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Apesar de melhora aparente, explosão de casos de COVID-19 no continente africano preocupa OMS

23 julho 2021

  • "Não tenha ilusões, a terceira onda da África absolutamente não acabou", disse a diretora-regional da OMS, sobre a situação protagonizada pelo continente.
  • Embora os novos casos de COVID-19 na África tenham diminuído após um aumento repentino de oito semanas, este “pequeno passo a frente” se deve, em grande parte, a um declínio concentrado na África do Sul.
  • Ao retirar o país dos dados fica evidenciado um aumento de 18%, ou mais de 182 mil novos casos. 
  • A OMS descreveu a escalada nos indicadores como excepcionalmente acentuada e ininterrupta. 
  • A variante Delta, altamente transmissível, foi encontrada em 26 países, enquanto as variantes Alfa e Beta foram relatadas em 38 e 35 nações, respectivamente.  
Legenda: Um homem de 76 anos mostra a carteira de vacinação após receber a vacina contra a COVID-19 em Kasoa, Gana
Foto: © Francis Kokoroko/UNICEF

Embora os novos casos de COVID-19 na África tenham diminuído após um aumento repentino de oito semanas, este “pequeno passo a frente” pode durar pouco, disse o Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) na quinta-feira (22).

Os casos no continente caíram 1,7% nesta semana, para quase 282 mil, em grande parte devido a um declínio acentuado de contaminação na África do Sul, onde ocorreram a maior parte das infecções relatadas.

O progresso, no entanto, mostrou-se limitado ao país. Ao retirar a África do Sul dos dados é evidenciado um aumento de 18%, ou mais de 182 mil novos casos. A OMS descreveu a escalada nos indicadores como excepcionalmente acentuada e ininterrupta. 

Risco máximo - “Não tenha ilusões, a terceira onda da África absolutamente não acabou. Este pequeno passo em frente oferece esperança e inspiração, mas não deve mascarar o panorama geral para a África”, disse a diretora-regional da OMS para a África, Matshidiso Moeti.

“Muitos países ainda estão em risco de pico e a terceira onda da África cresceu mais rápido e mais alta do que nunca. As comemorações do Eid que marcamos esta semana também podem resultar em aumento de casos. Devemos todos redobrar as medidas de prevenção para aproveitar esses ganhos frágeis”.

A OMS disse que 21 países africanos testemunharam os casos aumentarem em mais de 20% durante pelo menos duas semanas consecutivas, o que é três a mais do que na semana anterior. A variante Delta, altamente transmissível, foi encontrada em 26 países, enquanto as variantes Alfa e Beta foram relatadas em 38 e 35 nações, respectivamente.  

Aumento da vacinação - A OMS vem pedindo aos governos que aumentem as vacinações contra a COVID-19 à medida que diminui o aperto entre as remessas de vacinas. Cerca de 60 milhões de doses devem chegar ao continente nas próximas semanas, inclusive dos Estados Unidos, Europa, Reino Unido e por meio da iniciativa de solidariedade global COVAX. 

A COVAX deve entregar mais de meio bilhão de doses somente neste ano. 

“Um influxo maciço de doses significa que a África deve fazer tudo e acelerar a distribuição da vacina em cinco a seis vezes se quisermos colocar todas essas doses nos braços e vacinar totalmente os 10% mais vulneráveis ​​de todos os africanos até o final de Setembro”, disse Moeti.  

Cerca de 3,5 a 4 milhões de vacinas são administradas semanalmente na África, mas os números terão que aumentar para 21 milhões semanais, no mínimo, para atingir a meta de setembro.  Até agora, o continente recebeu apenas 1,7% das 3,7 bilhões de doses do mundo, e 20 milhões de pessoas lá, apenas 1,5% da população, foram totalmente inoculadas.  

Investir na confiança -  Além dos 9,5 bilhões de dólares necessários para comprar vacinas suficientes, são necessários 3 bilhões de dólares adicionais para financiar as operações, de acordo com estimativas do Banco Mundial. 

“Para aumentar a aceitação, os países devem expandir as operações, os investimentos em custos operacionais e abordar a confiança nas vacinas. Os países precisam de locais de vacinação e profissionais de saúde suficientes, armazenamento para vacina o suficiente, transporte e logística adequados para distribuição”, disse Moeti.   

Os países africanos também terão que lidar com os temores em torno dos efeitos colaterais, acrescentou a OMS, um fator importante para a relutância das pessoas em se vacinar. As ações recomendadas incluem o uso de líderes políticos e tradicionais como “campeões da vacina”, mobilização da comunidade e abordagem da desinformação nas redes sociais.  

O preço da desigualdade - Da mesma forma, a desigualdade da vacina terá um impacto duradouro e profundo na recuperação pós-pandemia em países de baixa renda, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a OMS e a Universidade de Oxford.

O Painel Global para a Equidade de Vacinas contra a COVID-19 concluiu que essas nações acrescentariam 38 bilhões de dólares à sua previsão de PIB para este ano se tivessem a mesma taxa de vacinação dos países de alta renda.

A recuperação econômica global está em risco se as vacinas não forem fabricadas, ampliadas e distribuídas de forma equitativa, alertaram os parceiros. 

Recuperação de duas vias - “Em alguns países de renda baixa e média, menos de 1% da população está vacinada - isso está contribuindo para uma recuperação de duas vidas da pandemia da COVID-19”, disse o Administrador do PNUD, Achim Steiner.

“É hora de uma ação coletiva rápida - este novo Painel de Equidade de Vacinas contra a COVID-19 fornecerá aos governos, formuladores de políticas e organizações internacionais percepções exclusivas para acelerar a entrega global de vacinas e diminuir os impactos socioeconômicos devastadores da pandemia”.

O painel baseia-se em dados de entidades que incluem o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF e GAVI, a aliança de vacinas e análises sobre as taxas de crescimento do PIB per capita. 

Vacinas para todos - Os países mais ricos têm a previsão de que vacinem e se recuperem mais rapidamente, enquanto os países mais pobres, que não conseguiram vacinar os profissionais de saúde e as populações em risco, podem não ver os níveis de crescimento pré-pandêmico até 2024.

O surgimento das variantes da COVID-19 também forçou alguns países a restaurar medidas rígidas de saúde pública, agravando ainda mais os impactos sociais, econômicos e de saúde.  

“A iniquidade da vacina é o maior obstáculo mundial para acabar com esta pandemia e se recuperar da COVID-19”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Economicamente, epidemiologicamente e moralmente, é do interesse de todos os países usar os mais recentes dados disponíveis para tornar as vacinas que salvam vidas disponíveis para todos.

 

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância
OMS
Organização Mundial da Saúde

Outras entidades envolvidas nesta iniciativa

FMI
Fundo Monetário Internacional
Banco Mundial
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