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Novo relatório da OMS mapeia barreiras à disponibilidade de insulina

12 novembro 2021

Um novo relatório publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que, mesmo após 100 anos de sua descoberta, a insulina continua indisponível para uma em cada duas pessoas que precisam para diabetes tipo 2.

A insulina é a base do tratamento da diabetes - ela transforma uma doença mortal em uma doença controlável para nove milhões de pessoas com diabetes tipo 1. Para mais de 60 milhões de pessoas que vivem com diabetes tipo 2, a insulina é essencial para reduzir o risco de insuficiência renal, cegueira e amputação de membros.

Os preços altos, baixa disponibilidade de insulina humana, poucos produtores dominando o mercado, pesquisas voltadas para países ricos e sistemas de saúde frágeis são as principais barreiras ao acesso universal.

“Os cientistas que descobriram a insulina há 100 anos se recusaram a lucrar com a descoberta e venderam a patente por apenas um dólar. Infelizmente, esse gesto de solidariedade foi superado por uma empresa multibilionária que criou grandes lacunas de acesso”, lembrou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, às vésperas do Dia Mundial da Diabetes, marcado no domingo (14).

menina se aplica insulina
Legenda: A diabetes está aumentando em países de baixa e média renda, mas o consumo de insulina não acompanhou o aumento da carga da doença
Foto: © OPAS/OMS

Um novo relatório publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) na quinta-feira (11) destaca o estado alarmante do acesso global à insulina e aos cuidados com a diabetes e conclui que preços altos, baixa disponibilidade de insulina humana, poucos produtores dominando o mercado de insulina e sistemas de saúde frágeis são as principais barreiras ao acesso universal. A publicação antecede Dia Mundial da Diabetes, marcado no domingo (14).

“Os cientistas que descobriram a insulina há 100 anos se recusaram a lucrar com a descoberta e venderam a patente por apenas um dólar”,

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

“Infelizmente, esse gesto de solidariedade foi superado por uma empresa multibilionária que criou grandes lacunas de acesso. A OMS está trabalhando com países e fabricantes para preencher essas lacunas e expandir o acesso a este medicamento que salva vidas para todos que precisam”, disse Tedros.

A insulina é a base do tratamento da diabetes - ela transforma uma doença mortal em uma doença controlável para nove milhões de pessoas com diabetes tipo 1. Para mais de 60 milhões de pessoas que vivem com diabetes tipo 2, a insulina é essencial para reduzir o risco de insuficiência renal, cegueira e amputação de membros.

No entanto, uma em cada duas pessoas que precisam de insulina para diabetes tipo 2 não a recebe. A diabetes está aumentando em países de baixa e média renda, mas o consumo de insulina não acompanhou o aumento da carga da doença. O relatório destaca que, embora três em cada quatro pessoas afetadas pelo diabetes tipo 2 vivam em países fora da América do Norte e da Europa, elas respondem por menos de 40% da receita das vendas de insulina.

Lacunas no acesso - O relatório “Keeping the 100-year-old promise – making insulin access universal”, publicado para comemorar o 100º aniversário da descoberta da insulina, destaca as principais causas para as lacunas no acesso global à insulina.

Entre os fatores destacados, está a mudança do mercado global de insulina humana, que pode ser produzida a um custo relativamente baixo, para análogos mais caros (insulinas sintéticas), o que está impondo uma carga financeira insustentável aos países de baixa renda. Em geral, a insulina humana é tão eficaz quanto os análogos, mas os análogos são pelo menos 1,5 vezes mais caros e, em alguns países, três vezes mais caros.

Além disso, três empresas multinacionais controlam mais de 90% do mercado de insulina, deixando pouco espaço para empresas menores competirem pelas vendas de insulina.

A falta de regulamentação e políticas pública, incluindo abordagens de preços farmacêuticos, consistentes é outro fator que dificulta o acesso. A gestão fraca de compras e da cadeia de suprimentos, o financiamento insuficiente para cobrir a demanda e a governança geral fraca estão afetando o acesso à insulina e dispositivos relacionados, como dispositivos de monitoramento e distribuição, em todos os países.

Deficiências nos sistemas de saúde também são paute do problema. Falta de integração de serviços no nível de atenção primária, capacidade inadequada para fornecer cuidados com a diabetes e garantir a continuidade do fornecimento e infraestrutura para gestão de informações, gestão de suprimentos e produção local de insulinas são desafios generalizados em países de baixa renda.

A pesquisa científica, em geral, é voltada para mercados ricos, negligenciando as necessidades de saúde pública dos países de baixa e média renda, que respondem por 80% da carga da diabetes.

O cenário de preços também é desigual e revela falta de transparência na forma como são definidos, de acordo com o relatório. Por exemplo, as insulinas biossimilares (versões essencialmente genéricas) podem ser mais de 25% mais baratas do que o produto original, mas muitos países, incluindo os de baixa renda, não estão se beneficiando dessa economia potencial.

Recomendações - O relatório sugere várias ações para melhorar o acesso às insulinas e produtos relacionados. Entre elas, estimular a produção e o fornecimento de insulina humana, diversificar a base de fabricação de insulinas analógicas biossimilares para criar concorrência e reduzir preços, e melhorar a acessibilidade, regulando preços e mark-ups, usando aquisições conjuntas e melhorando a transparência na forma como os preços são definidos.

Outras recomendações incluem promover a capacidade de manufatura local em regiões mal atendidas e pesquisa e desenvolvimento centrados nas necessidades dos países de baixa e média renda; garantir que o maior acesso à insulina seja acompanhado por um diagnóstico imediato e acesso a dispositivos acessíveis para monitorar o açúcar no sangue e injetar insulina; e usar os recursos de saúde com sabedoria, selecionando insulina humana onde possível e alocando fundos adequados para fornecer um pacote completo de cuidados.

Esforços conjuntos - A OMS acelerou os esforços para abordar algumas das barreiras à disponibilidade de insulina e medicamentos relacionados e tecnologias de saúde por meio de uma série de diálogos com associações comerciais e fabricantes desses produtos.

Vários meses após o primeiro diálogo, a indústria se comprometeu a uma série de ações. Entre elas, o desenvolvimento de um plano de política para melhorar o acesso aos biossimilares de insulina; participação no programa de pré-qualificação da OMS para insulina, medidores de glicose, tiras de teste e ferramentas de diagnóstico; e participação em contratos internacionais/ONU agrupados ou mecanismos de demanda agregada, uma vez estabelecidos.

A expansão do programa de pré-qualificação da OMS para incluir dispositivos de monitoramento de glicose, tiras de teste e ferramentas de diagnóstico, e a inclusão de formas adicionais de insulina e outros medicamentos para diabetes na última atualização das Listas Modelo de Medicamentos Essenciais da OMS devem levar a um melhor acesso em países onde a demanda não é atendida.

Global Diabetes Compact - Os esforços para aumentar o acesso a medicamentos para diabetes que salvam vidas são apenas uma das linhas de trabalho do Global Diabetes Compact, lançado em abril de 2021. O pacto reúne governos nacionais, organizações da ONU, organizações não governamentais, entidades do setor privado, instituições acadêmicas, fundações filantrópicas, pessoas que vivem com diabetes e doadores internacionais para trabalhar por um mundo onde todas as pessoas em risco de diabetes ou que vivem com diabetes possam ter acesso aos cuidados de que precisam.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OMS
Organização Mundial da Saúde

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa