Milhões são afetados pela mudança climática e por eventos extremos na América Latina e no Caribe
17 agosto 2021
- Liberado hoje, o novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) mostra que eventos climáticos extremos e mudanças de temperatura ameaçam toda a região, “desde as alturas dos picos andinos até as ilhas baixas e grandes bacias hidrográficas”.
- Em 2020, a América Latina e o Caribe experimentaram secas intensas, tempestades tropicais, ondas de calor severas, precipitação pesada, furacões devastadores e o aumento catastrófico de incêndios na floresta amazônica.
- O estudo toma como base a publicação liberada pelo IPCC no início do mês e fornece informações com base científica para apoiar países e comunidades em seus esforços para se adaptar e construir mais resiliência a condições climáticas extremas.
- De 1998 a 2020, eventos geofísicos e relacionados ao clima resultaram na perda de 312 mil vidas e afetaram diretamente mais de 277 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe, tratando-se de uma das regiões mais castigadas por esses eventos.
- O relatório também aponta para as consequências da perda florestal, intensificada nas últimas décadas. Entre 2000 e 2016, quase 55 milhões de hectares de floresta foram perdidos na região, constituindo mais de 91% das perdas florestais a nível mundial.
O novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) liberado hoje (17) mostrou que eventos geofísicos e relacionados ao clima resultaram em 312 mil mortes e afetaram diretamente mais de 277 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe.
Intitulado "Estado do Clima na América Latina e no Caribe 2020", o relatório é fruto da colaboração entre a OMM, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e o Escritório das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres (UNDRR). Ele complementa a publicação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), liberado no início do mês, que indicava que as temperaturas na região aumentaram mais do que a média global e é provável que continuem a crescer.
Eventos climáticos extremos e a mudança de temperatura ameaçam toda a região, “desde as alturas dos picos andinos até ilhas baixas e grandes bacias hidrográficas”, afirma o estudo. Aliados ao aumento de temperaturas médias, a mudança em padrões de precipitação, tempestades e o recuo das geleiras tiveram um impacto profundo na saúde humana, nos alimentos, na água, na segurança energética e no meio ambiente.
“A América Latina e o Caribe (LAC) estão entre as regiões mais desafiadas por eventos hidrometeorológicos extremos”, disse o secretário-geral da OMM, professor Petteri Taalas, em um comunicado para marcar o lançamento do documento.
Repercussões de longo alcance - Petteri Taalas observou que os impactos na região incluem “Escassez de água e energia, perdas agrícolas, deslocamento e saúde e segurança comprometidas, todos os desafios agravados da pandemia COVID-19”. O documento também levanta preocupações com incêndios e com a perda de florestas, que cobrem mais de metade do território da América Latina e Caribe, representando 57% das florestas primárias restantes no mundo e armazenando cerca de 104 gigatoneladas de carbono.
"Queimadas e desmatamento agora estão ameaçando o maior consumidor de carbono do mundo, com repercussões de longo alcance e tempo", o secretário-geral da OMM adicionou.
A perda de floresta é um fator que contribui para a mudança climática devido ao dióxido de carbono liberado. Entre 2000 e 2016, quase 55 milhões de hectares de floresta foram perdidos na América Latina e no Caribe, constituindo mais de 91% das perdas florestais a nível mundial.
O relatório alerta para o fato de que o aumento da incidência de queimadas em 2020 causou danos irreversíveis, incluindo impactos adversos a ecossistemas vitais, serviços e meios de subsistência que dependem deles. Embora ainda seja um consumidor líquido de carbono, a Amazônia está prestes a se tornar uma fonte líquida se a perda florestal continuar nas taxas atuais.
Aumento de temperatura - 2020 esteve entre os três anos mais quentes na América Central e no Caribe, e o segundo mais quente na América do Sul. A máxima de temperaturas em algumas regiões quebrou recordes com valores até 10 °C acima do normal.
Adicionalmente, a seca generalizada na América Latina e no Caribe teve impactos significativos, incluindo a redução dos níveis dos rios, observa o relatório. Isso prejudicou as rotas de navegação interior, reduziu o rendimento das safras e a produção de alimentos, levando ao agravamento da insegurança alimentar em muitas áreas.
Maré subindo - Em 2020, a temperatura na superfície do mar no Caribe atingiu um recorde de alta. O relatório da OMM mostra como a vida marinha, o ecossistema costeiro e as comunidades humanas que dependem dessas águas passam a encarar as ameaças decorrentes da acidificação do oceano, do calor e do aumento do nível do mar.
Na América Latina e no Caribe mais de 27% da população vive em áreas costeiras, sendo que 6 a 8% estão em áreas com risco alto ou altíssimo de serem afetadas por ameaças decorrentes do clima.
As geleiras, por sua vez, vêm recuando nas últimas décadas, e a perda de massa de gelo tem se acelerado desde 2010, alinhadas com o aumento das temperaturas sazonais e anuais e uma redução significativa da precipitação anual na região.
Pensando em soluções - Maior compromisso político e mais apoio financeiro para fortalecer os sistemas de alerta precoce e os serviços operacionais meteorológicos, climáticos e hidrológicos são identificados no relatório como formas de apoiar a gestão de risco e a adaptação. Esse tipo de investimento pode garantir sistemas de alerta precoces capazes de reduzir os riscos e os impactos desastrosos. No entanto, o estudo da OMM alerta que esses sistemas estão sub financiados na América Latina e no Caribe, principalmente na América do Sul e Central.
Os manguezais são apontados como um recurso excepcional para adaptação e mitigação, com capacidade de armazenar três a quatro vezes mais carbono do que a maioria das florestas do planeta. No entanto, o bioma decresceu 20% na região entre 2001 e 2018.
A conservação e restauração dos ecossistemas de “carbono azul” existentes, como manguezais, tapetes de ervas marinhas e pântanos salgados, é identificada como uma oportunidade importante para mitigar e se adaptar ao aquecimento global.
Acesse aqui para ler o comunicado de imprensa completo em inglês e em espanhol.