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Comércio mundial bate recorde de 28 trilhões, mas futuro é incerto

01 dezembro 2021

Até o fim do ano, é esperado que o comércio global movimente 28 trilhões de dólares, 23% acima dos números de 2020 e 11% acima dos índices de 2019. 

Taiwan, China, Vietnã e Brasil foram as regiões com maiores altas no fluxo de comércio este ano.

No entanto, a perspectiva para o próximo ano é incerta. Múltiplos desafios afetaram o comércio e colocam à prova o crescimento, entre eles: oscilações na demanda, altos preços dos combustíveis, fatores geopolíticos e os esforços em direção a uma economia mais social e ambientalmente sustentável.

Contêineres são carregados em navios em um porto de Los Angeles, nos EUA
Legenda: Contêineres são carregados em navios em um porto de Los Angeles, nos EUA
Foto: © Barrett Ward/Unsplash

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) divulgou na terça-feira (30) que o comércio global movimentou cerca de 28 trilhões de dólares só neste ano - um aumento de 23% em comparação com 2020. Embora o comércio mundial tenha se estabilizado durante a segunda metade de 2021, o comércio de bens atingiu níveis recordes entre julho e setembro. As perspectivas para 2022 permanecem incertas.

O crescimento na demanda - por bens, ao invés de serviços - é em grande parte resultado da flexibilização das restrições à pandemia, mas também de pacotes de estímulo econômico e aumentos acentuados no preço das matérias-primas.

Serviços ainda lentos - Também se beneficiando deste aumento geral, o setor de serviços se recuperou, mas manteve-se abaixo dos níveis de 2019.

De uma perspectiva regional, o crescimento do comércio permaneceu desigual na primeira metade do ano, mas teve um alcance mais amplo nos três meses que se seguiram.

Além disso, os fluxos comerciais continuaram a aumentar mais fortemente para os países em desenvolvimento em comparação com as economias desenvolvidas em geral no terceiro trimestre do ano.

O relatório avaliou o comércio global de bens em 5,6 trilhões de dólares no terceiro trimestre deste ano -  um novo recorde histórico. Já os serviços ficaram em cerca de 1,5 trilhão.

O comércio em Taiwan apresentou a maior alta, de 23%; seguido por China, Vietnã e Brasil, que teve crescimento de 11%. Na outra ponta, estão Reino Unido, Japão e México, que tiveram queda no fluxo do comércio de bens e serviços de -23%, -9% e -8%, respectivamente. 

Crescimento lento - Para o restante deste ano, a UNCTAD prevê um crescimento mais lento para o comércio de bens, mas “uma tendência mais positiva para os serviços”, embora a partir de um ponto de partida inferior.

Entre os fatores que contribuem para a incerteza sobre o próximo ano, a UNCTAD citou o crescimento “abaixo das expectativas” da China no terceiro trimestre de 2021.

“As taxas de crescimento econômico abaixo do esperado geralmente se refletem em tendências de comércio global mais baixas”, observou a UNCTAD, ao mesmo tempo que aponta para pressões inflacionárias “que também podem impactar negativamente as economias nacionais e os fluxos de comércio internacional”.

A perspectiva de comércio global do órgão da ONU também observou que muitas economias, incluindo as da União Europeia, continuam a enfrentar interrupções relacionadas à COVID-19, que podem afetar a demanda do consumidor em 2022.

Sofrendo múltiplos testes - Além das “oscilações grandes e imprevisíveis na demanda” que caracterizaram 2021, os altos preços dos combustíveis também causaram uma espiral nos custos de transporte e contribuíram para a escassez de abastecimento.

Isso tem contribuído para atrasos nas principais cadeias de abastecimento que podem continuar no próximo ano e podem até “remodelar os fluxos de comércio em todo o mundo”, advertiu a UNCTAD.

Fatores geopolíticos também podem desempenhar um papel nesta mudança, já que o comércio regional dentro da África e na área da Ásia-Pacífico aumenta, por um lado, “desviando o comércio de outras rotas”.

Da mesma forma, os esforços em direção a uma economia mais social e ambientalmente sustentável também podem afetar o comércio internacional ao desestimular os produtos com alto teor de carbono.

Disputa de interesses - A necessidade de proteger os próprios interesses estratégicos e fragilidades dos próprios países em setores específicos também pode influenciar o comércio em 2022. A escassez de microprocessadores chamados de semicondutores que já afetou muitas indústrias, notadamente o setor automotivo, é um exemplo citado pela Conferência.

“Desde o início da pandemia de COVID-19, a indústria de semicondutores tem enfrentado ventos contrários devido a picos imprevistos na demanda e restrições de oferta persistentes. Se persistir ainda mais, essa escassez pode continuar a afetar negativamente a produção e o comércio em muitos setores de manufatura”, diz a agência.

Brasil com bom resultado -  O relatório também avalia as importações e exportações das maiores economias do mundo. No terceiro trimestre deste ano, o Brasil registrou alta de 20% no volume de importações de bens e de 33% no volume de exportações, na comparação com os números pré-pandemia, em 2019. 

No mesmo período, as exportações de serviços tiveram alta de 2%, enquanto as importações de serviços no Brasil tiveram queda de 25%.  

Ainda no terceiro trimestre de 2021, o valor do comércio em produtos do setor energético foi o que mais cresceu, devido à alta demanda e ao aumento no preço dos combustíveis fósseis. Por outro lado, o crescimento do comércio no setor da comunicação e de equipamentos para escritório foi relativamente baixo, assim como o aumento do comércio de têxteis e artigos de vestuário.

 

 

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNCTAD
Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento

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