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Estudo joga luz sobre violências cotidianas sofridas por adolescentes na Grande São Paulo

06 julho 2021

  • O Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, em parceria técnica com a Rede Conhecimento Social e apoio do UNICEF, ouviu mais de 700 adolescentes sobre violências e abusos cotidianos.
  • São várias as experiências de violência marcando o cotidiano dos adolescentes. De forma extrema, um em cada cinco entrevistados indica ter perdido alguém próximo, de até 19 anos, vítima de homicídio.
  • Oito em cada dez adolescentes consultados indicam ter visto pelo menos uma situação de violência contra adolescentes na escola; três em cada dez, nos serviços de saúde; e um em cada dez, nos serviços de assistência social.
  • O estudo confirma que ser adolescente negro, mulher ou LGBTQIA+ intensifica ainda mais a vivência de violências na Grande São Paulo. 
  • Ao todo 25% das mulheres e 37% dos entrevistados que se identificam como LGBTQIA+ reportam já ter sofrido violência sexual. Entre os homens, o número corresponde a 8%.
Legenda: Abuso sexual, agressão física, bullying, racismo e LGBTfobia são violações conhecidas por muitos das(os) adolescentes
Foto: © Pixabay

Múltiplas violências, em múltiplos ambientes, fazem parte da vida cotidiana de adolescentes e jovens da Grande São Paulo. A grave situação é apontada por 747 adolescentes e jovens, entre 12 e 19 anos, moradores da Região Metropolitana de São Paulo, ouvidos no período de janeiro a fevereiro de 2021. Lançada nesta semana, a escuta “Violências no cotidiano de adolescentes na Grande São Paulo” foi realizada por iniciativa do Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CPPHA) em parceria técnica com a Rede Conhecimento Social e apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). O material completo pode ser acessado aqui.

Violência em números - O estudo revela que as violências contra as(os) adolescentes se repetem nos mais diversos ambientes da vida diária – incluindo aqueles que deveriam ser espaços de proteção. Oito em cada dez adolescentes consultados indicam ter visto pelo menos uma situação de violência contra adolescentes na escola; três em cada dez, nos serviços de saúde; e um em cada dez, nos serviços de assistência social. A própria casa foi indicada por três de cada dez adolescentes ouvidos. Já viram violência contra adolescentes na internet e nas ruas cerca de nove entre cada dez entrevistados.

São várias as experiências de violência marcando o cotidiano dos adolescentes. De forma extrema, um em cada cinco entrevistados indica ter perdido alguém próximo, de até 19 anos, vítima de homicídio. Abuso sexual, agressão física, bullying, racismo e LGBTfobia são violações conhecidas por muitos das(os) adolescentes.

“O homicídio é muitas vezes o desfecho extremo de uma série de violências e violações de direitos. Não podemos deixar as múltiplas violências paralisarem os jovens, fazendo com que eles deixem de se desenvolver e de aproveitar oportunidades. Estar na escola ou acessar um serviço de saúde ou assistência deveria ser sempre sinônimo de proteção. Se não é, precisamos urgentemente mudar isso”, afirma a deputada estadual Marina Helou (Rede), que preside o CPPHA.

Racismo e violência de gênero - O estudo confirma que ser adolescente negro, mulher ou LGBTQIA+ intensifica ainda mais a vivência de violências na Grande São Paulo. Ao todo 25% das mulheres e 37% dos entrevistados que se identificam como LGBTQIA+ reportam já ter sofrido violência sexual. Entre os homens, o número corresponde a 8%. Ao mesmo tempo, 40% dos respondentes LGBTQIA+ apontam ter sido vítimas de agressão verbal de alguém da família.

O recorte racial, por sua vez, deixa claro o quanto a vida pública é mais violenta para adolescentes negros: 36% dos jovens respondentes que se declaram pretos dizem já ter sido seguidos ou abordados no supermercado, algo que só 11% dos respondentes brancos relata. Ao todo, 57% dos respondentes que se declaram pretos reportam já ter sofrido racismo. O racismo também marca a relação com os agentes de segurança pública. Nos primeiros dois meses de 2021, 10% dos respondentes negros foram abordados pela polícia, duas vezes e meia mais do que entre os respondentes brancos.

“É essencial reconhecer que adolescentes negros, mulheres, LGBTQIA+ são sistematicamente mais afetados pelas violências cotidianas. Precisamos ouvir com atenção os próprios adolescentes e avançar em políticas concretas para superar o racismo estrutural e a violência baseada em gênero. Precisamos construir cidades que protegem e dão oportunidades a cada adolescente”, alerta Adriana Alvarenga, chefe do escritório do UNICEF em São Paulo.

Poder da escuta - A escuta foi realizada de forma inovadora para subsidiar o trabalho do Comitê e de seus parceiros na prevenção da violência letal contra adolescentes, amplificando a voz dos jovens sobre sua própria situação. Foi usada a metodologia PerguntAção, que promove a construção participativa de todas as etapas de uma pesquisa, por meio de oficinas práticas, trazendo o próprio público pesquisado como coautor dessa produção de conhecimento.

“É muito potente ter os adolescentes não só como consultados, mas também como pesquisadores dessa temática, trabalhando conosco desde o planejamento até a análise dos resultados. É um processo que dialoga diretamente com um dos dados mais marcantes dessa escuta: 91% dos adolescentes concordam que, apesar de ser um assunto chato, é preciso falar sobre a violência que os afeta duramente; ou seja, adolescentes têm necessidade de falar sobre o tema, querem e precisam se ouvir uns aos outros e ser mais ouvidos”, afirma Marisa Villi, diretora executiva da Rede Conhecimento Social.

Busca de soluções - Para além de reportar as violências, os adolescentes e jovens ouvidos pela consulta apontam soluções. Para 43%, é necessário investir mais em campanhas contra o racismo e 37% defendem campanhas pela igualdade de gênero, questões que se refletem nas diversas formas de violência. O acesso a oportunidades também é essencial para os jovens para a prevenção das violências. 19% afirmam ser importante a oferta de vagas de emprego para áreas periféricas e não somente nas regiões centrais e 34% defendem a criação de espaços para que os adolescentes possam se reconhecer e apresentar suas ideias.

A partir dessas soluções apontadas, torna-se possível um cotidiano com menos violências e mais propício para a construção de um futuro, pois 49% dos respondentes sonham em trabalhar com o que gostam. E, apesar do medo de não se inserir no mercado de trabalho (33%) ou não ter qualificação suficiente (21%), 92% dos adolescentes e jovens acreditam que vão realizar seus sonhos relativos à educação e ao trabalho.

Sobre o Comitê - O Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CPPHA) é uma iniciativa tripartite e suprapartidária que tem como partícipes a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Governo do Estado de São Paulo, representado pela Secretaria de Justiça e Cidadania, e que visa à prevenção da violência fatal de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos no estado de São Paulo.

Sobre a Rede Conhecimento Social - A Rede Conhecimento Social é uma organização sem fins lucrativos que concebe, planeja e implementa diferentes abordagens de construção de conhecimento por meio de colaboração, cocriação e compartilhamento de saberes, utilizando estratégias participativas e metodologias desenvolvidas pela multiplicidade de pessoas que compõem a rede. 

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa