'Dia da Energia' na COP26 é marcado por pedidos para o fim do uso de carvão, gás e óleo
05 novembro 2021
O 'dia da energia' na COP26 foi uma das principais sessões temáticas da cúpula do clima da ONU. No principal encontro do dia foi anunciada a nova Declaração de Transição do Carvão Global para Energia Limpa.
O acordo conta com 77 signatários, incluindo 46 países como a Polônia, Vietnã e Chile, 23 dos quais estão se comprometendo com o fim do carvão pela primeira vez. Ele prevê o fim dos investimentos em carvão, a expansão da energia limpa, e uma transição justa e eliminar o combustível fóssil até a década de 2030 nas maiores economias do mundo, e até a década de 2040 nos outros países.
Infelizmente, a declaração deixa de fora os maiores financiadores de carvão: China, Japão e Coreia do Sul. Contudo, esses países se comprometeram, ano passado, a encerrar seus financiamentos internacionais na produção de carvão até final deste ano.
Apesar de acharem os compromissos encorajadores, as organizações da sociedade civil não se satisfizeram. A representante especial do secretário-geral da ONU para Energia Sustentável Para Todos também pediu por mais atitude e lembrou que o setor de energia é responsável por dois terços das emissões de gases de efeito estufa.
Na quinta-feira (04), começou o debate de um assunto chave para a Conferência do Clima das Nações Unidas: energia. O evento estava cercado de ativistas do lado de fora dos portões que pediam aos países para que pusessem fim à dependência de carvão, gás e óleo. O 'dia da energia' na COP26 foi uma das principais sessões temáticas da cúpula do clima da ONU.
Compromissos com o carvão - O principal encontro do dia iniciou com o anúncio da nova Declaração de Transição do Carvão Global para Energia Limpa por parte do presidente da conferência, Alok Sharma.
A Declaração é um compromisso de acabar com os investimentos em carvão, expandir a energia limpa, fazer uma transição justa e eliminar o carvão até a década de 2030 nas maiores economias do mundo, e até a década de 2040 nos outros países. O presidente da Conferência explicou que o acordo conta com 77 signatários, incluindo 46 países como a Polônia, Vietnã e Chile, 23 dos quais estão se comprometendo com o fim do carvão pela primeira vez.
Sharma declarou que “tudo isso ajuda a construir um mundo sem emissões de carbono. Nós sabemos que há mais a ser feito. Está nas mãos de nossos governos, empresas, instituições financeiras e sociedade civil. Nós precisamos continuar a construir o momento através de alianças e coalizões".
Acredito que o fim do carvão está à vista e que nós estamos chegando em um ponto, onde vamos colocar a energia do carvão no passado.”
Alok Sharma, presidente da COP26
Infelizmente, a declaração deixa de fora os maiores financiadores de carvão: China, Japão e Coreia do Sul. Contudo, esses países se comprometeram, ano passado, a encerrar seus financiamentos internacionais na produção de carvão até final deste ano.
Enquanto isso, a Powering Past Coal Alliance (PPCA), iniciativa que visa alcançar o fim do uso do carvão de um jeito sustentável e economicamente inclusivo, deu boas vindas a novos membros hoje, sendo eles sete países e 14 instituições financeiras.
Na quarta-feira (03), os governos da África do Sul, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, juntamente com a União Europeia, anunciaram uma nova parceria ambiciona e de longo prazo para a transição energética justa a fim de auxiliar os esforços de descarbonização da África do Sul. O presidente dos EUA, Joe Biden, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von de-Leyen, participaram virtualmente para oficializar a parceria na COP26.
Falta comprometimento - Apesar de achar os comprometimentos de alguma forma encorajadores, as organizações da sociedade civil estavam insatisfeitas fora da sala da plenária. Em uma conferência de imprensa separada, as ONGs alemãs Urgewald e a Climate Action Network expressaram sua desesperança em relação a atual crise energética.
O ativista de finanças da Urgewald afirmou que “nos últimos dois anos, nós temos visto um aumento de políticas do carvão, mas quase nada substancial em óleo e gás. A razão para isso é que as instituições financeiras que querem se afastar dos combustíveis fósseis enfrentam um grande problema: a falta de informação”.
A Urgewald publicou sua última lista global de saída de óleo e gás, na qual argumenta que 506 produtores ascendentes de óleo ou gás estão planejando acrescentar 190 bilhões de barris de óleo equivalente a seu portfólio de produção dentro dos próximos 1 a 7 anos.
O representante da organização alemã acrescentou que “ao menos 96% dos produtores de gás e óleo estão procurando expandir seus negócios. A indústria está em uma expansão inconsequente com formas de produção sujas, que representam 50% desses novos projetos”.
Enquanto isso, a diretora do programa de energia justa do Centro de Diversidade Biológica dos Estados Unidos, Jing Zhu, destacou que “nós não temos mais espaço para os combustíveis fósseis”. Ela disse que “nós temos visto o G20 ir para uma direção oposta. Entre 2018 e 2020, os países do G20 investiram 188 bilhões de dólares nos combustíveis fósseis. Isso é 2,5 vezes a mais que a quantidade colocada nos renováveis. Isso é um absurdo”.
Um novo compromisso - Jing Zhu também deu boas notícias durante a conferência de imprensa. Um grupo de governantes e instituições financeiras públicas ao redor do mundo, incluindo nos EUA, União Europeia, Canadá e Reino Unido, pediram o fim do suporte direto do setor de energia de combustíveis fósseis até o final de 2022.
O anúncio conjunto prometeu dar um fim ao suporte direto para projetos internacionais de combustíveis fósseis, “a não ser em circunstâncias limitadas e claramente definidas que estão em acordo com o limite de aquecimento global de 1,5ºC e com os objetivos do Acordo de Paris”.
Zhu, que também faz parte da ONG Climate Action Network, explicou que “esse é o primeiro compromisso político de eliminação do gás e do óleo também, não só do carvão. Se for implementado, isso vai direcionar 18 bilhões de dólares por ano dos combustíveis fósseis para a energia renovável”. O compromisso, apesar de histórico, não é suficiente, segundo ela. Seria necessário que a China, Japão e Coreia do Sul se juntassem.
De acordo com Zhu, “estamos lidando com nosso vício nos fósseis, e pedimos para que o desenvolvimento dos combustíveis fósseis sejam eliminados ao redor do mundo, domesticamente ou internacionalmente”. Ao responder perguntas de jornalistas, a especialista esclareceu o que significa "projetos fósseis inabaláveis" e criticou a falta de firmeza dos líderes mundiais.
“O fato de ainda serem permitidas a captura de carbono e seu armazenamento em projetos de combustíveis fósseis que têm algum tipo de "conserto técnico" se assemelha às promessas falsas de dar um basta nas emissões até 2050. Isso é consistente com a falta de liderança e coragem. Ao mesmo tempo, se quisermos dar a eles o benefício da dúvida, há uma promessa de energia limpa, especialmente a fabricação de energia limpa de muitos desses países também. Eles vêem os investimentos domésticos como benefícios potenciais para suas próprias economias. Os Estados Unidos, por exemplo, têm seus próprios planos para exportar essa energia de renovação ”, acrescentou.”
O problema da energia - A representante especial do secretário-geral da ONU para Energia Sustentável Para Todos, Damilola Ogunbiyi, também pediu por atitude durante o encontro na quarta-feira e relembrou que o setor de energia é responsável por dois terços das emissões de gases de efeito estufa.
“759 milhões de pessoas no mundo não têm acesso à eletricidade básica, e mais de 2,6 bilhões não têm acesso a soluções de cozinha limpa”, destacou a representante especial da ONU.
Damilola Ogunbiyi citou o recente relatório de lacunas de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que indica que nós estamos num caminho perigoso de aumento da temperatura global em até 2,7ºC até o final do século, o que vai ameaçar a vida da forma que conhecemos hoje.
Ogunbiyi falou que “nós precisamos repensar radicalmente com nós entregamos serviços de energia; nós precisamos responder ao chamado do secretário-geral ONU de deixar o carvão no passado… Depois de 2021, nenhuma usina nova de carvão deve ser desenvolvida”.
Segundo o PNUMA, uma média de 423 bilhões de dólares de fundos públicos foram gastos todo ano em subsídios de combustíveis fósseis, e, apesar do compromisso internacional, esses investimentos não estão sendo eliminados, mas sim reforçados. Esses subsídios são o maior obstáculo para se alcançar os objetivos de clima e desenvolvimento sustentável, porque eles encorajam o financiamento da poluição e desencorajam a energia renovável.
A representante especial salientou que “nós estamos com o tempo esgotando, e não temos escolha. Precisamos ser decisivos e nos comprometer na colaboração e no financiamento necessário para fazer uma transição energética o mais justa, equitável e inclusiva possível para aqueles que contribuíram menos para as mudanças climáticas”.
Eliminar os combustíveis fósseis e taxar o carbono vai estimular crescimento e inovação. Os estudos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que esse movimento poderia proporcionar até 10 anos de gastos em inovação e infraestrutura verde, o que levaria a um crescimento e empregos novos e seguros.