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Quase metade dos deslocados em Moçambique são crianças

16 junho 2021

  • A situação humanitária em Moçambique deteriorou significativamente desde o início do ano. No momento, quase 700 mil pessoas estão deslocadas, das quais 46% são crianças. Quase 2 mil delas estão desacompanhadas.
  • “O que está acontecendo em Cabo Delgado é uma crise para as crianças - uma emergência em cima de outra emergência - um coquetel mortal dos impactos das mudanças climáticas, de conflitos e da COVID-19”, disse o diretor regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para a África Oriental e Austral, que visitou o país na semana passada.
  • De acordo com o UNICEF 96,5 milhões de dólares são necessários para resolver a crise, não apenas diminuindo o sofrimento humano dos afetados, mas evitando uma escalada que pode atingir uma dimensão internacional.
Legenda: Diretor regional do Unicef para a África Oriental e Austral, Mohamed Malick Fall, em Cabo Delgado
Foto: © Daniel Timme/UNICEF

A situação humanitária em Moçambique deteriorou-se significativamente desde o início do ano. Nesse momento, quase 700 mil pessoas estão deslocadas, das quais 46% são crianças.

A informação é do diretor regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) para a África Oriental e Austral, que visitou o país na semana passada. Para Mohamed Malick Fall, a proteção das crianças é a prioridade no momento. 

Até o momento, o UNICEF já identificou 1.970 meninos e meninas desacompanhados entre os deslocados. De acordo com Fall, “é de partir o coração” conhecer as crianças e perceber que, desde o ataque em Palma no final de março, elas estão separadas de suas famílias, entrando em barcos onde não conhecem quase ninguém e, todos os dias, perguntando pelos pais sem qualquer resposta.

As pessoas têm fugido diariamente para distritos mais ao sul ou para a vizinha Tanzânia. Outros milhares estão presos em áreas ao redor de Palma, com acesso humanitário restrito. De acordo com relatos dos que fogem, a situação em Palma permanece muito instável, desde o ataque de 24 de março, com tiros regulares à noite e queima de casas.

Além da separação de famílias, outras preocupações são a subnutrição e a prevalência do HIV. Cabo Delgado é uma das províncias com maior prevalência de HIV em Moçambique. Mais de 2,2 milhões de pessoas vivem com o vírus e, com o deslocamento, muitos deixaram de receber tratamento, aumentando os riscos.  

Água, saneamento e educação também são áreas de preocupação. O sistema escolar, que já era muito frágil, piorou o fluxo de deslocados. Algumas escolas fazem três turnos para responder a demanda.  

Resposta - Para o representando do UNICEF, neste momento, uma das prioridades da agência é o acesso humanitário, dificultado pela violência. Agências da ONU, como o UNICEF e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), têm cooperado com as autoridades locais e o governo nacional para manter seu compromisso em apoiar a população.

No início do ano, o UNICEF lançou um apelo humanitário de cerca de 50 milhões de dólares, que foi financiando em apenas 40%.  Agora, a agência aumentou o apelo para 96,5 milhões de dólares, sendo 55,7 de dólares milhões dirigidos a Cabo Delgado. No total, o Plano de Resposta Humanitária precisa de cerca de 250 milhões de dólares até o final do ano, mas recebeu menos de 10% desse valor. 

“O que está acontecendo em Cabo Delgado é uma crise para as crianças - uma emergência em cima de outra emergência - um coquetel mortal dos impactos das mudanças climáticas, de conflitos e da COVID-19”, disse Fall.

O diretor do UNICEF reafirma a importância de resolver a crise, não apenas devido ao sofrimento humano dos afetados nesse momento, mas para evitar uma escalada.

"Estas crises podem se espalhar rapidamente, atingindo um nível regional e uma dimensão internacional", alertou, destacando que “este é o momento de atuar.” 

Visita  - Na semana semana passada, Fall esteve na capital, Maputo, onde se encontrou com os ministros da Justiça, dos Negócios Estrangeiros, Gênero e Juventude e Administração. E também com a ativista e ex-primeira-dama, Graça Machel.  

Depois, ele visitou a Ilha do Ibo, em Cabo Delgado, que considerou “uma verdadeira representação das várias crises” que afetam o Norte do país. 

A ilha foi um dos locais mais afetados pelo ciclone Kenneth em 2019, a crise de COVID-19 e agora o influxo de deslocados. O local, onde viviam entre 11 e 12 mil pessoas, recebeu cerca de 30 mil, que partilham recursos que já eram escassos e colocam pressão sobre serviços que já eram frágeis.

Apesar disso, Fall disse que o que o marcou foi “a generosidade, humanidade e solidariedade da comunidade, que acolheu famílias inteiras em suas próprias casas e partilharam os poucos recursos que tinham.” 

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa