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Metas climáticas precisam ser ambiciosas, alerta cientista brasileira

01 novembro 2022

Uma das autoras do novo “Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2022”, lançado na semana passada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a cientista brasileira Joana Portugal disse em entrevista à ONU NEWS que os países precisam se comprometer com metas mais ambiciosas para frear a catástrofe climática. 

 

As poluições química, atmosférica e sonora podem ter grandes efeitos no bem-estar das pessoas, assim como a atual crise climática.
Legenda: As poluições química, atmosférica e sonora podem ter grandes efeitos no bem-estar das pessoas.
Foto: © Chris LeBoutillier/Unsplash

Coautora do “Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2022”, lançado na semana passada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a professora de Planejamento Energético na Universidade Federal do Rio de Janeiro, Joana Portugal afirmou que existe uma grande discrepância entre o que os países estão prometendo fazer para reverter a crise climática e o que realmente é necessário. 

Em entrevista à ONU News, a cientista defendeu que os líderes mundiais devem aproveitar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP27), que acontece esse mês em Sharm el-Sheikh, Egito, para assumirem metas climáticas mais ambiciosas. 

Confira a entrevista na íntegra: 

Do ano passado para cá algo mudou no cenário global de emissões de gases estufa?

O “Relatório de Lacunas de Emissões”, editado e coordenado pelo PNUMA todos os anos, compara as emissões e as metas políticas que todos os países se comprometem no contexto das COP,  as denominadas Contribuições Nacionalmente Determinadas. O relatório avalia a diferença entre o que os países estão propostos a implementar para reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa e o que seria necessário para cumprir de fato o Acordo de Paris. Mais uma vez, esse ano, no relatório nós temos uma grande discrepância. Do ano passado para cá nós temos uma redução de emissão de menos de uma gigatonelada, um bilhão de toneladas de CO2 equivalente, o que é um pouco frustrante. 

O relatório entra na questão de grupos de países que deveriam estar fazendo mais?

Infelizmente, todos os países deveriam estar fazendo mais. Não tem bom aluno aqui. O que mostramos no relatório é que temos que reduzir 50% das emissões na próxima década para mudar o cenário climático esperado no final do século. Em face da crise energética que estamos vivendo neste momento na Europa, alguns Estados-membros atrasaram as medidas ambiciosas que tinham anunciado, sobretudo diante do inverno severo. No Brasil, as Contribuições Nacionalmente Determinadas propostas em 2015 e ratificadas em 2016, propunham uma meta de emissão CO2 em 2030 de 1,2 bilhões de toneladas. Este valor foi revisto em em 2020 aumentando para 1,62 bilhões de toneladas. Agora, na COP27, a proposta é de 1,28 bilhões, ainda bem acima do que foi proposto em 2015. 

E quais seriam os impactos para a humanidade dessa lenta redução?

Assumindo que nós congelamos as metas anunciadas antes da COP27 e que as manteríamos assim, até o final do século o aquecimento global estaria na ordem de 2,8 a 3 graus Celsius acima de níveis pré-industriais. Agora, nós estamos praticamente beirando o nível de um 1,5 grau e em todo o planeta já sofremos os impactos de eventos extremos. Com um aumento da temperatura ainda maior teremos impactos irreversíveis, cuja dimensão ainda não se sabe. A ciência não tem essa resposta para dar.

Joana Portugal Pereira é coautora do Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2021.
Legenda: Joana Portugal Pereira é coautora do Relatório sobre a Lacuna de Emissões 2021.
Foto: © Arquivo pessoal.

Esse relatório todo ano traz uma novidade. Qual é a desse ano?

Esse ano nós trabalhamos muito a fundo a questão de segurança e sistemas alimentares, bem como as condições necessárias para aumentarmos a ambição climática, levando em consideração a capacidade tecnológica, fundos financeiros e investimento em tecnologias de baixo carbono. Sobre sistemas alimentares, nós na verdade avaliamos qual a contribuição das nossas dietas e dos nossos sistemas agrícola e pecuário para mudança climática. Averiguamos também quais são as estratégias que podem reduzir a contribuição destes setores para a crise no clima e quais são as mudanças comportamentais necessárias, como por exemplo a redução de consumo de alimentos hiper carbônicos majoritariamente de origem animal. Avaliamos como podemos garantir simultaneamente uma sustentabilidade climática e de saúde pública, refletindo sobre como melhorar nossas dietas.

Baseado nesse relatório, o que devemos esperar dos líderes mundiais na COP27?

Esse relatório é um insumo essencial para apoiar políticos e tomadores de decisão. Ou seja, nós avaliamos que o que está neste momento posto em cima da mesa, a redução de emissões e ambição das partes, não é suficiente para cumprir o acordo que foi ratificado e assinado por esses países em 2015. Então é essencial e se espera que na COP27 todas as partes, principalmente os países do G20, que são os maiores contribuidores para a emissão de gases de efeito estufa, na verdade, aumentem a sua ambição implementem estratégias de baixo carbono em seus próprios países.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

PNUMA
Programa das nações Unidas para o Meio Ambiente

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa