Notícias

Tensões em Jerusalém podem escalar para "guerra em grande escala", alerta ONU

12 maio 2021

  • O secretário-geral, agências e representantes da ONU voltaram a expressar profunda preocupação com a escalada de violência no Território Palestino Ocupado na terça-feira (11), após ataques aéreos e dias de confrontos entre manifestantes e polícia israelense.
  • A violência em curso marca uma escalada dramática de tensões ligadas ao possível despejo de famílias palestinas de Jerusalém Oriental por colonos israelenses e ao acesso a um dos locais mais sagrados da cidade, o Monte do Templo, que é um centro importante para o Islã, Judaísmo e Cristianismo.
  • O Escritório da ONU de Direitos Humanos (ACNUDH) apelou por "redobrar os esforços para restaurar a calma". O coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, acrescentou sua voz aos apelos por contenção, alertando que a situação está “escalando para uma guerra em grande escala”.
  • O secretário-geral da ONU expressou sua solidariedade com as famílias das vítimas e afirmou que as Nações Unidas estão trabalhando "com todas as partes relevantes para conter a situação com urgência".
Palestinos vasculham os escombros de suas casas destruídas, atingidas por ataques israelenses no norte da Faixa de Gaza (foto de arquivo).
Legenda: Palestinos vasculham os escombros de suas casas destruídas, atingidas por ataques israelenses no norte da Faixa de Gaza (foto de arquivo).
Foto: © Shareef Sarhan/UN Photo

O secretário-geral, agências e representantes da ONU voltaram a expressar profunda preocupação com a escalada de violência no Território Palestino Ocupado na terça-feira (11), após ataques aéreos e dias de confrontos entre manifestantes e polícia israelense.

A violência em curso marca uma escalada dramática de tensões ligadas ao possível despejo de famílias palestinas de Jerusalém Oriental por colonos israelenses e ao acesso a um dos locais mais sagrados da cidade, o Monte do Templo, que é um centro importante para o Islã, Judaísmo e Cristianismo.

Apelos por cessar-fogo - O Escritório da ONU de Direitos Humanos (ACNUDH) apelou por "redobrar os esforços para restaurar a calma". O coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, acrescentou sua voz aos apelos por contenção, alertando que a situação está “escalando para uma guerra em grande escala”. “Parem o fogo imediatamente”, apelou Wennesland em seu Twitter.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou sua profunda preocupação com a situação, incluindo a escalada da violência em Gaza, que se soma ao aumento das tensões e violência na ocupada Jerusalém Oriental. “Os pensamentos do secretário-geral estão com as famílias das vítimas", disse em comunicado do seu porta-voz.

Ele pediu às forças de segurança israelenses que "exerçam o máximo de contenção e calibrem o uso da força", acrescentando que "o lançamento indiscriminado de foguetes e morteiros contra os centros populacionais israelenses é inaceitável".

Guterres afirmou que as Nações Unidas estão trabalhando "com todas as partes relevantes para conter a situação com urgência".

Mais de 900 feridos - De acordo com o Escritório da ONU de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), a partir das 17h de terça-feira (hora local), pelo menos 28 pessoas, incluindo 10 crianças, teriam sido mortas em Gaza em ataques aéreos israelenses, e duas mulheres foram mortas em Israel como resultado de foguetes disparados de Gaza. Há relatos que muitos mais ficaram feridos de ambos os lados.

Segundo o ACNUDH, mais de 900 palestinos foram feridos entre 7 e 10 de maio em Jerusalém Oriental, e mais de 200 na Cisjordânia, "a maioria por forças de segurança israelenses", alguns dos quais também foram feridos.

Enquanto isso, grupos armados palestinos lançaram “cerca de 250 foguetes contra Israel nas últimas 24 horas”, com pelo menos 17 civis israelenses feridos, afirmou o porta-voz do ACNUDH, Rupert Colville.

Direito internacional – Segundo Colville, o uso indiscriminado de armas “é estritamente proibido pelo Direito Internacional Humanitário e deve ser interrompido imediatamente”.

“Israel deve respeitar o direito internacional humanitário, em particular os princípios fundamentais sobre a condução das hostilidades, ou seja, distinção, proporcionalidade e precauções”, prosseguiu o porta-voz do escritório da ONU para os direitos humanos. “Qualquer ataque, incluindo ataques aéreos, deve ser dirigido exclusivamente a alvos militares e todas as precauções possíveis devem ser tomadas para evitar mortes e ferimentos de civis e danos a alvos civis.”

“O custo da guerra em Gaza é devastador e está sendo pago por pessoas comuns”, enfatizou Wennesland. “Os líderes de todos os lados têm que assumir a responsabilidade pela redução deste custo. Parem com a violência agora”.

Proteger as crianças - A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) expressou “profunda preocupação” com o impacto da escalada militar sobre as crianças e pediu às partes que exerçam o máximo de contenção.

“As crianças são e devem ser protegidas pelo Direito Internacional e os responsáveis ​​pelo descumprimento de suas obrigações devem ser totalmente responsabilizados com base em evidências claras”, disse em um comunicado, reiterando seu apelo a todas as partes “para exercer o máximo de contenção e cumprir com suas obrigações sob Direito Internacional nos termos mais estritos, inclusive no que diz respeito à proteção do direito inerente à vida das crianças”.

Ameaças de despejos - Os confrontos começaram após protestos em Jerusalém pelo possível despejo iminente de oito famílias palestinas, com cerca de 75 pessoas, dos bairros Sheikh Jarrah e Silwan.

“Essas famílias são refugiadas da Palestina, que perderam suas casas originais e meios de subsistência como resultado do conflito de 1948”, disse a UNRWA em um comunicado. “Em 1956, essas famílias de refugiados mudaram-se para Sheikh Jarrah, com o apoio do governo jordaniano e assistência material da UNRWA após o deslocamento. Eles residem nessas casas há quase 70 anos. Eles agora correm o risco de serem deslocados pela segunda vez na memória viva.”

Na sexta-feira passada (7), também houve confrontos violentos entre a polícia israelense e palestinos supostamente impedidos de chegar ao complexo Haram Al-Sharif (ou Monte do Templo), onde fica localizada a mesquita Al-Aqsa, para orações. Os conflitos acontecem no momento em que o mês sagrado do Ramadã chega ao fim e as famílias quebram seu jejum diário com sua refeição noturna, ou iftar.

Violência no Monte do Templo - Questionado por jornalistas em uma coletiva em Genebra sobre as ações das forças de segurança israelenses contra os manifestantes palestinos, o porta-voz do ACNUDH observou que, em alguns casos, as ações pareciam "injustificadas, desproporcionais ou indiscriminadas", especialmente quando a polícia entrou no complexo de Haram Al-Sharif / Monte do Templo usando gás lacrimogêneo e granadas de atordoamento, balas com ponta de esponja e força física. 

“Certamente, o que estamos vendo é extremamente preocupante”, disse o Colville. “Quando você vê o tratamento dado a alguns dos manifestantes e até mesmo pessoas que não estavam protestando, pessoas que estavam simplesmente orando ou pessoas que estavam tendo seu iftar e que foram submetidas à violência pelas forças de segurança.”

trabalhadora humanitária atende senhor palestino
Legenda: A assistência humanitária é uma das preocupações da ONU no momento.
Foto: © UNRWA

Dois importantes especialistas em direitos humanos nomeados pela ONU acrescentaram suas vozes às preocupações sobre a "resposta agressiva" de Israel aos protestos em Jerusalém Oriental, antes de apelar a Israel "como potência ocupante" para suspender imediatamente a ameaça de despejo de centenas de famílias palestinas.

“Restabelecer a calma em Jerusalém é importante, mas criar as condições para justiça e igualdade na cidade são ainda mais importantes”, disseram os relatores especiais sobre a situação dos direitos humanos no Território Palestino ocupado desde 1967, Michael Lynk, e sobre moradia adequada como um componente do direito a um padrão de vida adequado, Balakrishnan Rajagopal.

“Nem a calma de curto prazo nem a paz de longo prazo serão alcançadas enquanto os direitos nacionais e individuais da população palestina da cidade forem revogados rotineiramente”, disseram em um comunicado conjunto.

Preocupações humanitárias - O OCHA também destacou que a escalada atual na região corre o risco de piorar “uma já desgastada situação humanitária”, especialmente em Gaza, onde o setor de saúde em dificuldades é ainda mais sobrecarregado pela pandemia COVID-19.

A agência acrescentou que a comunidade humanitária, incluindo entidades da ONU e ONGs parceiras, continuam a prestar assistência aos necessitados, com extrema importância à proteção de civis.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OCHA
Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários
ACNUDH
Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos
ONU
Organização das Nações Unidas
UNRWA
Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Médio Oriente

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa