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Cozinha&Voz e Paola Carosella: A diversidade é o melhor ingrediente

19 janeiro 2021

  • A renomada chef argentina é destaque na campanha mundial da Organização Internacional do Trabalho (OIT) chamada "Voices", que reúne histórias do mundo do trabalho.
  • Em artigo, a chef explica os motivos pelos quais decidiu participar do projeto "Cozinha&Voz", da OIT e do Ministério Público do Trabalho (MPT), que promove a capacitação profissionais e a empregabilidade de pessoas marginalizadas e em condição de vulnerabilidade socioeconômica ​​no Brasil.
  • Para ela, aprender a cozinhar é muito mais do que aprender um ofício. "A comida desperta memórias e sentimentos poderosos, porque é algo que você pode levar para sua família e amigos, porque envolve a forma como você se relaciona com o ambiente. Aprender a cozinhar é sobre mudar a sua vida", afirmou a chef. Veja o artigo na íntegra.
Chef Paola Carosella trabalha com o projeto Cozinha&Voz desde 2017.
Legenda: Chef Paola Carosella trabalha com o projeto Cozinha&Voz desde 2017.
Foto: © Juliano Barcelar/OIT

A renomada chef argentina é destaque na campanha mundial da Organização Internacional do Trabalho (OIT) chamada "Voices", que reúne histórias do mundo do trabalho. Em artigo, a chef explica os motivos pelos quais decidiu participar do projeto "Cozinha&Voz", da OIT e do Ministério Público do Trabalho (MPT), que promove a capacitação profissionais e a empregabilidade de pessoas marginalizadas e em condição de vulnerabilidade socioeconômica ​​no Brasil.

Por Paola Carosella*



Aprender a cozinhar é muito mais do que aprender um ofício. A comida desperta memórias e sentimentos poderosos, porque é algo que você pode levar para sua família e amigos, porque envolve a forma como você se relaciona com o ambiente.



Aprender a cozinhar é sobre mudar a sua vida



É exatamente isso que espero alcançar com o “Cozinha&Voz”. Trata-se de uma iniciativa conjunta do Ministério Público do Trabalho (MPT) o e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que ajuda a dar às pessoas mais marginalizadas – pessoas com condição de rua, mulheres vítimas de maus-tratos, lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais (LGBTI) - a chance de tenha um trabalho digno.

 

Faço isso desde dezembro de 2017. A ideia inicial era dar aulas de culinária em um presídio de Salvador, na Bahia. Mas eu pensei que um programa de treinamento seria uma porta de entrada para a indústria de restaurantes. No Brasil, as pessoas adoram comer fora - representa 3% do PIB.

 

E foi assim que começamos, em São Paulo, com um grupo de 30 participantes transgêneros. Desde então, crescemos e agora damos em média quatro aulas por ano em diferentes estados, com 50 a 60 pessoas por aula. Este ano tivemos que organizar o treinamento online, devido à pandemia. Mas nós o fizemos de mesma maneira.

 

O curso é composto por aulas em nove disciplinas e fornece as habilidades básicas para o trabalho na cozinha de um restaurante, incluindo técnicas de tempero de salada, preparo de peixes, carnes e vegetais, manuseio de resíduos e armazenamento de alimentos.

 

Eu faço questão de usar ingredientes locais como mandioca, arroz e banana, que são fáceis de obter e também têm ligações com as raízes da culinária indígena. Eles fazem parte de uma herança que está se perdendo. Nós não cozinhamos carne.

 

Como a comida pode ser extraordinariamente evocativa, durante o treinamento alguns de nossos(as) alunos(as) redescobriram sabores de pratos que suas mães ou avós costumavam fazer. Alguns(mas) traziam a comida que haviam cozinhado para suas famílias, com quem às vezes não falavam há anos.

 

Talvez minha própria formação tenha me ajudado a entender as pessoas que frequentam as aulas. Nasci na Argentina em uma família de imigrantes italianos. Minha mãe era advogada. Ela me deu um grande senso de justiça. Um senso de urgência também, de que algo precisava ser feito para ajudar os outros. Sou cozinheira há 30 anos e, embora tenha tido sucesso, nunca esqueço que quem trabalha na cozinha costuma ser de origem muito humilde.

 

Nos últimos quatro anos, conseguimos trazer muitas pessoas participantes para empregos oferecidos por uma rede de empresas parceiras. Dois deles trabalham em meus restaurantes.



Eu acho que mostra uma mudança em direção a mais diversidade na cultura corporativa das empresas, porque acredito que a diversidade é o melhor ingrediente, na culinária e na vida. Trabalhar com pessoas de origens muito diferentes enriquece você como pessoa.

 

Isso não foi fácil. Mas graças ao apoio da OIT, ao financiamento do Ministério do Trabalho e também ao fato de ser um chef de renome, temos conseguido superar muitos preconceitos.

Meu próximo objetivo é ajudar mais empresas a participarem do projeto. Talvez dando-lhes incentivos, como incentivos fiscais ou algum tipo de sistema de classificação que mostre que estão envolvidas em um projeto que favorece a inclusão de pessoas vulneráveis.

 

Eu realmente espero que incentivemos outras empresas a se associarem ao “Cozinha&Voz” e ajudemos a promover a empregabilidade de uma parcela da população muito talentosa, mas ainda amplamente excluída.

 

Dados e números

  • Cerca de 80 países têm leis que proíbem a discriminação com base na orientação sexual, identidade de gênero, expressão de gênero ou características sexuais.
  • No entanto, muitas pessoas LGBTI continuam enfrentando altos níveis de discriminação, violência, assédio, perseguição e estigma, inclusive no local de trabalho.
  • A Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho inclui o compromisso de combater todas as formas de discriminação.
  • Para promover efetivamente o trabalho decente para a comunidade LGBTI, são necessários mais dados estatísticos para descobrir a extensão da discriminação que enfrentam e as diferentes formas que ela assume.

* Paola Carosella é uma chef argentina de renome mundial que mora em São Paulo. Por seis anos, ela foi uma das juradas do programa MasterChef. Desde 2017, Paola trabalha com a OIT no “Cozinha&Voz”, um projeto que promove para grupos vulneráveis no Brasil ao acesso ao mercado de trabalho.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OIT
Organização Internacional do Trabalho

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa