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Nações se mostram despreparadas diante do aumento do número de pessoas com demência

02 setembro 2021

  • “O mundo está falhando com as pessoas com demência e isso machuca a todos nós", disse o diretor da OMS, sobre a necessidade dos governos de renovar os compromissos de cuidado com o grupo.  
  • Apenas um quarto dos países em todo o mundo têm uma política, estratégia ou plano nacional para apoiar as pessoas com demência e suas famílias, de acordo com o relatório global da OMS.
  • Ao mesmo tempo, o número de pessoas que vivem com demência está crescendo: mais de 55 milhões de pessoas (8,1% das mulheres e 5,4% dos homens com mais de 65 anos) estão vivendo com demência. Estima-se que esse número aumente para 78 milhões em 2030 e 139 milhões em 2050.
  • Em 2019, o custo global da demência foi estimado em 1,3 trilhão de euros. O valor está projetado para aumentar para 1,7 trilhão até 2030, ou 2,8 trilhões, se corrigido para os aumentos nos custos de cuidados.
Legenda: A demência é uma das maiores causas de dependência entre pessoas mais velhas no mundo inteiro
Foto: © Cathy Greenblat/OMS

Apenas um quarto dos países em todo o mundo têm uma política, estratégia ou plano nacional para apoiar as pessoas com demência e suas famílias, de acordo com o relatório “Global status report on the public health response to dementia”, divulgado nesta quinta-feira (2) pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Metade desses países estão na região europeia da OMS, com o restante dividido entre as outras regiões. No entanto, mesmo na Europa, muitos planos estão expirando ou já expiraram, indicando a necessidade de um compromisso renovado dos governos.

Ao mesmo tempo, o número de pessoas que vivem com demência está crescendo, de acordo com o relatório: a OMS estima que mais de 55 milhões de pessoas (8,1% das mulheres e 5,4% dos homens com mais de 65 anos) estão vivendo com demência. Estima-se que esse número aumente para 78 milhões em 2030 e 139 milhões em 2050.

A demência é causada por uma variedade de doenças e lesões que afetam o cérebro, como doença de Alzheimer ou acidente vascular cerebral. Afeta a memória e outras funções cognitivas, bem como a capacidade de realizar tarefas diárias. 

A incapacidade associada à demência é um fator-chave dos custos relacionados à doença. Em 2019, o custo global da demência foi estimado em US$ 1,3 trilhão. O valor está projetado para aumentar para US$ 1,7 trilhão até 2030, ou US$ 2,8 trilhões, se corrigido para os aumentos nos custos de cuidados.

“A demência rouba a memória, independência e dignidade de milhões de pessoas, mas também rouba do resto de nós as pessoas que conhecemos e amamos”, declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. 

“O mundo está falhando com as pessoas com demência e isso machuca a todos nós. Quatro anos atrás, os governos concordaram com um conjunto claro de metas para melhorar o tratamento da demência. Mas as metas por si só não são suficientes. Precisamos de uma ação concertada para garantir que todas as pessoas com demência possam viver com o apoio e a dignidade que merecem.”

Inclusão dos países de baixa renda - O relatório destaca a necessidade urgente de fortalecer o apoio a nível nacional, tanto em termos de cuidados às pessoas com demência, como no apoio às pessoas que prestam esses cuidados, tanto em contextos formais como informais.

Os cuidados necessários para pessoas com demência incluem a atenção primária à saúde, cuidados especializados, serviços baseados na comunidade, reabilitação, cuidados de longo prazo e cuidados paliativos. 

Enquanto a maioria dos países (89%) que reportam ao Observatório Global de Demência da OMS dizem que fornecem alguns serviços de base comunitária para a demência, a oferta é maior em países de alta renda do que em países de baixa e média renda. Medicamentos para demência, produtos de higiene, tecnologias assistivas e ajustes domésticos também são mais acessíveis em países de alta renda, com um nível de reembolso maior, do que em países de baixa renda.

O tipo e o nível dos serviços prestados pelos setores de saúde e assistência social também determinam o nível de assistência informal, que é principalmente prestada por membros da família. Os cuidados informais respondem por cerca de metade do custo global da demência, enquanto os custos dos cuidados sociais representam mais de um terço. 

Em países de renda baixa e média, a maioria dos custos do tratamento da demência são atribuíveis aos cuidados informais (65%). Em países mais ricos, os custos informais e de assistência social chegam a aproximadamente 40% cada um.

Em 2019, os cuidadores gastavam em média cinco horas por dia dando apoio para a vida diária à pessoa de quem cuidavam com demência; 70% desse atendimento foi realizado por mulheres. Dado o estresse financeiro, social e psicológico enfrentado pelos cuidadores, o acesso à informação, treinamento e serviços, bem como o apoio social e financeiro, é particularmente importante. Atualmente, 75% dos países relatam que oferecem algum nível de apoio aos cuidadores, embora, novamente, estes sejam principalmente países de alta renda.

Esforços de coordenação - Uma série de ensaios clínicos malsucedidos para o tratamento da demência, combinada com os altos custos de pesquisa e desenvolvimento, levou ao declínio do interesse em novos esforços. No entanto, houve um aumento recente no financiamento de pesquisas sobre a condição, principalmente em países de alta renda, como Canadá, Reino Unido e Estados Unidos da América. Este último aumentou seu investimento anual na pesquisa da doença de Alzheimer de US$ 631 milhões em 2015 para uma estimativa de US$ 2,8 bilhões em 2020.

“Para ter uma melhor chance de sucesso, os esforços de pesquisa em demência precisam ter uma direção clara e ser mais bem coordenados”, afirmou Tarun Dua, Chefe da Unidade de Saúde do Cérebro da OMS. 

“E por isso a OMS está desenvolvendo o Projeto de Pesquisa de Demência, um mecanismo de coordenação global para fornecer estrutura aos esforços de pesquisa e estimular novas iniciativas.” Um foco importante dos esforços de pesquisa futura deve ser a inclusão de pessoas com demência e seus cuidadores e famílias. Atualmente, dois terços dos países que reportam ao Observatório Global de Demência envolvem pessoas com demência “raramente” ou nunca.

Campanhas de conscientização - Mais positivamente, os países em todas as regiões fizeram um bom progresso na implementação de campanhas de conscientização pública para melhorar a compreensão sobre a demência, com forte liderança da sociedade civil. Dois terços dos países que reportam ao Observatório realizaram campanhas de sensibilização. E dois terços tomaram medidas para melhorar a acessibilidade dos ambientes físicos e sociais para pessoas com demência e fornecer capacitação e educação para grupos populacionais fora do setor de saúde e assistência social, como voluntários, polícia, bombeiros e socorristas.

Mais sobre o relatório - O “Global status report on the public health response to dementia” faz um balanço do progresso feito até o momento em direção às metas globais de 2025 para a demência estabelecidas no 'Plano de Ação Global para a Demência' da OMS, publicado em 2017. 

O relatório usa dados das Estimativas Globais de Saúde da OMS 2019 e o estudo Global Burden of Disease 2019, bem como do Observatório Global de Demência da OMS (GDO). Até o momento, 62 países enviaram dados ao Observatório, 56% dos quais são de alta renda e 44% de baixa e média renda. Juntos, esses países representam 76% das pessoas com 60 anos ou mais. Os dados são incluídos em questões que vão desde políticas e diagnósticos nacionais, tratamento e cuidados, até apoio para cuidadores e pesquisa e inovação.

O trabalho da OMS no 'Plano de Ação Global para a Demência', incluindo o Observatório Global de Demência, foi apoiado pela Consumers, Health, Agriculture and Food Executive Agency (CHAFEA, uma agência executiva da União Europeia), os governos da Alemanha, Japão, Holanda, Suíça e Reino Unido e a Agência de Saúde Pública do Canadá.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

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