FAO e Brasil impulsionam debate sobre papel das cidades na transformação dos sistemas alimentares
04 novembro 2025
No Dia Mundial das Cidades, marcado em 31 de outubro, o Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO promoveu o webinar “Cidades que Alimentam o Futuro” para compartilhar iniciativas bem-sucedidas na promoção do direito humano à alimentação adequada nas cidades.
O encontro reuniu representantes de governos nacionais, subnacionais e locais, além de organizações da sociedade civil e especialistas da FAO, com o propósito de trocar experiências, inovações e marcos estratégicos voltados ao fortalecimento da sustentabilidade, da segurança alimentar e da resiliência dos territórios urbanos e periurbanos da região.
Com o objetivo de refletir sobre como tornar as cidades espaços mais habitáveis, inclusivos, resilientes e sustentáveis — a partir do fortalecimento do vínculo entre o campo e a cidade — e em comemoração ao Dia Mundial das Cidades, foi realizado o webinar “Cidades que Alimentam o Futuro: Inovações para Sistemas Agroalimentares Urbanos Sustentáveis”, na última sexta-feira (31/10).
O evento foi organizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), por meio da área de Sistemas Alimentares Urbanos Sustentáveis, em conjunto com a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE) e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), no âmbito do projeto regional Sistemas Agroalimentares Urbanos, do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO.
Segundo estimativas da CEPAL, a população da América Latina alcançou 663 milhões de pessoas em 2024, consolidando uma tendência contínua de urbanização que redefine as dinâmicas territoriais, produtivas e de consumo. “Nesse contexto, os sistemas agroalimentares enfrentam o desafio de garantir uma alimentação acessível, saudável e sustentável, integrando critérios de eficiência produtiva, inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental”, explicou o oficial de Políticas da FAO para Sistemas Alimentares, João Intini.
O encontro reuniu representantes de governos nacionais, subnacionais e locais, além de organizações da sociedade civil e especialistas da FAO, com o propósito de trocar experiências, inovações e marcos estratégicos voltados ao fortalecimento da sustentabilidade, da segurança alimentar e da resiliência dos territórios urbanos e periurbanos da região.
A analista de projetos da ABC/MRE Mariana Falcão destacou a importância do evento como uma ampliação da aliança entre o Brasil e a FAO para conectar as políticas urbanas e rurais, fortalecendo as instituições públicas responsáveis pelo abastecimento e comercialização de alimentos. “Reúne experiências e ideias que também impulsionam o futuro em espaços de inovação, diálogo e formulação de políticas”, afirmou Mariana.
O oficial Principal de Políticas em Desenvolvimento Rural e Coordenador da área programática Um Melhor Ambiente da FAO para a América Latina e o Caribe, Luiz Beduschi, destacou: “A transformação dos sistemas agroalimentares no contínuo urbano-rural é essencial para alcançar a segurança alimentar, a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento inclusivo, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e as prioridades de ação regional. Só assim poderemos avançar rumo a um melhor meio ambiente, garantindo o caminho para uma melhor produção, uma melhor nutrição e uma vida melhor, sem deixar ninguém para trás.”
Por sua vez, a Coordenadora de Sistemas Agroalimentares Urbanos da Divisão de Sistemas Agroalimentares e Segurança Alimentar da FAO, Isis Núñez Ferrera, apresentou a mais recente publicação da Organização sobre a transformação dos sistemas agroalimentares a partir de uma abordagem sistêmica, considerando mudanças estruturais desde a produção até o consumo e o pós-consumo. “Transformar os sistemas agroalimentares urbanos não é algo abstrato: é governar o solo, os alimentos e o bem-estar de formas que permitam criar cidades mais justas, mais verdes e resilientes”, afirmou.
Iniciativas bem-sucedidas: rumo à transformação dos sistemas agroalimentares
Durante o evento, foram destacadas experiências em planejamento alimentar urbano, agricultura urbana e periurbana, e gestão sustentável dos sistemas de distribuição e comercialização, evidenciando o papel crescente das cidades na transformação dos sistemas agroalimentares.
A Prefeitura de Curridabat, na Costa Rica, apresentou a iniciativa municipal “Cidade Doce”, que integra natureza, bem-estar e participação cidadã, promovendo a biodiversidade urbana e a conexão entre pessoas, comunidades e ecossistemas. Também foi compartilhada a experiência dos 12 hortos comunitários que o município mantém desde 2017 — alguns com enfoque terapêutico, outros econômico e produtivo — todos com o objetivo de reconectar as pessoas em ambientes urbanos.
Do Brasil, foi apresentada a experiência da cidade de Osasco, que vem avançando no fortalecimento de políticas locais para a sustentabilidade urbana, integrando o planejamento territorial com ações de segurança alimentar, como o Banco de Alimentos, que beneficia semanalmente mais de 21 mil pessoas.
A diretora do Departamento de Promoção da Alimentação Adequada e Saudável da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN) do MDS, Patrícia Gentil, compartilhou boas práticas de políticas públicas brasileiras voltadas a garantir a alimentação saudável de populações vulneráveis — políticas que, em 2025, contribuíram para retirar o país do Mapa da Fome. Uma delas é a estratégia Alimenta Cidades. “A fome urbana é diferente da fome rural: é marcada pelo acesso, pela distribuição, pela logística, pelo preço, pelo debate sobre o abastecimento nas cidades e pela conexão rural-urbana”, destacou.
Do Chile, representantes do Ministério da Economia, Fomento e Turismo (MINECON) comentaram sobre o projeto de lei para o fortalecimento das feiras livres. Atualmente, existem cerca de 1.300 feiras no país, que empregam mais de 300 mil pessoas.
Outra experiência chilena destacada foi a de Cerro Navia, que apresentou a iniciativa pioneira do primeiro banco de alimentos municipal do país, implementado no final de 2019. Esse trabalho inspirou outros municípios e, na semana passada, foi inaugurado o segundo banco público de alimentos, em Cerrillos.
Na Colômbia, no distrito de Tumaco, a iniciativa Colatina resgata resíduos pesqueiros para transformá-los em recursos, impulsionando a economia circular com inovação social. O que antes era descarte — escamas e vísceras devolvidas ao mar — hoje gera um novo produto que evita o desperdício e valoriza o trabalho dos processadores de pescado.
No Peru, destacou-se o trabalho da Rede de Panelas Comuns de Pachacámac, que organiza redes comunitárias para garantir o acesso a alimentos em contextos de vulnerabilidade, ressaltando o protagonismo das mulheres na gestão e sustentabilidade dessas ações. Essa iniciativa assegura que 1.300 pessoas se alimentem todos os dias.
O Instituto Comida do Amanhã, do Brasil, apresentou informações sobre a iniciativa LUPPA, um laboratório urbano de políticas públicas alimentares que se tornou uma referência regional e global em governança dos sistemas alimentares urbanos.
Rede CISA
Na América Latina e Caribe, 66 cidades de 10 países participam da Rede de Cidades Intermediárias e Sistemas Alimentares (Rede CISA), com apoio técnico da FAO. Essa rede facilita a cooperação e o intercâmbio de conhecimentos sobre a governança dos sistemas agroalimentares entre autoridades e equipes municipais.
As cidades intermediárias que integram a Rede CISA representam atualmente cerca de 20% da população da região e atuam como uma ponte entre as zonas rurais produtoras e as grandes metrópoles, garantindo nós estratégicos de distribuição alimentar.
Para saber mais, siga @FAOBrasilCoop nas redes e visite a página do Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO: https://www.fao.org/in-action/programa-brasil-fao/pt/
Vídeo comemorativo Dia Mundial das Cidades: