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Crimes do ISIL contra yazidis constituem genocídio, conclui investigação

12 maio 2021

  • Uma equipe da ONU que investiga as atrocidades do ISIL no Iraque apresentou seu relato ao Conselho de Segurança da ONU na segunda-feira (11).
  • Eles finalizaram resumos iniciais de casos em duas prioridades principais: ataques contra a comunidade yazidis na região de Sinjar, no norte do Iraque, e o assassinato em massa de cadetes desarmados e trabalhadores militares na Academia Aérea de Tikrit, em junho de 2014.
  • As equipes da ONU no Iraque reuniram uma “montanha” de informações, incluindo testemunhos, evidências forenses de campos com valas e dados digitais extraídos dos discos rígidos do ISIL.
  • “Posso anunciar que com base em investigações independentes e imparciais, cumprindo os padrões internacionais e as melhores práticas da ONU, há evidências claras e convincentes de que os crimes contra o povo yazidi claramente constituíram genocídio”, disse o chefe da investigação. 
  • O relatório abre via para julgamento do ISIL por crimes internacionais.
a ativista yazidi e Prêmio Nobel da Paz, Nadia Murad.
Legenda: A ativista yazidi e Prêmio Nobel da Paz, Nadia Murad, foi uma das mulheres sequestradas pelo ISIL e apresentou seu relatou ao Conselho de Segurança.
Foto: © Manuel Elias/ONU News

Uma equipe da ONU que investiga as atrocidades do ISIL, também conhecido como Daesh, no Iraque estabeleceu "evidências claras e convincentes" de genocídio contra a minoria religiosa yazidis. O grupo apresentou seu informe final ao Conselho de Segurança na segunda-feira (10).

O conselheiro especial e chefe da equipe (conhecida pela sigla em inglês, UNITAD), Karim Khan, relatou aos embaixadores que os investigadores alcançaram um “momento marcante” em seu trabalho.

Eles finalizaram resumos iniciais de casos em duas prioridades principais: ataques contra a comunidade yazidis na região de Sinjar, no norte do Iraque, e o assassinato em massa de cadetes desarmados e trabalhadores militares na Academia Aérea de Tikrit, em junho de 2014.

“Posso anunciar que com base em investigações independentes e imparciais, cumprindo os padrões internacionais e as melhores práticas da ONU, há evidências claras e convincentes de que os crimes contra o povo yazidi claramente constituíram genocídio”, disse ele. 

“Converta-se ou morra” - Khan lembrou que os crimes cometidos pelo ISIL, também conhecido como Daesh, “chocaram a consciência da humanidade”, conforme manifestado pelo ultimato do grupo para se converter ou morrer.

“A extensão total da criminalidade do ISIL é exibida nos terríveis crimes do Daesh contra a comunidade yazidi”, disse ele. “Execuções, escravidão e escravidão sexual. Crimes contra crianças que são horríveis, realmente gelam a alma e fazem você se perguntar como essas coisas poderiam acontecer. Ainda assim, eles foram cometidos”. 

A UNITAD apoiou a devolução dos restos mortais de mais de 100 yazidis recuperados em nove sepulturas coletivas na aldeia de Kojo.  

A vencedora do Prêmio Nobel da Paz, Nadia Murad, que foi sequestrada pelo grupo terrorista, também esteve presente na reunião e disse aos embaixadores que seu povo havia experimentado as piores atrocidades conhecidas pela humanidade. 

“Nunca esquecerei a dor nos olhos de minha mãe quando ela percebeu que seus filhos haviam sido executados, sem saber que enfrentaria o mesmo destino”, disse Murad.  

“Ainda posso sentir as mãos da minha sobrinha sendo arrancadas das minhas enquanto éramos separadas e colocadas em ônibus como gado. Ainda posso calcular o que meu corpo valia para aqueles que o compraram e venderam”, relatou.

Capacidade de armas químicas - A brutalidade do ISIL afetou todas as comunidades no Iraque, como o incidente na Academia Aérea de Tikrit mostrou. Os cadetes, principalmente os muçulmanos xiitas, foram levados e muitos foram massacrados. Um vídeo de propaganda do ISIL de seu assassinato é uma evidência clara do crime de incitação direta e pública para cometer genocídio, de acordo com Khan. 

“Nem é preciso olhar para o conteúdo do vídeo, embora tenhamos feito isso e tenhamos especialistas em linguagem para analisar”, afirmou. “Mas é pelo título do vídeo que o Daesh lhe atribuiu: Mate-os onde quer que os encontre”. 

As investigações também revelaram a “capacidade demonstrada” do ISIL para fabricar e utilizar armas químicas e biológicas. Os indícios confirmam o uso de armamentos em laboratórios da Universidade de Mossul, controlados pelo grupo terrorista em 2014.  

O ISIL atraiu combatentes da região e do exterior. Valendo-se da experiência de cientistas e profissionais médicos em seus postos, inicialmente, a meta seria a transformação do cloro de usinas de tratamento de água e, posteriormente, o desenvolvimento de compostos tóxicos letais, incluindo tálio e nicotina, que eram testados em prisioneiros causando a morte.  

Em 2016, um sistema de produção de mostarda de enxofre foi implantado pelo ISIL por meio do lançamento de 40 foguetes na cidade xiita de Taza Khurmatu. 

Crimes devem ser julgados - Khan deixará a UNITAD em breve e no próximo mês assume o cargo de procurador no Tribunal Penal Internacional.

As equipes da ONU no Iraque reuniram uma “montanha” de informações, incluindo testemunhos, evidências forenses de campos com valas e dados digitais extraídos dos discos rígidos do ISIL. Os investigadores também concluíram um resumo inicial do caso identificando indivíduos e empresas que forneceram serviços financeiros ao grupo.

Enquanto isso, o trabalho continua para garantir que “nenhuma vítima, nenhum filho da humanidade, seja deixada para trás”, disse Khan, apontando para o progresso em torno dos crimes contra os sunitas, xiitas, cristãos e outras comunidades.

Ele enfatizou, no entanto, que não era suficiente simplesmente documentar os crimes do ISIL e que a UNITAD continua a apoiar o desenvolvimento de uma legislação que permitirá que os membros do grupo terrorista sejam julgados.

“A legislação, claro, é necessária para garantir que o Iraque tenha a arquitetura legal em vigor para processar essa hemorragia da alma humana: não como crimes comuns de terrorismo, por mais hediondos que sejam, mas como atos de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra", disse.

O investigador disse que o progresso na ação definiu uma via para levar membros do ISIL a julgamento por crimes internacionais no Iraque. Segundo o relatório, as ações podem começar já em 2022.  

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

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