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Crise afegã se agrava e Guterres pede ação conjunta de países vizinhos

27 outubro 2021

Mais da metade da população afegã deve enfrentar fome aguda a partir de novembro. O número é o mais alto registrado pela ONU nos últimos 10 anos e a crise alimentar no país já uma das maiores do mundo.

Houve um aumento de 37% no número de afegãos que enfrentam a fome aguda desde abril. Entre aqueles em risco, há 3,2 milhões de crianças menores de cinco anos que devem sofrer com desnutrição aguda até o final do ano.

Em uma reunião com os vizinhos do país para tratar sobre o tema, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou por uma ação conjunta para lidar com o que chamou de "crise humanitária épica".

O chefe da ONU destacou como temas prioritários a ajuda humanitária, o reativamento da economia afegã, a garantia dos direitos humanos e a segurança do país. Com um inverno rigoroso se aproximando, as agências da ONU ainda não tem financiamento suficiente para lidar com as necessidades crescentes.

Legenda: Mães e crianças numa clínica de nutrição que tem apoio do WFP em Herat, Afeganistão.
Foto: © Marco Di Lauro/WFP

O secretário-geral da ONU, António Guterres, enviou nesta quarta-feira (27) uma mensagem em vídeo para uma reunião dos vizinhos do Afeganistão sobre a crise no país. Ele fez um apelo por uma ação conjunta para lidar com a "crise humanitária épica" enfrentada pelos afegãos. Um relatório divulgado pela ONU esta semana revelou que mais da metade da população no país deve enfrentar fome aguda a partir de novembro.

O encontro foi convocado pelo Irã e reuniu ministros das Relações Exteriores do Paquistão, Tajiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão em Teerã. Representantes de Rússia e China participaram por vídeo.

“Só podemos alcançar mais estabilidade com uma abordagem unida. Juntos, vamos agir com determinação - e sem demora - para ajudar o povo do Afeganistão e garantir um futuro melhor para todos ”, disse o secretário-geral em sua mensagem.

Guterres agradeceu o suporte aos refugiados dado pelos países vizinhos e destacou quatro áreas de ação que, segundo ele, são de interesse regional e internacional: a ajuda humanitária, o reativamento da economia afegã, a garantia dos direitos humanos e respeito à liberdade no novo governo e, por último, a segurança do país, evitando que o Afeganistão se torne um refúgio para o terrorismo.

Avanço da fome - O encontro aconteceu dois dias após a publicação do relatório de Classificação de Fase Integrada da Segurança Alimentar (IPC), que informou que a crise alimentar no país já é uma das piores do mundo. Mais da metade da população do Afeganistão, cerca de 22,8 milhões de pessoas, deve enfrentar fome aguda por conta da seca, do conflito, da pandemia da COVID-19 e da crise econômica no país, a partir de novembro, segundo o documento produzido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pelo Programa Mundial de Alimentos (WFP).  

O diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, declarou que “é imprescindível que nossa ação seja eficiente e eficaz a fim de acelerar e aumentar nossas entregas no Afeganistão, antes que o inverno atinja a maior parte do país. Isso levará a fome para milhões de pessoas - agricultores, mulheres, crianças e idosos - no inverno congelante. É uma questão de vida ou morte”.

O relatório da IPC descobriu que um a cada dois afegãos terá uma desnutrição aguda elevada ou acima do normal (fase 3 da insegurança alimentar), ou uma desnutrição aguda muito elevada com mortalidade (fase 4 da insegurança alimentar) de novembro a março. Essa estação de escassez requer uma resposta internacional urgente para prevenir uma catástrofe humanitária.

“Nós não podemos esperar para ver um desastre humanitário se desenrolando na nossa frente. Isso é inaceitável”, afirmou Qu Dongyu.

Promessas não matam a fome - Esse é o  mais alto número de afegãos em estado de insegurança alimentar já registrado pela ONU ao longo dos últimos 10 anos em que o IPC analisa o país.

“A fome está aumentando e crianças estão morrendo. Nós não podemos alimentar as pessoas com promessas - compromissos de financiamento devem ser convertidos em dinheiro vivo", alertou o diretor executivo do WFP, David Beasley. "A comunidade internacional deve se unir para combater essa crise, que está saindo do controle".

Disseminação demográfica - O relatório revelou um aumento de 37% no número de afegãos que enfrentam a fome aguda, desde a última análise feita em abril. Entre aqueles em risco, há 3,2 milhões de crianças menores de cinco anos que devem sofrer com desnutrição aguda até o final do ano.

A fome já era generalizada antes mesmo de o Taleban assumir o controle do governo, há dois meses, mas piorou significativamente de acordo com a última atualização do Programa Mundial de Alimentos. Em meados de setembro, apenas 5% dos afegãos tinham o suficiente para comer e um em cada três enfrentava crises ou níveis de emergência de insegurança alimentar.

No mês passado, o WFP e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alertaram que sem uma ação imediata para salvar vidas, um milhão de crianças estarão em risco de morrerem por causa da desnutrição severa.

Pela primeira vez, as regiões urbanas estão sofrendo com uma insegurança alimentar semelhante àquela vista nas comunidades rurais.

Enquanto isso, o aumento do desemprego e a crise de liquidez estão colocando a maioria dos centros urbanos em risco de alcançarem a fase 4 da insegurança alimentar, o que inclui também a classe média do país.

Nas áreas rurais, o grave impacto da segunda seca em quatro anos continua a afetar a vida de 7,3 milhões de pessoas que dependem da agricultura e da pecuária para sobreviverem.

“O Afeganistão está entre as piores crises humanitárias do mundo - senão a pior - e a segurança alimentar colapsou", resumiu David Beasley. "Nesse inverno, milhões de afegãos serão forçados a escolher entre migração ou fome, a não ser que nós intensifiquemos nossa assistência e que a economia consiga ser ressucitada”.

Desastre total em jogo - Com outro evento do La Niña se aproximando e ameaçando estender a seca deste ano até 2022, o apoio financeiro imediato se tornou crucial para que as necessidades humanitárias mais básicas cheguem aos afegãos, que enfrentam o inverno sem emprego, dinheiro ou perspectivas.

Para responder às necessidades crescentes, a ONU vai precisar mobilizar recursos em níveis imprescindíveis, mas apenas um terço do Plano de Resposta Humanitária da ONU para o Afeganistão foi arrecadado.

O WFP, por exemplo, precisa de 220 milhões de dólares por mês para fornecer assistência alimentar e nutricional aos civis. Já a FAO precisa de 11,4 milhões de dólares para continuar ajudando os agricultores nos próximos meses.

A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR), que tem prestado assistência vital a mais de meio milhão de pessoas deslocadas no país, tem apenas 35% dos fundos necessários para apoiar as operações nos próximos dois meses. 

A agência estabeleceu um centro de logística em Termez, no país vizinho, o Uzbequistão, para se preparar e entregar rapidamente ajuda ao Afeganistão, e está aumentando sua resposta para alcançar mais pessoas deslocadas antes que o inverno rigoroso chegue, mas precisa de mais recursos. Nas últimas duas semanas, o ACNUR ajudou cerca de 100.000 pessoas em todo o Afeganistão com abrigos de emergência, cobertores, painéis solares e dinheiro para os mais vulneráveis.

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