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Relatório da ONU revela que violações contra crianças em zonas de conflito estão “alarmantemente altas”

22 junho 2021

  • Conflitos armados continuam a ter um efeito devastador em crianças. É o que revela o relatório anual sobre Crianças e Conflitos Armados (CAAC), publicado pela ONU.
  • No último ano, mais de 19.300 meninos e meninas afetados pela guerra foram vítimas de graves violações, como recrutamento ou estupro. Além disso, a pandemia da COVID-19 dificultou o acesso de especialistas a eles.
  • Os pesquisadores relataram um "crescimento exponencial" nos sequestros, que aumentou em 90% no ano passado. O estupro e outras formas de violência sexual também aumentaram 70%.
  • “As guerras de adultos tiraram a infância de milhões de meninos e meninas mais uma vez em 2020" , disse a representante do secretário-especial para o tema, Virginia Gamba
Duas crianças em meio a escombros olham para o bairro de Al Gamalia, na cidade de Taiz.
Legenda: Duas crianças, que voltaram para casa recentemente depois que eles e sua família fugiram dos conflitos em 2017, olham para o bairro de Al Gamalia, na cidade de Taiz.
Foto: © Giles Clarke/OCHA

Na segunda-feira (21) foi publicado o relatório anual sobre Crianças e Conflitos Armados (CAAC), que apontou a alta alarmante em violações graves contra crianças em áreas de conflito. Os índices que tiveram aumento incluem durante a pandemia: a vulnerabilidade, os sequestros, o recrutamento, a violência sexual e os araques a escolas.

“Uma infância roubada” -  Medidas para conter a propagação do coronavírus também complicaram o trabalho dos monitores e especialistas em proteção infantil da ONU, de acordo com o relatório intitulado “Uma infância roubada e um futuro a reparar: vulnerabilidade de meninas e meninos em conflito armado exacerbado pela pandemia de COVID-19”

“As guerras de adultos tiraram a infância de milhões de meninos e meninas mais uma vez em 2020. Isso é completamente devastador para eles, mas também para todas as comunidades em que vivem e destrói as chances de uma paz sustentável”, 

Virginia Gamba, representante especial do secretário-geral na CAAC

Recrutamento e uso, bem como assassinato e mutilação de crianças, foram as violações mais prevalentes em 2020, seguidas pela negação de acesso humanitário e sequestro, disse o relatório.

Sequestros e outros ataques - Mais de 8.400 jovens foram mortos ou mutilados nas guerras em curso no Afeganistão, Síria, Iêmen e Somália. Outros quase 7.000 outros foram recrutados e usados ​​em combates, principalmente na República Democrática do Congo, Somália, Síria e Mianmar.

Os pesquisadores relataram um "crescimento exponencial" nos sequestros, que aumentou em 90% no ano passado. O estupro e outras formas de violência sexual também aumentaram 70%. 

Enquanto isso, os ataques a escolas e hospitais “permaneceram excessivamente altos”. Isto incluiu graves ataques cometidos contra a educação de meninas e contra instalações e pessoal de saúde. Houve também um aumento no uso militar de escolas, uma vez que o fechamento temporário de escolas durante a pandemia as tornou alvos fáceis para ocupação e uso militar. 

O relatório revelou ainda que as meninas representam um quarto de todas as crianças vítimas de violações graves. Eles também foram afetados principalmente por estupro e outras formas de violência sexual, compreendendo 98% das vítimas, seguidos de assassinato e mutilação.

“Se meninos e meninas vivenciam o conflito de maneira diferente e requerem intervenções para melhor atender às suas necessidades específicas, o que os dados também mostram é que o conflito não se diferencia com base no gênero”, afirmou Gamba.

Progressos e compromissos - Apesar das estatísticas preocupantes, o relatório também detalha o progresso tangível nos diálogos com as partes em conflito no Afeganistão, República Centro-Africana, Nigéria, Filipinas, Sudão do Sul e Síria.   

Cerca de 35 novos compromissos ou outros compromissos foram alcançados no ano passado para melhor proteger as crianças, incluindo dois novos planos de ação assinados em Mianmar e no Sudão do Sul.

Além disso, grupos e forças armadas libertaram mais de 12.643 crianças de suas fileiras após o engajamento da ONU. Muitos outros meninos e meninas foram poupados do recrutamento devido a processos de seleção por idade em situações em que a ONU tem planos de ação com governos para parar o recrutamento e uso de crianças.

O relatório afirmou, no entanto, esse progresso aconteceu ao mesmo tempo que as capacidades de proteção às crianças em campo estão sobrecarregadas e subfinanciadas.  

'Dê uma alternativa' -  Gamba elogiou as equipes que trabalham em campo durante a pandemia e em ambientes desafiadores.

Ela ressaltou a necessidade de garantir recursos para a proteção das crianças em um momento de extremo sofrimento para elas, dados os muitos retrocessos nos processos democráticos no início deste ano e o aumento da violência entre as partes em conflito.

“Esta é uma oportunidade de parar e refletir sobre o sofrimento que estamos causando aos nossos filhos, que são o nosso futuro”, disse a representante especial da ONU.

“Precisamos dar às crianças uma alternativa à violência e ao abuso: precisamos de paz, respeito pelos direitos da criança e democracia. Precisamos de esperança na boa governança. Precisamos agir para construir um futuro onde a paz prevaleça. Por favor, dê essa alternativa às crianças”, concluiu Gamba.

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