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Níveis catastróficos de insegurança alimentar preocupam ONU

06 outubro 2021

  • Há 41 milhões de pessoas no mundo hoje com risco de alcançarem níveis alarmantes de fome. Quase meio milhão de pessoas já estão submetidas a essas condições na Etiópia, Madagascar, Sudão do Sul e Iêmen.
  • A situação é resultado de uma combinação tóxica, envolvendo crise econômica, mudança climática, pandemia, e conflitos pelo mundo. 
  • Em evento de alto-nível sobre a fome, chefes de agências da ONU pediram por mais apoio para o fim da crise alimentar e lamentaram a falta de financiamento internacional governamental e privado.
  • A reunião buscou levantar 6,6 bilhões de dólares para apoiar os programas humanitários das agências da ONU.
mulher nigeriana segura criança no colo ao lado de fila do programa mundial de alimentos
Legenda: Milhares de mulheres deslocadas na Nigéria sofrem de fome e insegurança alimentar e dependem da ONU para sobreviver
Foto: © Simon Pierre Diouf/WPF

De acordo com agências da ONU o mundo enfrenta níveis catastróficos sem precedentes de insegurança alimentar aguda. Frente à crise alimentar as Nações Unidas convocaram na segunda-feira (4) um evento de alto nível para aumentar o apoio e ação internacional antes que seja tarde demais. As agências estimam que cerca de 6,6 bilhões de dólares são urgentemente necessários para apoiar 41 milhões de pessoas que correm o risco de ficarem famintas. 

Quase meio milhão de pessoas estão passando por condições semelhantes à fome (IPC fase 5, de acordo com a classificação oficial) na Etiópia, Madagascar, Sudão do Sul e Iêmen. Nos últimos meses, as populações vulneráveis ​​no Burkina Faso e na Nigéria também foram submetidas às mesmas condições.  

Além disso, 41 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam níveis emergenciais de insegurança alimentar (IPC 4) e estão à beira da fome. Isso representa um aumento de 50% em apenas dois anos. Outros milhões estão enfrentando níveis de crise de insegurança alimentar aguda (IPC 3) e correm risco real de rápida deterioração de sua qualidade de vida. 

Uma mistura tóxica - Abrindo o evento, o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, disse que “quando a fome finalmente abre a porta, ela se torna viral de uma forma que talvez não aconteça com outras ameaças”.  

Para o chefe de ajuda humanitária, a situação é resultado de “uma mistura tóxica de declínio econômico, mudança climática, COVID-19 e, claro, o mais importante, conflitos que impulsionam este terrível flagelo.” 

Griffiths destacou que, como ocorre em outras situações, mulheres e meninas são particularmente vulneráveis à fome. Ele lamentou ao refletir sobre as inúmeras adversidades que as mulheres enfrentam nesses contextos: “As mulheres nos relatam medidas desesperadas que devem tomar para encontrar comida para alimentar suas famílias, incluindo a troca de sexo por comida e o recurso ao casamento precoce e infantil, como ouvi quando estive na Síria recentemente”.

Operações humanitárias - O subsecretário-geral agradeceu doadores, dizendo que o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) conseguiu intensificar as operações humanitárias em países de alto risco, como Sudão do Sul, Etiópia, Burkina Faso e Iêmen, onde a ONU agência atinge atualmente 10 milhões de pessoas por mês.   

Griffiths advertiu em seu comunicado que é hora de redobrar os esforços e mostrar que o mundo pode coletivamente enfrentar este desafio, destacando a emergência da situação e insistindo que “ainda há tempo, mas não muito”. Precisamos fazer acontecer”, defendeu. 

Vontade política - O diretor-geral da Organização para a Alimentação e Agricultura da ONU (FAO), Qu Dongyu, também  falou no evento . Para ele, “a assistência alimentar e de subsistência deve ser dada em conjunto”.  

O chefe da FAO apontou algumas soluções e agradeceu o suporte recebido. Segundo ele, apoiar os sistemas agroalimentares e fornecer assistência de longo prazo abre o caminho para a recuperação, além da sobrevivência, e aumenta a resiliência. “Agradeço aos membros pelo apoio. Não há tempo a perder”, disse. 

O diretor executivo do Programa Mundial de Alimentos (WFP), David Beasley, destacou a necessidade de repassar a mensagem, defendendo que os líderes mundiais responderão quando souberem qual é a realidade atual da crise alimentar no mundo. 

Uma vergonha - O chefe do WFP também destacou que há 400 trilhões de dólares de riqueza no mundo hoje e, no auge da pandemia da COVID-19, os bilionários tiveram em média um aumento de patrimônio líquido de 5,2 bilhões de dólares por dia.

Beasley lamentou “o fato de estarmos implorando por 6,6 bilhões de dólares para salvar 41 milhões de pessoas, evitar que as nações se desestabilizem e impedir a migração em massa, mesmo com tanta riqueza disponível”.

“Não consigo entender o que há no mundo,” completou ele se referindo a falta generosidade de detentores de grandes fortunas frente à situação. “É uma pena que estejamos tendo essa conversa”, concluiu.

Em março, no Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu uma resposta rápida e coordenada. 

Na ocasião, o chefe da ONU também criou  um Grupo de Trabalho de Alto Nível sobre a Prevenção da Fome  para chamar a atenção e mobilizar apoio para os países mais afetados.   

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

FAO
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
OCHA
Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários
WFP
Programa Mundial de Alimentos

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa