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UNICEF promove ações de incentivo à medicina indígena em Roraima

25 outubro 2022

A potencialidade da medicina tradicional indígena foi tema de um seminário promovido em setembro deste ano pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Conselho Indígena de Roraima (CIR) para indígenas em Roraima.

Uma das participantes, a agente de saúde indígena Sandriele Barbosa, contou como o resgate dessas práticas tradicionais ajudou na resposta da sua comunidade à pandemia de COVID-19.

“Graças a Deus na nossa comunidade não houve nenhuma morte e nenhum caso grave”, revelou.

 

Com cinco filhos, Sandriele se divide entre a rotina atarefada de agente indígena de saúde e mãe de família.
Legenda: Com cinco filhos, Sandriele se divide entre a rotina atarefada de agente indígena de saúde e mãe de família.
Foto: © Amanda Panarini/UNICEF

Não foi muito antes da pandemia da COVID-19 chegar ao Brasil, em março de 2020, que Sandriele Barbosa, 27 anos, foi introduzida aos conhecimentos da medicina tradicional indígena. Em sua comunidade, assim como em muitas outras pelo Brasil, esse saber é muitas vezes preservado e praticado pelos mais velhos. Para ela, que é agente indígena de saúde (AIS) na comunidade Anta 1, na Terra Indígena Anta, em Roraima, isso não ocorreu por acaso.

“Acredito que tudo tem um propósito. Era porque eu tinha que fazer o bem para o futuro. Antes da pandemia, eu não entendia praticamente nada sobre medicamentos tradicionais”, afirma Sandriele, que foi despertada para o tema em capacitação do Distrito Sanitário Especial Indígena de Roraima (DSEI Leste), vinculado ao Ministério da Saúde.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) apoia as práticas integrativas e complementares (Pics) como tratamentos adicionais à medicina convencional. Tais práticas utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais.

Para fortalecer essas práticas de cuidado dos povos originários da Amazônia e mostrar toda a potencialidade da medicina tradicional indígena, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Conselho Indígena de Roraima (CIR) promoveram, em setembro deste ano, o Seminário de Conhecimentos e Saberes da Medicina Tradicional Indígena, que contou com a participação de sessenta indígenas das mais diversas regiões do estado de Roraima. 

Entre elas, Sandriele, que defende o papel essencial desses saberes na resposta das comunidades indígenas perante a COVID-19. “Graças a Deus na nossa comunidade não houve nenhuma morte e nenhum caso grave”, afirma. Segundo ela, cuidados como a quarentena, o isolamento e o fortalecimento da práticas tradicionais, além de posteriormente a vacina, permitiram que a comunidade Anta 1, onde vivem 35 famílias e 124 pessoas, não sofresse impactos graves como muitas comunidades indígenas no país, que registraram índices de mortalidade superiores à média nacional. Foi esse momento importante de fortalecimento dos vínculos comunitários que favoreceu, inclusive, a produção e o consumo dos remédios locais.

Com cinco filhos, Sandriele se divide entre a rotina atarefada de agente indígena de saúde e mãe de família. De manhã, cuida das crianças e, depois, vai ao posto de saúde da comunidade para trabalhar o restante do dia. No posto há uma horta especialmente plantada para o trabalho com a medicina tradicional. Quando o fluxo de pacientes está baixo, ela aproveita para cuidar dos remédios naturais.

Sara Tudo - Coordenadora do tema da medicina tradicional indígena na sua comunidade, Sandriele já tem motivos para se orgulhar. “Como sou muito jovem, ainda estou caminhando pelo tema, mas já temos uma grande conquista porque criamos o nosso xarope, que se chama Sara Tudo”, revela.

Vista como líder na comunidade para assuntos de saúde, ela comenta que fica muito feliz de compartilhar seus conhecimentos com outras mulheres, que em sua comunidade concentram o conhecimento sobre a medicina tradicional. A partir desse compartilhamento de saberes, iniciou-se a produção dos remédios naturais. Mas com dificuldades: o xarope indígena Sara Tudo conta com mais de 40 ingredientes. E além dos insumos necessários para sua fabricação, foi preciso encontrar embalagens e um local para armazenamento com a temperatura correta, não só do xarope, mas também das pomadas e demais produtos feitos na comunidade.

“Antes nós não tínhamos os insumos para fabricar o xarope, como mel, açúcar, óleos, além dos vasilhames e os frascos. Então a gente tinha de pegar os vidrinhos vazios de medicamentos ou outras embalagens, como refrigerante, para lavar, escaldar e higienizar antes de armazenar a medicina que produzíamos”, comenta Sandriele, lembrando o quanto conseguiram evoluir num curto espaço de tempo.

Parcerias - Com financiamento da União Europeia, por meio do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária (Echo, na sigla em inglês), o projeto busca mitigar os impactos primários e secundários deixados pela pandemia da COVID-19 em comunidades e territórios indígenas nos estados do Amazonas, Maranhão, Pará e Roraima. 

Para isso, firma parcerias entre organizações públicas e da sociedade civil para a melhoria da qualidade de vida dos povos indígenas para atingir resultados em várias frentes de ação: saúde, saneamento, água e higiene, saúde mental, nutrição, medicina tradicional e na capacitação de jovens comunicadores e multiplicadores para atuação comunitária.

Trata-se de uma iniciativa do UNICEF em parceria com a Agência Adventista de Desenvolvimento e de Recursos Assistenciais (Adra), o Conselho Indígena de Roraima (CIR), a Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa), o Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), a Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas (Makira-Êta), o Instituto Peabiru e o Projeto Saúde e Alegria.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa