25 anos da independência de Timor-Leste
Coletiva de imprensa do secretário-geral da ONU, António Guterres, com o presidente do Timor-Leste, José Ramos Horta, em Díli, em 27 de agosto de 2024.
Senhor Presidente,
José Ramos-Horta, um defensor da paz. Aliás, é justamente um Prémio Nobel da Paz e é uma honra para mim estar aqui hoje ao seu lado.
Jamais esquecerei as muitas horas em que trabalhámos juntos nos tempos da resistência e antes e depois do referendo. Os telefonemas a altas horas da noite, de madrugada, as longas e profundas conversas. As viagens de Vossa Excelência pelo mundo, recusando-se a desistir e defendendo a causa do povo timorense inspiraram líderes em toda a parte.
E sou particularmente grato ter tido a utilidade de dar uma contribuição e apoio aos incansáveis esforços desenvolvidos por Vossa Excelência.
Considero-o um amigo, o que muito me honra.
Senhoras e Senhores,
O lema de Timor-Leste é, e cito, “Unidade, Ação, Progresso”.
Este lema é um verdadeiro reflexo do vosso percurso enquanto país e uma inspiração para o caminho a seguir.
Em primeiro lugar, unidade.
O aniversário da Consulta Popular apela à unidade na celebração do vosso passado coletivo, na homenagem aos que superaram as diferenças convergindo na resistência e na homenagem aos que sonharam com a independência, mas já não estão entre nós.
A restauração da independência não foi o fim.
Foi um novo começo que exigiu unidade e determinação para superar os desafios e obstáculos com que a nação timorense se deparava no momento da edificação de um do Estado e de um novo país.
Hoje, menos de uma geração depois, estou aqui como testemunha de uma nação que se soube afirmar e que prevaleceu.
Uma nação em paz e em harmonia com os seus vizinhos.
Uma democracia consolidada, fundamentada no respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.
Em segundo lugar, ação.
Nos 25 anos que decorreram desde a consulta popular, Timor-Leste foi tomando medidas consistentes e movendo montanhas para criar uma sociedade que responda às necessidades e aspirações do povo timorense.
O vosso país pode não ter um território extenso, mas tem sido capaz de enfrentar alguns dos maiores desafios do nosso tempo.
Timor-Leste tem feito progressos impressionantes na construção de uma sociedade democrática e na promoção de um desenvolvimento centrado nas pessoas, expandindo a educação de qualidade, especialmente nas zonas rurais, investindo deliberadamente para alcançar o acesso universal à eletricidade, combatendo a insegurança alimentar, e hoje o Senhor Presidente acaba de nos afirmar que esta é uma prioridade essencial do novo governo, a desigualdade de gênero, o desemprego jovem e melhorando o acesso a cuidados de saúde.
Peço-vos que também demonstrem igual ambição no que respeita à ação climática.
Pois estão na linha da frente da crise climática que ameaça a própria sobrevivência de muitos Estados insulares e costeiros.
Em todo o Pacífico, o caos climático está atingindo aqueles que menos fizeram para o causar.
E este é o momento de agir contra as alterações climáticas e de reforçar as medidas de proteção do povo timorense face à intensificação dos desastres climáticos.
Mas Timor-Leste não pode estar só neste esforço.
A comunidade internacional tem a obrigação de vos apoiar – nomeadamente através de um ambicioso resultado na COP29 deste ano, em matéria de apoios financeiros, e de duplicação do financiamento para a adaptação para pelo menos 40 mil milhões de dólares até 2025, em cada ano.
Precisamos urgentemente de um estímulo financeiro aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que aumente os recursos destinados a esse mesmo desenvolvimento em países como Timor-Leste.
Em terceiro lugar, progresso.
A primeira vez que visitei Timor-Leste foi em 2000, enquanto primeiro-ministro de Portugal.
E desde então, o país demonstrou empenho em atingir novos e mais ambiciosos patamares de desenvolvimento e a melhorar progressivamente a vida do povo timorense.
Hoje, Timor-Leste é um membro ativo e de pleno direito da comunidade internacional.
Alcançou importantes progressos em matéria de resiliência económica e aderiu à Organização Mundial do Comércio no início deste ano.
E trabalha para se tornar um membro de pleno direito da ASEAN – com o total apoio das Nações Unidas.
A determinação em contribuir para progressos que beneficiem a comunidade mundial no sue todo constitui um timbre da atitude timorense.
Ainda agora tive a ocasião de verificar o forte empenho do Senhor Presidente da República em relação à procura de uma solução para a tragédia em Myanmar
Mas o progresso não é apenas uma questão de ambição pois depende e muito de instituições e estruturas internacionais.
Em setembro, na Cúpula do Futuro, os países serão chamados a forjar um novo consenso global sobre a forma como cooperamos e enfrentamos os nossos maiores desafios.
As propostas que estão em cima da mesa tornarão mais eficaz e inclusiva a tomada de decisões globais, assegurando mais espaço para os países em desenvolvimento.
Lanço o desafio para que a voz de Timor-Leste se faça ouvir na Cúpula pois o mundo tem muito a aprender com Timor-Leste e com a sua experiência.
Senhor Presidente e caros amigos,
As Nações Unidas e o povo timorense estiveram lado a lado no momento em que o país assumia nas suas próprias mãos a construção do seu destino.
As Nações Unidas continuarão a apoiar as aspirações do povo timorense na caminhada que tem pela frente.
Desejo os maiores sucessos ao povo de Timor-Leste e muito obrigado.
Para saber mais, acompanhe a cobertura completa da ONU News em português: https://news.un.org/pt/story/2024/08/1836721