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Crise humanitária no norte da Etiópia piora a cada dia, alerta ONU

03 setembro 2021

  • O Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) informou que, desde 12 de julho, menos de 10% dos caminhões que deveriam ter chegado a populações desesperadas e afetadas por meses de combate na região de Tigray conseguiram ter acesso.
  • Com isso, os estoques de serviços assistenciais, dinheiro e gasolina estão “muito baixos ou esgotados” na região, onde pelo menos 400 mil pessoas vivem em condições de falta de alimentos e 100 mil enfrentam desnutrição aguda grave.
  • Parceiros humanitários estimam que 100 caminhões de assistência precisam chegar à Tigray todos os dias para manter uma resposta adequada. 
  • O conflito interno já dura dez meses e tem repercutido em regiões vizinhas, no que secretário-geral da ONU alertou ser “uma catástrofe humanitária" que está se desenrolando diante de nossos olhos.
Uma mulher leva seu filho a uma clínica em Wajirat, no sul de Tigray, na Etiópia, para que seja examinada por desnutrição.
Legenda: Uma mulher leva seu filho a uma clínica em Wajirat, no sul de Tigray, na Etiópia, para que seja examinada por desnutrição.
Foto: © Christine Nesbitt/UNICEF

A crise no auxílio humanitário na região de Tigray, no norte Etiópia, está piorando a cada dia, afirmou a ONU na última quinta-feira (02), ao alertar que os estoques de serviços assistenciais, dinheiro e gasolina estão “muito baixos ou esgotados”. 

Desde o dia 12 de julho, menos de 10% dos caminhões que deveriam ter chegado a populações desesperadas e afetadas por meses de combate conseguiram passar, segundo o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). A única rota de acesso para o Tigray, por meio da região de Afar, utilizando o corredor Semera-Abala, está inacessível desde o dia 22 de agosto. 

Parceiros humanitários estimam que 100 caminhões de comida, itens não alimentares e gasolina precisam chegar ao Tigray todos os dias para manter uma resposta adequada.   

Falta de gasolina e financiamento - O OCHA ressaltou também que em adição à comida é necessário, todas as semanas, o mínimo de 200 mil litros de gasolina para a resposta humanitária.  

No entanto, desde 12 de julho, apenas 282 mil litros chegaram no Tigray. Depois isso, nada tem chegado desde 16 de agosto.

A agência da ONU destacou que são necessários cerca de 7 milhões de dólares toda semana para manter as operações humanitárias no Tigré – o equivalente a 300 milhões em birre (moeda local). O valor inclui salários de funcionários, compras locais e assistência em dinheiro. No entanto, apenas 47 milhões em birre foram alocados desde 12 de julho, afirmou.  

Repercussão nos civis - O conflito de 10 meses entre as tropas etíopes e a Força de Defesa do Tigray tem repercutido nas regiões vizinhas de Afar e Amhara. A situação continua afetando civis, resultando em insegurança alimentar, deslocamento e interrupção dos meios de subsistência. Estima-se que cerca de 1,7 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar em Afar e Amhara.

“Uma catástrofe humanitária está se desenrolando diante de nossos olhos”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, no final de agosto.

Ao condenar as atrocidades e pedir responsabilização dos perpetradores, ele afirmou que a expansão do conflito está ameaçando a estabilidade de toda região. Além disso, segundo Guterres, o discurso inflamatório tem destruído o tecido social do país, que tem mais de dois milhões de deslocados.

Segundo alerta do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), pelo menos 400 mil pessoas vivem em condições de falta de alimentos e 100 mil enfrentam desnutrição aguda grave durante o ano.

Somando-se ao apelo do secretário-geral para o término imediato das hostilidades e para a negociação de um cessar-fogo duradouro, o OCHA instou que exortou todas as partes no conflito permitam e facilitem o acesso o acesso oportuno, livre, seguro e sustentável a todas as pessoas afetadas pela crise. 

Evitar a catástrofe - Em um depoimento, o coordenador humanitário em exercício no Tigré, Grant Leaity, disse que, segundo o Direito Internacional Humanitário, "todas as partes no conflito devem permitir e facilitar a passagem rápida e desimpedida de auxílio humanitário imparcial para evitar esta catástrofe iminente." 

“Eles também devem respeitar e proteger a toda a equipe e patrimônios dos serviços humanitários”, acrescentou. “Em particular, o governo da Etiópia deve permitir e facilitar a entrada desimpedida no país, assim como a circulação dentro do país, da equipe de auxílio humanitário, suprimentos e equipamentos, incluindo dinheiro e combustível, seja por terra, água ou ar". 

Leaity também instou o governo a restituir os serviços essenciais, incluindo eletricidade, comunicações e serviços bancários, assim como o fluxo de produtos comerciais essenciais para o Tigray. 

“As vidas de milhões de civis no Tigré e regiões vizinhas, em Afar e Amhara, dependem de nossa capacidade de chegar até eles com alimentos, suprimentos nutricionais, medicamentos e outros tipos de assistência fundamentais. Precisamos alcançá-los imediatamente e sem obstrução para evitar a fome e níveis significativos de mortalidade", alertou o coordenador humanitário.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OCHA
Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários
ONU
Organização das Nações Unidas

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