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Pessoas de baixa renda levam de quatro a cinco gerações para romper com a pobreza

21 outubro 2021

O especialista independente e relator do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Olivier De Schutter, indicou à Assembleia Geral da ONU como romper o ciclo da pobreza no mundo e apresentou dados alarmantes sobre a temática. 

Dados no relatório do especialista indicam que os 10% mais ricos controlam 52% da riqueza líquida total, enquanto os 60% mais pobres possuem pouco mais de 12%. Para superar a pobreza e atingir a renda média de seus respectivos países, pessoas de baixa renda levam de quatro a cinco gerações. Em países emergentes, como Brasil, Colômbia e África do Sul, a expectativa é ainda maior, podendo levar até nove gerações ou mais.

De Shutter é relator especial do Conselho desde 2020. Seu cargo é honorário e ele não é funcionário da ONU nem é pago pela organização

Legenda: Crianças nascidas em famílias em situação de pobreza têm três vezes mais probabilidade de ser pobres aos 30 anos do que aquelas que nunca foram pobres
Foto: © Marcel Crozet/OIT

Embora a pobreza e o privilégio “continuem a se reproduzir em ciclos viciosos”, é possível quebrá-los e mudar o paradigma, disse um especialista independente em direitos humanos da ONU à Assembleia Geral, na quarta-feira (20). 

Apresentando o relatório A persistência da pobreza: como a igualdade real pode quebrar o ciclo vicioso, o relator especial sobre pobreza extrema e direitos humanos, Olivier De Shutter, disse que “com vontade política”, é possível acabar com séculos de desigualdade enraizada e “transformar o que supostamente era destino em oportunidade”.  

Investimento inicial - “Investir na primeira infância, promover a educação inclusiva, dar aos jovens adultos uma renda básica financiada por impostos sobre herança e combater a discriminação contra os pobres são os ingredientes-chave necessários para quebrar os ciclos de vantagens e desvantagens”, disse De Shutter em seu comunicado.   

Reconhecendo que muitos países se orgulham de garantir altos níveis de mobilidade social, o especialista em direitos humanos afirmou que “a verdade é que a persistência de privilégios no topo e a privação na base são muito comuns”.

“Os 10% mais ricos que vivem nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Econômico (OCDE) controlam 52% da riqueza líquida total, enquanto os 60% mais pobres possuem pouco mais de 12%, condenando os pobres a uma vida inteira de pobreza”, disse ele. De acordo com o relatório, baseado em dados de países que fazem parte da OCDE, leva de quatro a cinco gerações para que as crianças de famílias de baixa renda atinjam a renda média de seu país. Em países emergentes, como Brasil, Colômbia e África do Sul, pode levar até nove ou mais.   

Resistência com o tempo - Observando que as crianças nascidas em famílias desfavorecidas não tinham oportunidades iguais, o especialista examinou os canais pelos quais a pobreza é perpetuada, como nas áreas de saúde, habitação, educação e emprego.  

“As crianças nascidas em famílias pobres têm menos acesso a cuidados de saúde, habitação adequada, educação de qualidade e emprego do que aquelas em agregados familiares com melhores condições", disse De Shutter, lamentando que: "Isto reduz drasticamente as suas hipóteses de se libertarem da armadilha da pobreza".   

Descrevendo os resultados como “terríveis”, o relator acrescentou que as crianças nascidas em famílias em situação de pobreza têm três vezes mais probabilidade de ser pobres aos 30 anos do que aquelas que nunca foram pobres. 

O custo da pobreza - O relator independente também lembrou que a pobreza infantil não é apenas “moralmente injusta e uma violação dos direitos humanos”, mas também é cara. “Nos Estados Unidos, a pobreza infantil custa mais de um trilhão de dólares por ano, ou 5,4% do PIB, mas para cada dólar investido para reduzi-la, seriam economizados sete dólares”, insistiu o especialista.  

Acabando com o mito de que a desigualdade é um incentivo que encoraja as pessoas a trabalharem mais, De Shutter disse que os fatos apontam exatamente para o oposto: “A desigualdade reduz a mobilidade social e reforça vantagens e desvantagens ao longo de décadas. Fetichizar o mérito é estigmatizar os pobres ou de baixa renda e os culpar por sua condição”.    

Chamado para ação - Salientando que “nenhuma criança deve ser penalizada por nascer na pobreza”, e afirmando que, de fato, “a pobreza é um fracasso não do indivíduo, mas da sociedade ”, De Shutter exortou os governos a agirem agora, “antes que outra geração seja condenada ao mesmo destino de seus pais”.   

De Shutter foi nomeado relator especial da ONU sobre pobreza extrema e direitos humanos pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU em 1º de maio de 2020.  

Ele e todos os Relatores Especiais têm a tarefa de examinar e relatar um tema específico de direitos humanos ou a situação de um país. Os cargos são honorários e os especialistas não são funcionários da ONU nem pagos por seu trabalho. 

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Outras entidades envolvidas nesta iniciativa

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