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Especialistas da ONU expressam preocupação com a decisão de descartar a água de Fukushima

16 abril 2021

  • Três especialistas independentes em direitos humanos da ONU expressaram profundo pesar na quinta-feira (15) sobre a decisão do Japão de descartar água da usina nuclear de Fukushima, potencialmente ainda radioativa, no oceano.
  • “A decisão é particularmente decepcionante porque os especialistas acreditam que existem soluções alternativas para o problema”, disseram em comunicado conjunto os relatores especiais sobre Produtos Tóxicos e Direitos Humanos, Marcos Orellana, sobre o Direito à Alimentação, Michael Fakhri , e sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente, David Boyd.
  • Segundo os relatores especiais, a decisão pode ter impactos em milhões de pessoas em toda a região do Pacífico. Para eles, os perigos radioativos foram subestimados pelo governo japonês e podem representar riscos para os seres humanos e o meio ambiente por mais de 100 anos.
Especialistas marinhos da Agência Internacional de Energia Atômica e cientistas japoneses coletam amostras de água em águas costeiras perto da Central Nuclear de Fukushima Daiichi.
Legenda: Especialistas marinhos da Agência Internacional de Energia Atômica e cientistas japoneses coletam amostras de água em águas costeiras perto da Central Nuclear de Fukushima Daiichi.
Foto: © Petr Pavlicek/AIEA

Três especialistas independentes em direitos humanos da ONU expressaram profundo pesar na quinta-feira (15) sobre a decisão do Japão de descartar água da usina nuclear de Fukushima, potencialmente ainda radioativa, no oceano. Eles alertam para os possíveis impactos em milhões de pessoas em toda a região do Pacífico.

“A liberação de um milhão de toneladas de água contaminada no meio ambiente marinho impõe riscos consideráveis ​​ao pleno gozo dos direitos humanos das populações envolvidas dentro e fora das fronteiras do Japão”, disseram em uma declaração conjunta os relatores especiais sobre Produtos Tóxicos e Direitos Humanos, Marcos Orellana, sobre o Direito à Alimentação, Michael Fakhri , e sobre Direitos Humanos e Meio Ambiente, David Boyd.

‘Muito preocupante’ -  Dados os avisos de ambientalistas e alguns governos de que o descarte afetaria muitas pessoas, bem como o meio ambiente em geral, os especialistas consideraram a decisão do governo "muito preocupante".

A decisão vem depois de anos de discussões com as comunidades - incluindo o setor pesqueiro, que já foi severamente atingido pelo desastre de 2011 - ONGs ambientais, países vizinhos e sociedade civil.

“A decisão é particularmente decepcionante porque os especialistas acreditam que existem soluções alternativas para o problema”, disseram no comunicado.

Partículas radioativas - Observando que a água pode conter quantidades de carbono-14 radioativo, bem como outros materiais radioativos, os especialistas independentes levantaram suas preocupações com o governo japonês de que despejar água radioativa no Oceano Pacífico ameaça a saúde das pessoas e do planeta.

Enquanto isso, em resposta às preocupações dos relatores, o governo japonês alegou que a água tratada armazenada nos tanques não estava contaminada.

No entanto, os especialistas sustentaram que a tecnologia de processamento de água ALPS (Advanced Liquid Processing System) falhou em remover completamente as concentrações radioativas na maioria da água contaminada armazenada em tanques na planta de Fukushima Daiichi.

“Uma primeira aplicação do ALPS falhou em limpar a água abaixo dos níveis regulatórios e não há garantias de que um segundo tratamento será bem-sucedido”, disseram, acrescentando que a tecnologia não removeu o trítio radioativo ou o carbono-14.

Preocupações com isótopos - Embora o Japão afirme que os níveis de trítio são muito baixos e não representam uma ameaça à saúde humana, os cientistas alertam que, na água, o isótopo se liga organicamente a outras moléculas, perpetuando-se na cadeia alimentar e afetando plantas, peixes e humanos.

Além disso, eles afirmam que os perigos radioativos do trítio foram subestimados e podem representar riscos para os seres humanos e o meio ambiente por mais de 100 anos.

“Lembramos o Japão de suas obrigações internacionais de prevenir a exposição a substâncias perigosas, realizar avaliações de impacto ambiental dos riscos que o despejo de água pode ter, prevenir danos ambientais transfronteiriços e proteger o meio ambiente marinho”, concluíram os especialistas.

Relatores especiais e especialistas independentes são nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, com sede em Genebra, para examinar e relatar um tema específico de direitos humanos ou a situação de um país. Os cargos são honorários e os especialistas não são remunerados pelo seu trabalho. 

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