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ARTIGO: Soluções de saúde digital em cuidados primários de saúde durante a COVID-19

31 dezembro 2020

  • Em artigo de opinião, Federica Secci e Gianluca Cafagna, especialistas em saúde do Banco Mundial, avaliam como a pandemia acelerou a implementação de soluções de saúde digital na América Latina.
  • Eles analisaram as experiencias de países como Uruguai e Colômbia.
  • Os autores sugerem alfabetização digital, padrões mínimos de conectividade, tele-assistência nos cuidados primários de saúde, entre outras medidas.
  • Leia a íntegra a seguir.
Foto: © Banco Mundial

A COVID-19 resultou em interrupções na prestação de serviços essenciais de saúde em todo o mundo, incluindo aqueles prestados no nível de cuidados primários de saúde (CPS). Ao mesmo tempo, com as medidas de distanciamento sanitário e social impostas pela pandemia foi necessário repensar as soluções de prestação de cuidados de saúde para garantir a continuidade dos serviços. Neste sentido, a pandemia ofereceu uma oportunidade de acelerar a implementação de soluções de saúde digital e compreender melhor as (pré) condições que as favoreceram, bem como os mecanismos que favorecerão sua sustentabilidade além da COVID-19.

Como parte do trabalho do Banco Mundial com a Iniciativa de Desempenho de Cuidados Primários de Saúde e em parceria com outros grupos dentro da Prática Global de Saúde, Nutrição e População, estamos explorando alguns dos principais desafios e lições aprendidas sobre soluções de saúde digital na América Latina, analisando as experiências dos países como as do Uruguai e da Colômbia.

Aqui estão nossas cinco principais decisões tomadas até o momento:

1) Criação de um ecossistema digital: Isso significa posicionar o setor de saúde na chamada “era da interdependência digital” por meio do desenvolvimento de mecanismos de governança, investimento na educação digital do pessoal de saúde e dos pacientes, e melhoria da conectividade dentro e fora do sistema de saúde.

Na América Latina e no Caribe, mais de 200 milhões de pessoas têm conectividade inadequada para receber teleassistência. Uma das promessas da saúde digital – proporcionar saúde de longa distância aos mais vulneráveis, reduzindo os custos – não será cumprida sem que haja padrões mínimos de conectividade e alfabetização digital. Podemos concluir que a transformação digital somente pode ser alcançada com uma abordagem multissetorial.

2) A transformação digital deve ser um processo sustentado, e não apenas uma resposta a emergências de saúde pública: Os países que foram eficazes na implantação de soluções de saúde digital durante a COVID-19 iniciaram o processo de transformação digital há muito tempo. Por exemplo, em 2012, o Uruguai criou a Salud.uy, a iniciativa governamental que promove o uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação no setor de saúde como parte de sua agenda de saúde digital. Seguiu-se o desenvolvimento de um registro de saúde eletrônico nacional (Historia Clínica Electrónica Nacional).

Essas etapas progressivas prepararam o terreno para soluções de saúde digital subsequentes para combater a COVID-19. Estas soluções incluíram, entre outras, um aumento substancial na teleassistência, rastreamento de contatos e um sistema de semáforo de risco clínico, além do aplicativo Coronavirus UY, que fornece aos cidadãos informações importantes e contato com provedores de cuidados de saúde. Notavelmente, o Coronavirus UY teve mais de 650.000 downloads em um país de 3,5 milhões de habitantes.

3) Teleassistência é a chave para o fornecimento de Cuidados Primários de Saúde (CPS) durante epidemias e pode ser particularmente benéfica para as populações em situação de risco: A Colômbia está fornecendo serviços de CPS via tele-assistência e homecare a pacientes que procuram assistência médica para sintomas gerais ou respiratórios durante a pandemia da COVID-19. De janeiro a setembro de 2020, os serviços de tele-assistência aprovados na Colômbia aumentaram em 192%. O modelo colombiano de prestação de serviços incluiu processos específicos para pacientes com condições pré-existentes, crônicas e para mulheres grávidas, reconhecendo como prioridade a saúde dos mais vulneráveis.

4)  O investimento oportuno na capacitação é crucial em situações de emergência como a COVID-19: Mesmo em tempos normais, uma das principais razões para o fracasso das soluções de saúde digital é a falta de capacitação e de gestão de mudanças. A fim de prestar serviços com eficácia, o pessoal de saúde deve ser treinado sobre as mudanças nos modelos de prestação de serviços e sistemas de referência, questões de confidencialidade de dados envolvendo ferramentas digitais, e padrões para o uso de teleassistência, entre outros.

5)  Este é um bom momento para avaliar a maturidade digital dos sistemas de CPS: Com a adoção de uma abordagem multissetorial, os principais indicadores de avaliação não se limitarão aos sistemas de CPS, mas abrangerão o processo geral de transformação digital da saúde em um país. Por exemplo, em vez de simplesmente medir a porcentagem de instalações de CPS utilizando registros eletrônicos de saúde em um país, deve-se considerar mais amplamente a existência de uma estratégia nacional de saúde eletrônica, instrumentos normativos, padrões de interoperabilidade, etc. Isso levará em consideração outros setores relevantes, como a alfabetização digital da população, conectividade e largura de banda.

A pandemia gerou impactos devastadores na saúde, sociais e econômicos em todos os países, mas o foco no que funcionou nos permitirá moldar sistemas de saúde para o futuro, tendo a CPS no centro.

Acreditamos que a implementação sistemática de soluções de saúde digital em CPS será a chave para a sustentabilidade dos esforços realizados na América Latina durante os últimos meses, muito além da pandemia.

Muitas vezes nos vimos tentando justificar por que investiremos em saúde digital como parte integrante do sistema de saúde, quando na realidade o mundo já mudou nessa direção e a pandemia provou que isso pode e deve ser feito. A verdadeira questão que precisamos abordar agora é como implementar soluções de saúde digital de forma eficaz, a fim de oferecer um atendimento mais centrado nas pessoas e integrado, e também adaptar os modelos às necessidades de cada país, não deixando ninguém para trás.

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