ACNUR: Deslocamentos relacionados ao clima são mais que o dobro dos provocados por conflitos
23 abril 2021
- No dia em que se celebrou o Dia da Terra, a agência da ONU para Refugiados publicou dados mostrando como os desastres ligados às mudanças climáticas provavelmente pioram a pobreza, a fome e o acesso aos recursos naturais, alimentando a instabilidade e a violência.
- “Do Afeganistão à América Central, secas, inundações e outros eventos climáticos extremos estão atingindo aqueles menos equipados para se recuperar e se adaptar”, disse o ACNUR, que pede aos países que trabalhem juntos para combater a mudança climática e mitigar seu impacto sobre centenas de milhões de pessoas.
- Desde 2010, as emergências climáticas obrigaram cerca de 21,5 milhões de pessoas a se mudarem em média por ano
Crises relacionadas ao clima provocaram mais do que o dobro de deslocamentos do que conflitos e violência na última década, disse o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) na quinta-feira (22).
No dia em que se celebrou o Dia da Terra, a agência da ONU para Refugiados publicou dados mostrando como os desastres ligados às mudanças climáticas provavelmente pioram a pobreza, a fome e o acesso aos recursos naturais, alimentando a instabilidade e a violência.
“Do Afeganistão à América Central, secas, inundações e outros eventos climáticos extremos estão atingindo aqueles menos equipados para se recuperar e se adaptar”, disse o ACNUR, que pede aos países que trabalhem juntos para combater a mudança climática e mitigar seu impacto sobre centenas de milhões de pessoas.
Desde 2010, as emergências climáticas obrigaram cerca de 21,5 milhões de pessoas a se mudarem em média por ano.
Países de origem mais atingidos - O ACNUR informou que cerca de 90% dos refugiados vêm de países que são os mais vulneráveis e menos preparados para se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. Esses países também hospedam cerca de 70% das pessoas deslocadas internamente por conflito ou violência.
Citando o caso do Afeganistão, o ACNUR observou que o país é um dos mais propensos a desastres do mundo. Quase todas as suas 34 províncias foram atingidas por pelo menos um desastre nos últimos 30 anos.
O país também é classificado como o menos pacífico do mundo, devido ao conflito de longa data que matou e feriu milhares de pessoas e deixou milhões de desabrigados.
Inundações e seca - Inundações e secas recorrentes, aliados ao crescimento populacional, aumentaram a insegurança alimentar e a escassez de água e reduziram as chances de refugiados e deslocados internos poderem retornar às suas áreas de origem, afirmou a agência da ONU.
Segundo o ACNUR, 16,9 milhões de afegãos - quase metade da população do país - não tinham comida suficiente no primeiro trimestre de 2021, incluindo pelo menos 5,5 milhões enfrentando níveis emergenciais de privação alimentar.
Em meados de 2020, mais de 2,6 milhões de afegãos foram deslocados internamente e outros 2,7 milhões viviam como refugiados registrados em outros países, principalmente Paquistão e Irã.
Moçambique também está passando por uma confluência semelhante de conflito e desastres múltiplos, diz a agência. O país africano enfrenta um ciclone após o outro em sua região central, enquanto aumenta a violência e turbulência ao norte, deslocando centenas de milhares de pessoas.
Anfitriões também atingidos - Muitos dos países mais expostos aos impactos das mudanças climáticas já abrigam um grande número de refugiados e deslocados internos.
Em Bangladesh, mais de 870.000 refugiados Rohingya, que fugiram da violência em Mianmar, estão agora expostos a ciclones e inundações cada vez mais frequentes e intensos.
“Precisamos investir agora na preparação para mitigar as necessidades futuras de proteção e evitar mais deslocamentos causados pelo clima”, disse o alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, no início deste ano.