UNICEF e Conselho Indígena de Roraima inauguram centro cultural
23 dezembro 2021
A comunidade indígena de Ta’rau Paru, em Pacaraima, na fronteira entre Roraima e Venezuela, ganhou um novo centro cultural para atender principalmente as 452 crianças e adolescentes que vivem na área.
Construído no formato de uma maloca, o novo espaço é um projeto do UNICEF e do Conselho Indígena de Roraima, financiado pelo Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia e da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento.
A comunidade é formada por 900 pessoas, sendo que 600 delas são indígenas deslocados e refugiados, que pertencem ao mesmo grupo étnico.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Conselho Indígena de Roraima (CIR) inauguraram, no último dia 20, um centro cultural para a comunidade indígena de Ta’rau Paru, em Pacaraima, na fronteira de Roraima com a Venezuela. O espaço, que ainda não recebeu um nome oficial da comunidade, foi desenvolvido com o apoio financeiro do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (Echo, na sigla em inglês) e da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid).
O novo centro cultural, construído em alvenaria no formato de uma maloca, com 16 metros de diâmetro, deverá atender principalmente 452 crianças e adolescentes da etnia Taurepang-Pemón. A comunidade Ta’rau Paru, localizada dentro da Terra Indígena São Marcos, é formada por 900 pessoas, sendo 600 delas indígenas venezuelanos. Ela está entre as comunidades indígenas no Brasil mais severamente impactadas pelo fluxo de refugiados e migrantes da Venezuela. A crise migratória no país vizinho já resultou no deslocamento de mais de seis milhões de pessoas.
“É importante buscar, dentro da resposta emergencial, soluções sustentáveis que respondam às necessidades da comunidade. Esse centro vai proporcionar um espaço de integração das crianças que chegaram da Venezuela e as que já estavam aqui”, afirma a chefe do Escritório do UNICEF em Roraima, Marcela Bonvicini.
Futuro - O espaço recém-inaugurado está equipado com 50 cadeiras com apoio de braço, impressora, projetor, computador e outros equipamentos para a realização das atividades. Nas próximas semanas, as crianças da comunidade deverão pintar as paredes internas do espaço em uma oficina de arte.
A ideia do tuxaua (cacique) da comunidade, Aldino Ferreira, é que o novo centro cultural seja apenas a primeira parte central de uma estrutura maior que conterá outros espaços de convivência e trocas.
“A inauguração do Centro Cultural é a realização de um sonho do povo Taurepang, de cada família e de cada criança da comunidade. O espaço foi criado para fortalecer a diversidade e valorizar ainda mais a nossa cultura”, disse o tuxaua.
Laços de parentesco - Apesar da fronteira entre Brasil e Venezuela, a comunidade Ta’rau Paru está localizada apenas a 600 metros dos limites entre os dois países. Portanto, os refugiados e deslocados do país vizinho fazem parte do mesmo povo indígena, com origem linguística e laços de parentesco. Entretanto, o fluxo migratório fez com que a comunidade tivesse um crescimento populacional desordenado. Antes lar de 300 pessoas, a Ta’rau Paru chegou a acolher 900 indígenas que viviam no lado venezuelano, o que agravou a vulnerabilidade desses grupos.
“Os povos indígenas não têm fronteiras. Esse centro vai melhorar a qualidade de vida das crianças e jovens, sendo um espaço de convivência para mostras culturais e o resgate da língua e da cultura. É um movimento na busca de autonomia da comunidade”, afirma a coordenadora do Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do CIR, Sineia do Vale.
Súper Panas - O centro cultural é parte do projeto da UNICEF de construção de Súper Panas, uma expressão comum em países como Venezuela e que pode ser traduzida como “super amigos”. Estes espaços amigáveis de acolhimento oferecem atividades de apoio psicossocial e educação não formal para crianças e adolescentes refugiados e migrantes, integrando intervenções de educação e proteção. Os seus profissionais atuam também na prevenção de violências e abusos.
Em territórios e abrigos indígenas, a estratégia é adaptada para se adequar às especificidades culturais dessas populações. Em Ta’rau Paru, a intervenção foi iniciada com atendimento psicológico de crianças que presenciaram conflito armado do outro lado da fronteira.
Atualmente, 27 Súper Panas estão abertos nos estados de Roraima, Amazonas e Pará, implementados com o apoio financeiro de Echo e do Escritório para População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado dos Estados Unidos (PRM, na sigla em inglês).
Além do espaço Súper Panas para crianças e adolescentes, o UNICEF atua para criar espaços permanentes de diálogo com os povos indígenas para construção de diretrizes de cuidado e acesso a serviços, bem como do fortalecimento das capacidades de interlocução política e autonomia.
No contexto migratório de Roraima, do Amazonas e do Pará, indígenas refugiados e migrantes que vivem em abrigos e ocupações espontâneas são monitorados quanto à saúde e à nutrição, assim como acesso a água e saneamento. O UNICEF atua ainda com as instituições nacionais e locais ligadas à regularização migratória, à saúde e à educação para que o atendimento desses grupos leve em consideração as particularidades culturais dessas comunidades.