'Podemos acabar com a pandemia': secretário-geral da ONU defende plano global de vacinas

O secretário-geral da ONU, António Guterres, reiterou o seu apelo por um plano global de vacinação contra a COVID-19, em uma cúpula sobre a pandemia, organizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden, na quarta-feira (22).

O chefe da ONU enfatizou que o plano, que inclui aumentar a produção e chegar a milhões nos próximos meses, em linha com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), "não é filantropia, mas interesse individual de todos".

“A segurança global da saúde falhou até agora, custando 4,5 milhões de vidas, e com as cifras aumentando. Temos vacinas eficazes contra a COVID-19. Podemos acabar com a pandemia ”, clamou o secretário-geral  num encontro online.

Na cúpula, que ocorreu em paralelo à Assembleia Geral da ONU, os EUA prometeram doar no próximo ano cerca de 500 milhões de doses a mais de vacinas da Pfizer-BioNtech para países em desenvolvimento, no que Biden chamou de um “arsenal de vacinas”. Com isso, o compromisso total dos EUA de doar doses superaria a marca de um bilhão.  

‘Mercado de vendas’ - Guterres também lamentou e destacou as desigualdades na distribuição de vacinas. Embora mais de 5,7 milhões de doses tenham sido administradas globalmente, 73% foram em apenas 10 países, e apenas 3% das pessoas na África receberam imunização.

As nações industriais líderes do G7 prometeram recentemente um bilhão de doses, mas isso representa uma fração do que é necessário e ainda não se materializou totalmente.

“Embora as vacinas tenham sido desenvolvidas com fundos públicos, a produção de vacinas se tornou uma indústria de 100 bilhões dólares, com países de renda média gastando centenas de milhões de dólares para imunizar seu povo em um mercado de vendas”, pontuou o secretário-geral. “Isso não é apenas decepcionante. É desconcertante.”

Plano de ação - O chefe da ONU continua pressionando pelo plano global de vacinação, na esperança de que a cúpula convocada pelos EUA seja “um passo nessa direção”. Seu plano prevê pelo menos dobrar a produção de vacinas para garantir que 2,3 bilhões de doses sejam distribuídas equitativamente por meio da iniciativa de solidariedade da vacinação, o mecanismo COVAX.

De acordo com Guterres, o plano pode ser implementado por uma equipe de emergência que trabalhará com empresas farmacêuticas para duplicar a produção de vacinas e garantir uma distribuição equitativa. O objetivo é atingir 40% da população mundial até o final deste ano e 70% no primeiro semestre de 2022, de acordo com as metas estabelecidas pela OMS. 

A associação incluiria países produtores de vacinas e aqueles com potencial de produção, bem como a OMS, parceiros do COVAX, instituições financeiras internacionais e a Organização Mundial do Comércio (OMC). 

“Isso é necessário para resolver os problemas de propriedade intelectual e os problemas de suporte técnico aos países que podem produzir vacinas, mas precisam ter certeza de que têm todas as garantias de segurança em sua produção”, explicou o secretário-geral sobre a parceria.

A próxima pandemia - Olhando para o futuro, o chefe da ONU também alertou que a próxima pandemia não pode ser gerenciada “com ferramentas criadas no passado”. Ele instou os países a usarem as recomendações feitas pelo Painel Independente para Preparação e Resposta à Pandemia como ponto de partida para reformas urgentes em busca de fortalecer a saúde global.   

O secretário-geral também defendeu o fortalecimento da Organização Mundial da Saúde deve ser fortalecida, que deve ter sua autoridade reforçada e um financiamento robusto "para que possa desempenhar um papel de liderança na coordenação da resposta a emergências”.

“A segurança e a preparação da saúde global devem ser fortalecidas por meio de um compromisso político sustentado e liderança no mais alto nível. Os países de renda baixa e média devem ser capazes de desenvolver e acessar tecnologias de saúde ”, insistiu Guterres, refletindo sobre a responsabilidade coletiva sobre gerenciamento de pandemias.