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COP26 está ameaçada, alerta Guterres aos países desenvolvidos

29 outubro 2021

Sem muito compromisso de países desenvolvidos, a Conferência Climática das Nações Unidas (COP26) está ameaçada. É o que apontou o secretário-geral da ONU, António Guterres, pouco antes da Cúpula do G20 das principais nações industrializadas em Roma, na Itália.

Segundo o chefe da organização, o atual comprometimento dos países ainda condenam o mundo a um aumento “calamitoso” de 2,7º C da temperatura global. 

Para limitar a temperatura a 1,5º C e garantir um planeta habitável, o chefe da ONU indicou que ações concretas imediatas são necessárias para reduzir as emissões globais em 45% até 2030. Guterres também defendeu que, já que os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões, eles devem arcar com a responsabilidade de manter vivas as metas climáticas do Acordo de Paris.

Enquanto as economias avançadas estão investindo quase 28% de seu PIB na recuperação econômica pandêmica, as nações de renda média podem dedicar apenas 6,5%. Os estados menos desenvolvidos, por sua vez, investem menos de 2%. Guterres alertou para disparidade, argumentando que a desigualdade aumenta os níveis de desconfiança e dificulta a ação climática integrada.

Legenda: Secretário-geral da ONU, António Guterres
Foto: © Nações Unidas

Há um “sério risco” de que a Conferência Climática da ONU (COP26) em Glasgow, na Escócia, “não dê certo”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, a jornalistas na sexta-feira (29) em Roma, pouco antes da Cúpula do G20 das principais nações industrializadas.

O secretário-geral advertiu que as atuais Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), compromissos formais do governo para ações climáticas progressivamente ambiciosas, ainda condenam o mundo a um aumento “calamitoso” de 2,7º da temperatura global.

“Mesmo que as promessas recentes sejam claras e confiáveis, e haja sérias dúvidas sobre algumas delas, ainda estamos caminhando para uma catástrofe climática”, lamentou Guterres.

Mais ambição e ação - Na melhor das hipóteses, as temperaturas vão subir bem acima de dois graus, o que ele definiu como “um desastre”. “Se queremos sucesso real… precisamos de mais ambição e mais ação”, insistiu a autoridade da ONU. Ele acrescentou que isso só será possível com uma “mobilização massiva” de vontade política que exige confiança, que inserida em meio a “sérias questões de credibilidade”, é “escassa”.

Guterres ainda disse que havia “níveis perigosos de desconfiança” entre o bloco do G20 e entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, incluindo economias emergentes. “O objetivo mais importante desta Cúpula do G20 deve ser restabelecer a confiança - combatendo as principais fontes de desconfiança - enraizada nas injustiças, desigualdades e divisões geopolíticas”, destacou.

Ponte de confiança - O secretário-geral apelou ao G20 para medidas decisivas para “preencher a lacuna de confiança”, começando com a desigualdade da vacina.

Por causa de divisões, ele disse que um plano de vacinação COVID-19 liderado pelo G20 nunca se materializou, uma vez que “a ação coordenada global ficou em segundo plano”, no que diz respeito à acumulação de vacinas e ao nacionalismo.

O secretário-geral da ONU fez coro à Organização Mundial da Saúde (OMS) no apoio à nova Estratégia Global de Vacinação contra a COVID-19 para obter 40% das pessoas em todos os países vacinados até o final do ano e 70% até meados de 2022.

“Exorto os países do G20 a apoiar totalmente esta estratégia e coordenar suas ações para o sucesso”, clamou ele apontando que: “Essa é a única maneira de acabar com a pandemia para todos, em todos os lugares ”.

Muita desigualdade - Enquanto as economias avançadas estão investindo quase 28% de seu Produto Interno Bruto (PIB) na recuperação econômica pandêmica, as nações de renda média podem dedicar apenas 6,5%. Os estados menos desenvolvidos, por sua vez, investem menos de 2%. Guterres acusou essa disparidade, e argumentou que a desigualdade aumenta os níveis de desconfiança.

Chamando de “imoral”, ele observou que a gestão atual da “recuperação [da pandemia] amplifica desigualdades”.

Enquanto isso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que, nos próximos cinco anos, o crescimento econômico cumulativo per capita na África Subsaariana ficará 75% inferior ao resto do mundo.

“Os países não devem ser forçados a escolher entre a dívida ou o seu povo ”, disse o chefe da ONU, instando o G20 a estender a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida para o próximo ano e disponibilizá-la a todos os países altamente endividados vulneráveis ​​e de renda média que a solicitam.

Ambição climática de todos - A confiança também está sendo prejudicada pela falta de ação climática, afirmou ele, pedindo maior ambição na mitigação para colocar o mundo em um caminho confiável para 1,5º - uma meta que a ciência afirma ser o único futuro sustentável para o planeta. Isso requer ações concretas agora para reduzir as emissões globais em 45% até 2030, apontou o secretário-geral, observando que como eles representam cerca de 80% das emissões, os países do G20 devem arcar com a responsabilidade de manter viva a meta de 1,5º.

No entanto, as economias emergentes também devem “dar um passo a mais” para alcançar reduções de emissões globais eficazes nesta década, indica o chefe da ONU.

“Precisamos de ambição máxima, de todos os países em todas as frentes ”, argumentou Guterres. “Ambição de adaptação significa doadores... alocando pelo menos metade de seu financiamento climático para adaptação e resiliência”.

Clamor financeiro - A ambição no financiamento do clima inclui cumprir o compromisso de fornecer 100 bilhões de dólares anualmente aos países em desenvolvimento. Em meio a atrasos e sem garantias claras, o chefe da ONU disse que a mensagem aos países em desenvolvimento é essencialmente: “O cheque está no correio”.

“Em todos os nossos objetivos climáticos, temos quilômetros pela frente. E devemos acelerar o ritmo. Os cientistas têm clareza sobre os fatos. Os líderes devem ser claros em suas ações ”, afirmou. Por fim, o secretário-geral apontou que Glasgow, onde a COP26 começa oficialmente no domingo (31), pode ser “uma curva para um mundo mais seguro e verde”, e concluiu, dizendo: “Não é tarde demais. Mas temos que agir agora”.

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