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Em menos de dois anos pobreza extrema triplica no Líbano, alerta alto funcionário humanitário da ONU

16 junho 2021

  • Enquanto o Líbano enfrenta uma de suas piores crises financeiras e econômicas, a ONU estima que nos próximos oito meses cerca de 300 milhões de dólares serão necessários para fornecer ajuda vital a cerca de 1,5 milhão de libaneses e 400 mil trabalhadores migrantes que vivem lá.
  • A crise econômica protagonizada pelo país teria sido impulsionada pela explosão no porto de Beirute em agosto do ano passado, que matou cerca de 200 cidadãos e devastou a cidade.
  • Entre abril de 2019 e abril deste ano, o índice de preços ao consumidor aumentou mais de 208% e o preço dos alimentos e bebidas aumentou 670%. Como resultado, mais da metade da população libanesa vive agora na pobreza.
Legenda: Muitos imigrantes no Líbano perderam seus trabalhos como trabalhadores domésticos
Foto: © Muse Mohammed/OIM

A crise no Líbano chega ao seu auge com o comprometimento das necessidades básicas de cerca de 1,5 milhão de libaneses e 400 mil trabalhadores. Diante da calamidade vivida pelo país, uma alta funcionária humanitária das Nações Unidas estima que durante os próximos oito meses 300 milhões de dólares serão necessários para conter os efeitos nefastos da crise. 

“A explosão no porto de Beirute acelerou muitas coisas, isso é certo”, disse a vice-coordenadora especial Najat Rochdi, que também é residente da ONU e coordenadora humanitária  para o Líbano, falando a repórteres da ONU em Genebra, referindo-se a mortal explosão em agosto do ano passado, que matou cerca de 200 e devastou a cidade. 

Ela disse que as reformas políticas necessárias não foram realizadas “a tempo”, apesar das advertências generalizadas sobre a iminente crise econômica e financeira, que “muitos analistas já haviam previsto... Não estamos falando de algo que nos pegue de surpresa hoje. Acho que todos sabiam disso”.

Entre abril de 2019 e abril deste ano, o índice de preços ao consumidor aumentou mais de 208% e o preço dos alimentos e bebidas aumentou 670%. Como resultado, mais da metade da população libanesa vive agora na pobreza.

Serviços públicos destruídos - “A crise na economia, a desvalorização da moeda, assim como o vácuo de governança significaram uma quebra dos serviços públicos em um momento em que eles são mais necessários”, disse Rochdi. Ela acrescentou que “a pandemia agravou uma situação que já era frágil”.

A vice-coordenadora especial disse que a confiança internacional foi atingida pelo fracasso em formar um governo funcional, desencorajando os investidores e exacerbando o fracasso do sistema bancário e de outras instituições públicas.

Estado de calamidade - A pobreza extrema triplicou nos últimos dois anos. Cada vez mais famílias libanesas não têm condições de pagar por serviços básicos como alimentação, saúde, eletricidade, água, internet e educação infantil.

“O país está em uma fase de hiperinflação, corroendo o valor da moeda nacional, o poder de compra das pessoas e o que resta da confiança em seus líderes e instituições”, disse Rochdi. 

“O sistema público de saúde está além de seus limites com o duplo impacto da crise econômica e do surto da COVID-19. As pessoas estão cada vez mais impossibilitadas de acessar e pagar os cuidados de saúde em meio à crescente escassez de medicamentos e suprimentos médicos importantes”. 

Impacto sobre os refugiados - Níveis alarmantes de pobreza entre os refugiados foram evidentes na última pesquisa da ONU: nove em cada 10 refugiados sírios estão caindo abaixo da linha de pobreza extrema - um aumento de 60% desde 2019. A proteção dos refugiados é um problema crescente, com partidas no mar em alta e risco considerável de repulsão.

“A crise afeta a todos no Líbano, não apenas aos libaneses. Como você sabe, o Líbano acolhe o maior número de refugiados per capita de residentes do mundo, com mais de um milhão de refugiados sírios e mais de 270.000 refugiados palestinos ”, disse Rochdi.

A ONU com a comunidade internacional, em colaboração com as autoridades libanesas, tem como objetivo uma rápida transição para os esforços de recuperação no âmbito do chamado “Estrutura de Reforma, Recuperação e Reconstrução (3RF)”. Este plano tem como foco a governança, proteção social, coesão social, inclusão de gênero, saúde, educação e habitação.

Caminho para a recuperação - Segundo a Rochdi, “as soluções são conhecidas, a lista de reformas prioritárias está claramente articulada  no 3RF, na ‘Estrutura de Reforma, Recuperação e Reconstrução', que foi em todos os casos discutido com a sociedade civil, com as autoridades locais, com as autoridades nacionais, com o setor privado, com a comunidade internacional, então é realmente ‘muito simples’. É sabido, é sabido o que deve ser feito”.

A comunidade internacional advertiu que, sem um governo que implemente reformas estruturais significativas, nenhum investimento será feito além da ajuda humanitária urgente necessária e dos esforços de recuperação iniciais.

“O desenvolvimento do Líbano é responsabilidade dos libaneses”, disse a coordenadora residente. “O desenvolvimento do Líbano não é responsabilidade da comunidade internacional. Sempre esperamos que no nível interno... seja no nível da liderança política, ou outra liderança, haja de fato uma decisão de obviamente colocar o interesse do país e o interesse dos libaneses como uma prioridade”.

Dez meses se passaram desde a renúncia do último governo na sequência das explosões do porto de Beirute em 4 de agosto. Saad Hariri foi designado como primeiro-ministro há mais de seis meses, com a tarefa de formar uma nova administração, mas até agora sem sucesso.

 

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