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Iêmen: milhões à beira da fome em 'maior crise humanitária do mundo'

23 setembro 2021

  • A crise no Iêmen, onde sete anos de guerra faz com que a fome ameace milhões, foi tema de um evento paralelo à semana de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU.
  • Na reunião, chefes de agências da ONU apresentaram a líderes mundiais um relato da situação da "maior crise humanitária do mundo". No país, cerca de 20 milhões de pessoas estão sendo afetadas pela crise, agravada pela pandemia de COVID-19.
  • Em áreas como Taiz e Marib, cinco milhões de pessoas estão passando fome, quatro milhões estão desabrigadas e dois terços da população depende de assistência humanitária para sobreviver.
  • Os representantes da ONU apelaram à comunidade internacional apoio em sua resposta à crise em três frentes: financiamento generoso à operação humanitária; respeito ao direito internacional humanitário e proteção aos civis; e resposta às causas de base da crise, incluindo restrições às importações, que elevam os preços de bens essenciais.
  • “No final do dia, a paz é o que fornecerá aos iemenitas a forma mais sustentável de alívio”, defendeu o coordenador de Ajuda Humanitária da ONU, Martin Griffiths.
crianças se alimentam com sua família
Legenda: O distrito de Maghrabah na província de Hajjah no Iêmen é um dos 11 distritos do país em que a fome preocupa
Foto: © Mohammed Awadh/WFP

Um evento paralelo de alto nível durante a 76ª Assembleia Geral da ONU discutiu, na quarta-feira (22), a crise no Iêmen, onde, após sete anos de guerra, milhares de pessoas foram deslocadas e milhões estão a um passo da fome. As atualizações na reunião "Iêmen: Respondendo às crises dentro da maior crise humanitária do mundo" foram feitas pelo coordenador de Ajuda Humanitária da ONU.

“A economia do país atingiu novos níveis de colapso, e uma terceira onda da pandemia está ameaçando derrubar o já frágil sistema de saúde do país”, relatou Martin Griffiths, chefe do Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

De acordo com agências da ONU, cerca de 20 milhões de pessoas estão sendo afetadas pela crise humanitária. Em áreas como Taiz e Marib, cinco milhões de pessoas estão passando fome, quatro milhões estão desabrigadas e dois terços da população depende de assistência humanitária para sobreviver. 

Griffiths ressaltou que os mais vulneráveis ​​sempre "arcam com o maior custo da crise". Mulheres têm maior probabilidade de passar fome, adoecer ou ficar expostas à violência de gênero e, com pouco acesso a serviços essenciais, milhões de deslocados internos enfrentam “uma luta diária pela sobrevivência”. 

Infâncias roubadas - As crianças também são particularmente afetadas pela violência. De acordo com o UNICEF, 1,7 milhão de jovens foram deslocados pelo conflito e 11,3 milhões de jovens dependem da assistência humanitária para sobreviver. Além disso, 2,3 milhões de menores de cinco anos estão “gravemente desnutridos”, dos quais quase 400.000 estão em “risco iminente de morte”.

“Ser criança no Iêmen significa que provavelmente você experimentou ou testemunhou uma violência horrível que nenhuma criança deveria enfrentar”, disse a diretora executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Henrietta Fore, na reunião. 

“O Iêmen é simplesmente um dos lugares mais difíceis do mundo para ser criança”, resumiu a chefe da UNICEF.

Milhões "marchando para a fome" - Em seu discurso, o chefe do Programa Mundial de Alimentos (WFP), David Beasley, disse que em uma nação de 30 milhões de pessoas, 12,9 milhões precisam de rações alimentares; enquanto 3,3 milhões de crianças e mulheres precisam de nutrição especial, junto com 1,6 milhão de crianças em idade escolar.

“Estamos literalmente olhando para 16 milhões de pessoas marchando para a fome”, alertou.

Com mil pessoas morrendo por semana por falta de comida e nutrição, o funcionário da ONU alertou que se 800 milhões de dólares não forem recebidos nos próximos seis meses pelo Programa, a necessidade de cortar as rações pode levar à morte de 400.000 crianças com menos de cinco no próximo ano.

“Temos a obrigação moral de nos manifestar e avançar”, afirmou, apelando aos líderes mundiais presentes para colocarem pressão sobre todas as partes para acabar com este conflito.

“Estes são nossos filhos; estes são nossos irmãos e irmãs, precisamos que os doadores ajudem imediatamente, caso contrário, crianças morrerão. Não vamos decepcioná-los. Vamos fazer o que precisamos fazer ”, concluiu Beasley.

Financiamento importante, mas insuficiente - Em um desenvolvimento positivo, o chefe do OCH deu crédito à comunidade internacional por intensificar o apoio à operação de ajuda humanitária no país. Agradecendo aos líderes mundiais, ele disse que o Plano de Resposta Humanitária do Iêmen está "entre os mais bem financiados", com 98% das promessas feitas em um evento em março cumpridas.

Com mais de 2 bilhões de dólares recebidos, a ONU e seus parceiros foram capazes de “prevenir a fome e tirar as pessoas da beira do desespero”, prestando assistência a “cada um dos 333 distritos do país”.

Apesar dessas importantes conquistas, Griffiths reconheceu que o trabalho está "longe de terminar", já que muitos setores ainda enfrentam "lacunas de financiamento alarmantes" e os setores humanitários estão trabalhando com menos de um quinto do dinheiro necessário para fornecer cuidados de saúde e saneamento, e abrigo.

Três pedidos - O chefe de assistência da ONU pediu aos líderes globais que continuem apoio em três frentes: financiamento generoso à operação humanitária do Iêmen; respeito ao direito internacional humanitário e proteção aos civis; e respostas às causas de base da crise, incluindo restrições às importações, que elevam os preços de bens essenciais.

Para Griffiths, é necessário fazer “tudo em nosso poder coletivo para parar esta guerra”. “No final do dia, a paz é o que fornecerá aos iemenitas a forma mais sustentável de alívio”, concluiu.

Apelo OIM - Um dia antes da reunião, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) também reforçou o pedido urgente e necessário das Nações Unidas por recursos que permitam que as organizações de ajuda continuem respondendo à maior crise humanitária do mundo.

A OIM vem apelando para que até o fim de 2021, um fundo de 170 milhões de dólares seja direcionado para atender às necessidades crescentes de comunidades de refugiados, pessoas afetadas por conflitos e migrantes no Iêmen. Até o momento, no entanto, apenas metade desses recursos foram recebidos. O Plano de Resposta Humanitária de 3,85 bilhões de dólares para o Iêmen também recebeu apenas metade do financiamento previsto.

“Sem financiamento adicional, organizações como a OIM podem não ter escolha a não ser reduzir drasticamente suas operações, o que deixaria dezenas de milhões de pessoas sem comida, água e cuidados de saúde necessários para a sobrevivência diária”, disse o vice-diretor geral de operações da OIM, Ugochi Florence Daniels.

No início deste ano, doadores se reuniram para apoiar milhões de crianças iemenitas e imigrantes, homens e mulheres que enfrentavam níveis alarmantes de desnutrição aguda e insegurança alimentar, enquanto a COVID-19 também ameaçava seu bem-estar e meios de subsistência. Contribuições generosas permitiram que organizações de ajuda como a OIM mantivessem suas operações e evitassem desastres.

Ainda assim, áreas críticas de resposta permanecem gravemente sub financiadas. As entidades de ajuda parceiras receberam menos de 10% do financiamento necessário para fornecer saúde, água e saneamento que salvam vidas de refugiados e imigrantes. 

“Agora é a hora de aumentar, não diminuir nossas intervenções que salvam vidas, se quisermos evitar o sofrimento e acompanhar as necessidades crescentes que foram agravadas pela pandemia”, disse Daniels. 

Operações em campo - Vidas podem ser mudadas quando há financiamento humanitário disponível. No ano passado, a OIM alcançou seis milhões de pessoas com assistência humanitária. Este ano, a organização já apoiou dois milhões de pessoas afetadas por conflitos e imigrantes com ajuda emergencial.

A OIM manteve operações de salvamento em locais como Marib, onde milhares estão fugindo dos combates. Em conformidade com a estratégia da organização de atuar em algumas das áreas mais carentes, a OIM também expandiu a ajuda à costa oeste do Iêmen. Em parceria com as autoridades do Iêmen e da Etiópia, a OIM relançou com sucesso seu programa de Retorno Humanitário Voluntário, ajudando mais de mil migrantes vulneráveis presos no Iêmen até agora este ano.

Segundo a agência, esses sucessos não teriam sido possíveis sem o apoio dos doadores, mas o financiamento está se esgotando rapidamente e os programas de salvamento estão sob risco de redução.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OIM
Organização Internacional para as Migrações
ONU
Organização das Nações Unidas
UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância
WFP
Programa Mundial de Alimentos

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa