História
11 novembro 2025
Nações Unidas e COP30 mobilizam Mutirão Global contra o Calor Extremo
Liderado pela presidência brasileira da COP30, o Mutirão Global contra o Calor Extremo é uma mobilização internacional para proteger as pessoas, as cidades e o planeta das consequências devastadoras de ondas de calor cada vez mais intensas e frequentes. O ano de 2024 entrou para a história — e não pelos motivos de que gostaríamos. Foi o ano mais quente já registrado no planeta. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), pela primeira vez, a temperatura média da superfície da Terra ficou 1,55°C acima dos níveis pré-industriais, ultrapassando o limite de 1,5°C definido pelo Acordo de Paris. E o mais alarmante: não foi um evento isolado. A última década também foi a mais quente desde que há registros.As consequências estão em toda parte. Ondas de calor que antes eram raras agora se tornaram frequentes. Elas colocam em risco a saúde das pessoas, ameaçam a segurança alimentar, danificam infraestruturas urbanas e tornam o trabalho ao ar livre cada vez mais perigoso. Nas cidades, onde o concreto e o asfalto retêm o calor, os impactos recaem de forma desigual — afetando sobretudo idosos, crianças e moradores das periferias urbanas.Diante dessa realidade, surge também um movimento de união. Em junho de 2025, a Presidência brasileira da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30), em parceria com a Cool Coalition do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), lançou o Mutirão Global contra o Calor Extremo — uma mobilização internacional para transformar preocupação em ação concreta. A iniciativa é parte estratégica da COP30, que acontece de 10 a 21 de novembro em Belém do Pará. Seu objetivo é acelerar soluções locais para o calor extremo e promover o resfriamento sustentável, fortalecendo a resiliência das cidades frente à crise climática.“(Beat the Heat) é uma dessas iniciativas que mostra que o mutirão funciona, ou seja, as pessoas têm que se juntar e trabalhar naquilo que elas entendem. E o Beat The Heat é isso. Levantou um tema de uma maneira atraente e que vai trazer as pessoas para realizar o esforço que a gente tem que fazer pra combater a mudança do clima”, disse o Embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30.Entre os compromissos do Mutirão estão:Avaliar a vulnerabilidade ao calor urbano e integrar soluções aos planos climáticos municipais;Implementar projetos de resfriamento passivo e soluções baseadas na natureza;Adotar tecnologias eficientes de resfriamento em prédios públicos;Promover códigos de construção e energia que aumentem a resiliência urbana.No Brasil, o Mutirão está inserido no Programa Cidades Verdes Resilientes, uma iniciativa do Governo Federal coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ministério das Cidades e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O programa busca dar visibilidade a soluções inovadoras de resfriamento sustentável, mapear iniciativas que precisam de apoio técnico ou financeiro e impulsionar ações locais alinhadas às metas climáticas nacionais e ao Compromisso Global pelo Resfriamento Sustentável - uma iniciativa da COP28 que visa reduzir as emissões relacionadas com a refrigeração em 68% até 2050, aumentar significativamente o acesso à refrigeração sustentável até 2030 e aumentar a eficiência média global dos novos aparelhos de ar condicionado em 50%. Países, cidades, parceiros técnicos e organizações estão convidados a participarDiante do avanço do calor extremo, não há tempo a perder. A adesão ao Mutirão está aberta a todos os países, sejam ou não signatários do Compromisso Global de Resfriamento. Cada governo é convidado a indicar ao menos uma cidade para participar — e municípios, parceiros técnicos e organizações locais também podem se inscrever diretamente. Os interessados devem preencher o formulário disponível na página da iniciativa. A transformação começa em cada cidade, em cada bairro, em cada iniciativa. ONU trabalha para mitigar os impactos do calor extremo em todo o BrasilDas cidades amazônicas às capitais do sudeste, o aumento das temperaturas transforma rotinas, desafia os serviços públicos e ameaça vidas. Em resposta a esta situação, agências, fundos e programas da ONU estão unindo forças para apoiar soluções concretas que ajudem o país a se adaptar e resistir ao calor extremo.No coração da Amazônia, o município de Barcarena (PA) é um exemplo dessa transformação. Ali, o calor deixou de ser apenas um incômodo para se tornar um risco diário. As temperaturas mais altas afetam o trabalho, a saúde e o descanso das famílias. Profissionais de saúde relatam um aumento de casos de desidratação, doenças de pele e crises respiratórias. À noite, o calor sufocante impede o sono; durante o dia, atividades simples se tornam um desafio. Apesar dos desafios, Barcarena também se tornou símbolo de resiliência e está entre os signatários do Compromisso Global pelo Resfriamento. O município é parte da iniciativa Construindo Cidades Resilientes, do Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR) — uma rede global que apoia governos locais na prevenção e adaptação aos riscos climáticos. Em 2023, Barcarena foi reconhecida como o primeiro Hub de Resiliência da Amazônia, um marco histórico para a região. A cidade vem implementando políticas públicas alinhadas à Agenda 2030 e ao Marco de Sendai, fortalecendo sua capacidade de enfrentar eventos extremos, desde enchentes até ondas de calor.A pouco mais de 100 quilômetros dali, na Ilha de Caratateua, vive João Victor, de 16 anos. O calor na escola, os incêndios que ameaçam as casas e as chuvas torrenciais que alagam as ruas fazem parte de sua rotina. Mas João transformou a dor em propósito.Conhecido como João do Clima, ele se tornou Conselheiro Jovem do UNICEF Brasil, representando a juventude amazônica em espaços nacionais e internacionais. Sua luta é por justiça climática — pelos rios, pelas florestas e pelas pessoas que, como sua mãe, perderam a vida em meio às desigualdades e aos impactos ambientais. Sua história ecoa o grito de uma geração que enfrenta, na pele, a desigualdade e a crise ambiental. Enquanto histórias como a de João se multiplicam pelo país, a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) trabalha lado a lado com o Ministério da Saúde para preparar o sistema de saúde brasileiro frente às emergências provocadas pelo calor extremo. O trabalho inclui oficinas técnicas com secretarias estaduais e municipais de saúde, planos de contingência e a incorporação do evento de “exposição ao calor extremo” (EHF) nos sistemas de vigilância.A OPAS/OMS também tem apoiado a elaboração de diretrizes nacionais e o desenvolvimento de evidências científicas que fortalecem os sistemas de alerta e resposta às ondas de calor, promovendo uma abordagem integrada para proteger as pessoas mais vulneráveis.O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) também atua para integrar a perspectiva de gênero, a saúde sexual e reprodutiva e a igualdade de gênero nas políticas e debates sobre mudança climática. A agência tem liderado pesquisas e ações que evidenciam como eventos extremos — como ondas de calor — impactam de forma desproporcional a saúde e os direitos de mulheres e meninas, especialmente gestantes. Um estudo, desenvolvido em parceria com a Agenda Teresina 2030, mostra que a exposição prolongada ao calor intenso aumenta os riscos de complicações na gravidez, como parto prematuro e pré-eclâmpsia. Além da produção de evidências, o Fundo tem promovido advocacy global e nacional por meio de iniciativas como o Chamado à Ação de Brasília, que demanda mais financiamento climático direcionado a mulheres e meninas e a inclusão da saúde sexual e reprodutiva nos planos de ação climática, incluindo a COP30.Do Pará ao Planalto Central, das comunidades ribeirinhas às grandes cidades, o país aquece — mas também reage. Essas iniciativas — da resiliência urbana à saúde pública, passando pela mobilização da juventude — mostram que enfrentar o calor extremo no Brasil exige mais do que adaptação: exige um Mutirão, colaboração, conhecimento e coragem para transformar o futuro.Para saber mais, siga @onubrasil nas redes e visite a página especial da ONU Brasil sobre a COP30.