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Coronavírus contribuiu para aumento de mortes por malária em 2020

07 dezembro 2021

Novo Relatório Mundial sobre a Malária da OMS revela que a interrupção de tratamento e programas de saúde específicos para combate à malária durante a pandemia resultou em aumentos consideráveis ​​nos casos e mortes envolvendo a doença entre 2019 e 2020. Foram 14 milhões novos casos de malária e 69 mil mortes. 

Embora os dados sejam preocupantes, o pior cenário projetado pela OMS não se concretizou. A agência temia o dobro de mortes por malária durante a pandemia. O aumento real entre 2019 e 2020 foi de 12%, bem abaixo do projetado. 

Nas últimas duas décadas, houve uma redução de 27% na incidência de casos de malária, com uma tendência geral de queda na taxa de mortalidade pela doença no mesmo período. Estima-se que 1,7 bilhões de casos e 10,6 milhões de mortes foram evitados. 

Entretanto, os avanços estão estagnando e as metas para 2030 não devem ser alcançadas no ritmo atual. A OMS recomenda aceleração nos esforços e mais investimentos no combate à doença, o que inclui estratégias baseadas em dados e a expansão do uso da vacina RTS,S contra a malária, recomendada pela agência em outubro.

Um bebê é testado para malária em um centro de saúde comunitário no Chade
Legenda: Um bebê é testado para malária em um centro de saúde comunitário no Chade
Foto: © Frank Dejongh/UNICEF

A Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgou na segunda-feira (06), o novo Relatório Mundial sobre a Malária em Genebra. O documento aponta que as interrupções de tratamento da doença devido à pandemia de COVID-19 resultaram em aumentos consideráveis ​​nos casos de malária e mortes entre 2019 e 2020, com 14 milhões novos casos de malária e 69 mil mortes. Dois terços, ou 47 mil, das mortes adicionais por malária foram devido a interrupções no fornecimento de prevenção, diagnóstico e tratamento da malária durante a pandemia.

No início da pandemia, a OMS havia projetado uma duplicação das mortes por malária na África Subsaariana como o pior cenário. No entanto, os dados revelam que houve um aumento estimado de apenas 12% nas mortes na região entre 2019 e 2020.

“A primeira mensagem é uma mensagem de boas notícias. Graças a esforços urgentes e extenuantes, podemos afirmar que o mundo conseguiu evitar o pior cenário de mortes por malária”, disse o diretor do Programa Global da OMS para a Malária, Pedro Alonso, no lançamento do Relatório Mundial sobre a Malária da agência das Nações Unidas em Genebra.

Interrupções nos serviços de malária - O relatório constatou que apenas 58% dos países concluíram suas campanhas planejadas para distribuir redes mosquiteiras tratadas com inseticida em 2020, com a maioria enfrentando atrasos consideráveis.

Globalmente, 72% de todas as redes mosquiteiras planejadas para distribuição foram enviadas até o final de 2020. Em 2020, dos 65 países que responderam, 37 países relataram interrupções parciais (entre 5 a 50%) nos serviços de diagnóstico e tratamento da malária.

Em 2021, 15 países relataram interrupções parciais (entre 5 a 50%) e 6 países relataram interrupções graves.

mulher com filho estão sentadas em uma cama com rede para mosquitos
Legenda: Mais mulheres na África Subsaariana estão usando mosquiteiros para se protegerem contra a malária
Foto: © Josh Estey/UNICEF

Carga global da malária - O relatório mundial da malária deste ano usou uma nova metodologia para estimar as mortes por malária em todo o mundo. Isso resultou em uma parcela maior (7,8%) de mortes entre crianças menores de cinco anos do que anteriormente registrado (4,8%). 

“Temos uma estimativa melhor do fardo real da malária e agora é de 627 mil mortes em 2020”, explicou Alonso.

O relatório constatou que houve uma redução de 27% na incidência de casos (a cada mil habitantes) de malária de 2000 a 2020, com uma tendência geral de queda na taxa de mortalidade por malária de 2000 até os dias atuais. Isto representou uma redução de 49% na taxa de mortalidade por malária de 2000 a 2020. 

O relatório observou que a região africana definida pela OMS registrou cerca de 95% dos casos globais de malária em 2020 e 96% das mortes globais pela doença em 2020.

Platô em andamento -  O relatório revelou que, globalmente, 1,7 bilhões de casos e 10,6 milhões de mortes foram evitados entre 2000 e 2020. A maioria dos casos de malária (82%) e mortes (95%) evitados nos últimos 20 anos ocorreram na região africana da OMS.

No entanto, mesmo antes do surgimento da COVID-19, os ganhos globais contra a malária estavam se estabilizando. “Não estamos em uma trajetória de sucesso, estamos cada vez mais nos afastando de alcançar os marcos de 2020 da estratégia global da OMS contra a malária”, lamentou Alonso.

Uma nova abordagem orientada para o controle da malária em países de alta carga estava começando a ganhar impulso quando a COVID-19 emergiu. De acordo com o relatório, em 2020, a incidência global de casos de malária estava fora da meta em 40% e a taxa de mortalidade global em 2020 estava 42% fora do esperado.

Progresso irregular - Em uma escala global, o progresso contra a malária permanece desigual. O documento constatou que muitos países com baixa carga da doença estão avançando continuamente em direção à meta de eliminação da malária.

Dois países - El Salvador e China - foram certificados como livres da malária pela OMS em 2021. No entanto, a maioria dos países com alta carga da doença sofreu retrocessos e está perdendo terreno.

Lacunas - O progresso global contra a malária nas últimas duas décadas foi alcançado, em grande parte, por meio do aumento maciço e do uso de ferramentas recomendadas pela OMS para prevenir, detectar e tratar a doença.

No entanto, os dados mais recentes também demonstram que há lacunas significativas e por vezes crescentes no acesso a ferramentas que salvam vidas para pessoas em risco de malária.

África Subsaariana - O relatório alerta que a situação continua precária, especialmente na África Subsaariana. Uma convergência de ameaças na região representa um desafio adicional para os esforços de controle de doenças.

Isso inclui surtos de ebola na República Democrática do Congo e na Guiné, conflitos armados e inundações. Ao mesmo tempo, o documento reitera que a pandemia não acabou e o ritmo de recuperação da economia é incerto. Sem uma ação imediata e acelerada, as principais metas para 2030 da estratégia técnica global da OMS para a malária não serão alcançadas e avanços adicionais poderão ser perdidos.

Cumprindo as metas globais de malária - Os objetivos da estratégia incluem uma redução de 90% na incidência global da malária e nas taxas de mortalidade até 2030. O relatório reiterou que isso exigirá novas abordagens e esforços intensificados auxiliados por novas ferramentas e melhor implementação das existentes.

Isso inclui uma ênfase mais forte em sistemas de saúde equitativos e resilientes e estratégias baseadas em dados.

O relatório também recomenda a expansão do uso da vacina RTS,S contra a malária, recomendada pela OMS em outubro. “A vacina é viável para distribuição, é segura, tem um impacto na saúde pública e é econômica”, argumentou Alonso.

“Neste momento, a GAVI Alliance [Global Alliance for Vaccines and Imunization] está discutindo a abertura de uma janela para investimento nesta vacina contra a malária”, acrescentou. 

Financiamento 'linear' - A análise também enfatiza que o aumento do investimento também é essencial. “O financiamento se estabilizou”, advertiu o especialista da OMS. “Estamos cerca de 50% abaixo do que acreditávamos que a meta deveria ser para 2020”.

O relatório concluiu que um total de 3,3 bilhões de dólares foi investido globalmente no controle e eliminação da malária em 2020, bem abaixo da meta dos 6,8 bilhões necessários para atingir as metas globais da malária.

Os investimentos anuais precisarão mais do que triplicar até 2030, aponta o relatório. Ele estima que cerca de 10,3 bilhões por ano serão necessários para alcançar as metas estabelecidas.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

OMS
Organização Mundial da Saúde

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