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No Conselho de Segurança, Guterres afirma que tempo para evitar a crise climática está se esgotando

23 setembro 2021

  • O secretário-geral da ONU, António Guterres, reuniu-se com os membros do Conselho de Segurança nesta quinta-feira (23) para alertar sobre o fechamento da janela de oportunidade para reverter os impactos da crise climática. O ponto central da discussão foi o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado no mês passado.
  • Durante a reunião, Guterres convocou as nações industrializadas do G20 a intensificarem e conduzirem ações de contenção antes da Conferência do Clima da ONU (COP26), baseado em três eixos prioritários de ação: limite máximo para o aquecimento global de 1,5 °C, redução da emissão de gases de efeito estufa pela metade; e planos de ações concretas para o cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
  • Com 80% das emissões de carbono da ONU oriundas das seis principais missões de paz da organização, o secretário-geral comprometeu-se a trabalhar com o fornecimento de energia através de fontes renováveis. Guterres também disse que as Nações Unidas estão integrando em um único eixo de trabalho em campo os riscos climáticos, prevenção de conflitos, iniciativas de construção da paz e análises políticas.
  • Presidindo a reunião, o primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, disse que chegou a hora de o Conselho de Segurança liderar as ações climáticas, inclusive por meio de operações e mandatos de manutenção da paz.
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Foto: © Celeste Hibbert/OIM

O secretário-geral da ONU, António Guterres, esteve no Conselho de Segurança nesta quinta-feira (23), para alertar os países membros do órgão sobre a escassez de tempo para reverter os impactos climáticos e evitar uma crise. Para o chefe das Nações Unidas, a “nossa janela de oportunidade” para prevenir os piores impactos climáticos está se “fechando rapidamente”.

Chamando a atenção para o relatório “profundamente alarmante” do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgado no mês passado, Guterres esclareceu que “é necessária uma ação climática muito mais ousada” para manter a paz e a segurança internacionais. Ele convocou as nações industrializadas do G20 a intensificarem e conduzirem ações de contenção antes da Conferência do Clima da ONU (COP26), marcada para o início de novembro.

Multiplicadores de risco - Num cenário de incêndios florestais, inundações, secas e outros eventos climáticos extremos, o chefe da ONU disse que “nenhuma região está imune” e destacou que a crise climática é “particularmente profunda” em situações onde existe o agravamento por conflitos. 

Descrevendo a mudança climática e a má gestão ambiental como “multiplicadores de risco”, ele explicou que, no ano passado, desastres relacionados ao clima deslocaram mais de 30 milhões de pessoas e que 90% dos refugiados vêm de países menos capazes de se adaptar à crise climática.

Muitos desses refugiados são hospedados por Estados que também sofrem os impactos das mudanças climáticas, "agravando o desafio para as comunidades anfitriãs e os orçamentos nacionais", disse Guterres aos embaixadores, acrescentando que a pandemia de COVID-19 também está minando a capacidade dos governos de responder aos desastres climáticos e construir resiliência.

Ações prioritárias - Sustentando que “não é tarde para agir”, o secretário-geral da ONU destacou três “prioridades absolutas”, começando com um limite máximo para o aquecimento global de 1,5 °C.

Para evitar impactos climáticos catastróficos, ele instou todos os Estados-membros a tornarem mais ambiciosas, ainda antes da COP26, suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — compromisso por meio dos quais os países se comprometem com as ações climáticas. Guterres também pediu que os países traduzam esses planos em “ações concretas e imediatas”.

“Coletivamente, precisamos de um corte de 45% nas emissões globais até 2030”, disse ele.

A “metade” esquecida - Para lidar com os terríveis impactos da crise climática, Guterres enfatizou a necessidade de adaptação e resiliência, valores que ele afirmou representarem pelo menos metade do esforço climático global para apoiar as transições. 

“Simplesmente não podemos alcançar nossos objetivos climáticos compartilhados - nem alcançar a esperança de paz e segurança duradouras - se a resiliência e a adaptação continuarem a ser a metade esquecida da equação climática”, disse ele.

Reforço mútuo - A adaptação ao clima e a construção da paz “podem e devem reforçar-se mutuamente”, disse ele, destacando os projetos transfronteiriços na África Ocidental e Central que “permitiram o diálogo e promoveram uma gestão mais transparente dos escassos recursos naturais”.

Observando que “mulheres e meninas enfrentam  riscos duplos diante de mudanças climáticas e conflitos”, Guterres também ressaltou a importância da participação feminina e de “liderança significativas” a fim de trazer  “resultados sustentáveis que beneficiem mais pessoas”.

O secretário-geral explicou que a ONU está integrando em um único eixo os riscos climáticos, prevenção de conflitos, iniciativas de construção da paz e análises políticas.

“O Mecanismo de Segurança Climática está apoiando missões de campo, equipes nacionais e organizações regionais e sub-regionais ... [e] o trabalho está ganhando força em países e regiões onde o Conselho de Segurança reconheceu que as mudanças climáticas e ecológicas estão minando a estabilidade”, disse ele.

Missões de paz- Reconhecendo que 80% das emissões de carbono da ONU são oriundas das seis maiores operações de manutenção da paz da organização, Guterres disse que a é necessário melhorar.

Ele assegurou que a ONU está trabalhando em novas abordagens que permitirão alterar o fornecimento de energia para fonte renováveis, que continuarão “além do tempo de vida de nossas missões”.

“Todos nós fazemos parte da solução. Vamos todos trabalhar juntos para mitigar e nos adaptar às mudanças climáticas para construir sociedades pacíficas e resilientes ”, concluiu o secretário-geral.

Tempo de agir- Presidindo a reunião, o primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, ressaltou a importância do órgão composto por 15 Estados-membros assumir um papel de protagonismo na avaliação e mitigação do clima, inclusive por meio de operações e mandatos de manutenção da paz. “As pessoas afetadas por conflitos causados pelas mudanças climáticas dependem da liderança deste Conselho”, disse ele. “Agora é o momento de agir”.

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