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Grupo de resposta à crise da ONU lança primeiro documento de recomendações

13 abril 2022

O Grupo de Resposta à Crise Mundial de Alimentos, Energia e Finanças, criado pelo secretário-geral da ONU para estudar os efeitos da guerra na Ucrânia entre os mais vulneráveis do mundo, apresentou seu primeiro documento de recomendações detalhadas.

A publicação insiste na importância da cooperação global no enfrentamento da crise, que “deixará cicatrizes profundas e duradouras”. O documento reconhece que “a própria natureza dos choques globais cada vez mais comuns é tal que os países não são individualmente responsáveis” e que as soluções precisam ser baseadas no risco global.

Entre as recomendações, o grupo pede que os países mantenham seus mercados abertos, resistam ao acúmulo de estoques e às restrições desnecessárias à exportação de alimentos e disponibilizem suas reservas para países com maior risco ou situação de fome. A publicação recomenda ainda uma reforma do sistema financeiro mundial e o investimento acelerado em energia renovável.

plantação de trigo na ucrânia
Legenda: Ucrânia e Rússia produzem juntas 30% do trigo do mundo
Foto: © Anatolii Stepanov/FAO

O secretário-geral da ONU, António Guterres, apresentou na quarta-feira (13) o primeiro documento de recomendações detalhado emitido pelo Grupo de Resposta à Crise Mundial de Alimentos, Energia e Finanças (GCRG, na sigla em inglês). O grupo foi criado para estudar os efeitos da guerra na Ucrânia entre os mais vulneráveis do mundo.

Falando no lançamento do resumo, Guterres destacou que, embora a maior atenção esteja focada nos efeitos da guerra sobre os ucranianos, o conflito também está tendo um impacto global, em um mundo que já testemunhava o aumento da pobreza, fome e agitação social.

“Estamos agora diante de uma tempestade perfeita que ameaça devastar as economias dos países em desenvolvimento”, alertou o chefe da ONU.

O que é o Grupo? - O Grupo de Resposta à Crise Mundial sobre Alimentos, Energia e Finanças é um grupo de 32 membros, presidido pela vice-secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, que inclui chefes de agências da ONU, bancos de desenvolvimento e outras organizações internacionais.

O Grupo foi lançado pelo secretário-geral em 14 de março, em resposta às preocupações sobre as possíveis consequências da invasão russa da Ucrânia, bem como os impactos contínuos da pandemia de COVID-19.

Como isso vai ajudar? - O grupo garantirá a colaboração entre os governos, o sistema multilateral e uma ampla gama de setores, para ajudar os países vulneráveis a evitar crises em larga escala.

Isso será alcançado por meio de coordenação e parcerias de alto nível, ação urgente e acesso a dados críticos, análises e recomendações de políticas. O primeiro documento de recomendações foi divulgado na quarta-feira (13), antes das Reuniões da Primavera de 2022 do Fundo Monetário Internacional e do Grupo Banco Mundial, que acontecem de 18 a 24 de abril.

Por que isso é importante? - A crise na Ucrânia corre o risco de levar até 1,7 bilhão de pessoas – mais de um quinto da humanidade – à pobreza, à miséria e à fome.

A Ucrânia e a Rússia fornecem 30% do trigo e da cevada do mundo, um quinto de seu milho e mais da metade de seu óleo de girassol.

Juntos, seus grãos são uma fonte de alimento essencial para algumas das pessoas mais pobres e vulneráveis, fornecendo mais de um terço do trigo importado por 45 países africanos e menos desenvolvidos.

Ao mesmo tempo, a Rússia é o maior exportador mundial de gás natural e o segundo maior exportador de petróleo.

A guerra agravou os desafios que muitos países em desenvolvimento estão enfrentando como resultado da pandemia do COVID-19, bem como os encargos históricos da dívida e a inflação crescente.

Desde o início de 2022, os preços do trigo e do milho aumentaram 30%, os preços do petróleo subiram mais de 60% em relação ao ano passado e os preços do gás natural e dos fertilizantes mais do que duplicaram.

Ao mesmo tempo, as operações humanitárias da ONU enfrentam uma crise de financiamento: o Programa Mundial de Alimentos (WFP) alertou que não tem recursos suficientes para alimentar pessoas famintas em situações desesperadoras. A agência precisa urgentemente de 8 bilhões de dólares para apoiar suas operações no Iêmen, Chade e Níger.

De acordo com Guterres, o relatório mostra que existe uma correlação direta entre o aumento dos preços dos alimentos e a instabilidade social e política. “Nosso mundo não pode permitir isso. Nós precisamos agir agora", alertou.

O que o primeiro documento recomenda? - O documento de recomendações insiste na importância da cooperação global no enfrentamento da crise, que, segundo o texto, “deixará cicatrizes profundas e duradouras”. O relatório convida todos os países – bem como o setor privado, ONGs e outros atores – a reconhecer que “a própria natureza dos choques globais cada vez mais comuns é tal que os países não são individualmente responsáveis”, e que as soluções precisam ser baseadas no risco global, em vez de nacional.

À luz do aumento do custo de alimentos, combustível e outras commodities, todos os países são instados a manter seus mercados abertos, resistir ao acúmulo de estoques e às restrições desnecessárias à exportação e disponibilizar reservas para países com maior risco de fome ou fome.

O relatório pede às instituições financeiras internacionais que liberem financiamento para os países mais vulneráveis, ajudem os governos dos países em desenvolvimento a investir nos mais pobres e vulneráveis, ​​aumentando a proteção social, e trabalhem para reformar o sistema financeiro global para que as desigualdades sejam reduzidas.

De acordo com a publicação, os apelos humanitários devem ser totalmente financiados e uma grande reforma do sistema financeiro internacional é necessária para, nas palavras do secretário-geral da ONU, “puxar os países em desenvolvimento de volta do abismo financeiro”.

A crise, dependendo de como o mundo responder, também pode se tornar uma oportunidade para o planeta. O documento de recomendações reconhece que, no curto prazo, as reservas estratégicas de combustíveis fósseis precisam ser liberadas para estabilizar os preços e garantir suprimentos suficientes. No entanto, uma implantação acelerada de energia renovável ajudaria a garantir que os tipos de aumentos de preços de energia atualmente observados não se repitam no futuro, ao mesmo tempo em que acelera o progresso em direção a um futuro energético mais limpo e de baixo carbono.

Quando será lançado o próximo documento de recomendações? - O plano é que os documentos de recomendações do GCRG sejam divulgados semanalmente, às terças-feiras, mas o cronograma de publicação pode mudar, dependendo de como a guerra na Ucrânia se desenvolve.

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