades que nós enfrentamos. Embora as pessoas exaltem de forma esmagadora a importância da cooperação mundial, poucos têm confiança de que o mundo pode superar seus desafios comuns com eficácia.

A pesquisa aponta que é maior do que nunca a conscientização internacional sobre as ameaças representadas pela mudança climática e pela perda da biodiversidade. As crises surgem nos âmbitos global, regional e local, e a cooperação internacional será vital para conter as tendências atuais. 

Isso se refletiu nos resultados da pesquisa, com a sinalização da maioria dos entrevistados de que este desafio seria o mais urgente, ao impactar as populações tanto no âmbito local como no internacional. As pessoas estão mais preocupadas com o aumento dos desastres naturais, as condições meteorológicas extremas, a perda da biodiversidade, o risco de conflitos ou violência, os impactos nos oceanos e, essencialmente, cada vez com menos esperança de resolver esses problemas.

Para lidar com esses desafios, os entrevistados priorizaram os investimentos em soluções verdes, a educação em sustentabilidade, a cooperação internacional e a confiança na ciência. Esses resultados indicam que o trabalho da UNESCO nas áreas de mudança climática e biodiversidade, bem como em redução do risco de desastres,  educação para o desenvolvimento sustentável, saúde do oceano e ciência aberta são ferramentas valiosas na luta contra a mudança climática e a perda da biodiversidade.

Outros desafios que as pessoas indicaram como importantes incluem:

  • Violência e conflitos: os entrevistados demonstraram preocupação quanto à radicalização e ao terrorismo, quanto ao risco de um conflito mundial e armas nucleares, e quanto à violência contra as minorias e os grupos mais vulneráveis. Mundialmente, a violência contra as mulheres e as meninas apareceu em quarto lugar, mas foi a maior preocupação dos entrevistados da América Latina.
  • Discriminação e desigualdade: as maiores preocupações incluem a violência contra mulheres e minorias, o aumento do discurso de ódio e do assédio online, além da discriminação contra mulheres e pessoas LGBT. Quatro entre dez (38%) disseram sentir que as tensões interculturais e religiosas estão piorando.
  • Falta de alimentos, água e moradia: a maior preocupação é a falta de água potável segura, mas os entrevistados também demonstraram apreensão a respeito do impacto dos desastres naturais e da mudança climática, assim como da falta de alimentos saudáveis e de boa qualidade.

Curiosamente, os jovens (com menos de 25 anos) mencionaram com mais frequência suas preocupações com a discriminação e a desigualdade do que os entrevistados de grupos de idade mais avançada. Nessa faixa etária, também há uma maior preocupação com a violência contra mulheres e pessoas LGBT, tendência que foi reiterada nas respostas das mulheres.

Discernir esses padrões ajuda a identificar os desafios mais importantes para o engajamento de jovens, os quais, como futuros líderes da sociedade, foram considerados como o provável grupo-alvo mais importante da pesquisa. Por isso, foi feito um esforço considerável para envolvê-los, incluindo a colaboração das redes de jovens da área de ciências humanas e sociais, as Cátedras UNESCO e as Escolas Associadas (Rede ASPNet), assim como a promoção da pesquisa nas redes sociais. O resultado foi que mais da metade das pessoas que responderam à investigação têm menos de 35 anos. A pesquisa foi traduzida para 25 línguas, com a ajuda de Comissões Nacionais e Escritórios da UNESCO, que também a disseminaram em suas redes.

Entrevistados de todas as idades pediram por cooperação mundial e marcos de ação legais contra a violência e o discurso de ódio, o apoio a soluções tecnológicas e a associações que trabalham com privações diversas, promoção da igualdade de gênero e respeito por todas as culturas. A educação foi novamente considerada a solução principal, com apelos para o ensino da paz, da não violência, da tolerância cultural, dos direitos humanos, da ciência e da tecnologia.

A educação também foi destacada como solução, desde o ensino sobre pensamento crítico, respeito, ética online e alfabetização midiática até a promoção da saúde, do civismo, do patrimônio e da igualdade de gênero.  A educação também foi considerada a área da sociedade que mais deverá ser repensada à luz da crise da COVID-19, dando-se os devidos créditos a programas educacionais, como a iniciativa Futuros da Educação.

Um total de 95% dos entrevistados disse que a cooperação mundial é vital para superar os desafios (incluindo 80% dos que disseram que isso é “muito importante”), e a maioria dos que responderam estão preocupados com os impactos dos desafios no mundo como um todo. Embora isso reflita uma forte solidariedade mundial e uma relevância duradoura do multilateralismo, parece haver uma preocupação considerável quanto à sua eficácia, pois apenas um em cada quatro entrevistados se sente confiante de que o mundo será capaz de enfrentar seus desafios, incluindo apenas 4% que disseram estar “muito confiantes”.

COVID-19 - Ao lado da educação e da cooperação mundial, os entrevistados também apontaram a relação entre o ser humano e a natureza, a cooperação científica e o compartilhamento de pesquisas como importantes áreas da sociedade a serem repensadas diante da pandemia.

O surgimento da COVID-19 chamou a atenção de muitos para os vínculos entre a saúde pública e a gestão ambiental, incluindo a propagação de doenças zoonóticas (zoonoses). Da mesma forma, a questão da cooperação científica e do compartilhamento de pesquisas, que a UNESCO está abordando com o desenvolvimento de uma nova Recomendação sobre Ciência Aberta  e um apelo conjunto pela ciência aberta, se tornou mais relevante, uma vez que cientistas de todo o mundo compartilham conhecimentos sobre o vírus, ao mesmo tempo em que continua a busca mundial por uma vacina.

A crise da COVID-19 também destacou a importância para muitos da cooperação internacional em desafios globais: além da saúde e doenças, mudança climática e perda de biodiversidade, migração e mobilidade, e falta de alimentos, água e moradia são três áreas apontadas como as que necessitam de cooperação internacional eficaz. Enquanto se engaja em diversas ações concretas, a resposta da UNESCO à pandemia da COVID-19 também tem prestado atenção especificamente ao fortalecimento da cooperação internacional – um trabalho que deve continuar para restaurar a confiança no sistema multilateral para tratar desses grandes desafios.

Vários problemas destacados pela pandemia também se refletiram nas preocupações dos entrevistados sobre saúde e doenças, desinformação e liberdade de expressão, falta de oportunidades e trabalho decente, e participação política e princípios democráticos. Saúde e doenças foi um desafio classificado em primeiro lugar pelos entrevistados da Ásia e por aqueles que se identificaram como indígenas, ficando em segundo lugar no geral.

As pessoas citaram preocupações sobre a confiabilidade das informações e a disseminação deliberada de falsidades, liderança fraca, corrupção e falta de responsabilidade política, ataques à mídia, sistemas educacionais inadequados, desigualdade no mercado de trabalho e o declínio mundial da democracia. As soluções incluem o apoio ao jornalismo de qualidade e a verificação de fatos, bem como punições mais severas e marcos de ação legais mais robustos contra a disseminação da desinformação.

Migração, tecnologia e cultura - As pessoas demonstraram maior preocupação com os direitos humanos dos migrantes e dos refugiados, com a reação política em países que recebem migrantes, com o tráfico humano ou a exploração sexual de migrantes, além da mudança climática, que piora ainda mais a situação. Elas pediram por uma coordenação mundial e regional eficaz sobre essas questões, foco no desenvolvimento dos países de origem, respeito pelas culturas e pela diversidade, além de apoio à integração nas comunidades anfitriãs.

Ao considerar os desafios emergentes colocados pela inteligência artificial e por outras novas tecnologias, as pessoas demonstraram mais preocupação com a privacidade e a vigilância online, com as questões éticas, com a guerra cibernética e novas formas de conflitos, e com os novos crimes cibernéticos. Elas pediram mais educação sobre ética, segurança e privacidade online, um marco de ação mundial sobre ética, promoção de um foco ético, transparente e humano, além da prevenção de crimes online.

Aqueles que se identificaram como indígenas classificaram os riscos para as tradições e a cultura como os desafios mais importantes. As pessoas estão preocupadas com o patrimônio cultural e o desaparecimento das práticas, com a globalização que conduz à perda do patrimônio ou da identidade, com o desinteresse dos jovens pelo patrimônio cultural e com a falta de apoio às indústrias criativas. Elas pedem por integração da cultura e do patrimônio nos sistemas educacionais, a promoção do intercâmbio cultural e o respeito pela diversidade, o engajamento dos jovens com suas tradições, e a salvaguarda dos sítios e das práticas do patrimônio cultural.

Orientação - A pesquisa O mundo em 2030 foi desenvolvida pela Unidade de Apoio à Transformação Estratégica, com o apoio financeiro da Comissão Canadense da UNESCO, com vistas ao enriquecimento das reflexões atuais da UNESCO sobre o futuro de seu programa para o resto da década. Esta reflexão também recebeu o apoio dos resultados de uma pesquisa realizada com seu pessoal, dos insumos da UNESCO Jovem e do trabalho do Grupo de Reflexão de Alto Nível da diretora-geral. O processo de reflexão é uma parte importante da Transformação Estratégica da Organização, que está entrando em sua fase final. Esse processo irá culminar no próximo ano com a aprovação da Estratégia de Médio Prazo da UNESCO para 2022-2029, um roteiro que vai até 2030.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa