Com fomento à economia local, moradores recuperam esperança
Banco Comunitário de Frei Damião, na grande Florianópolis, permitiu repasses financeiros por meio de moedas sociais a 344 famílias
Muitos são os brasileiros que tiveram a vida afetada após quase 2 anos de pandemia. Esse foi o caso da dona de casa Andreia de Souza Sirtoli, 37 anos, moradora da comunidade Frei Damião, em Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis. Em 2020, Andreia começou a cursar uma faculdade privada de pedagogia, mas não conseguiu concluir por causa do custo e da falta de emprego. Grávida de seu quarto filho, ela ganhou uma nova injeção de ânimo e esperança no final do ano passado, com a chegada do Banco Comunitário ao local onde mora.
O Banco Comunitário da Frei Damião foi instalado após uma parceria entre o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS), o Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina (MPT) e o Instituto Comunitário Grande Florianópolis (ICOM). O banco permitiu repasses financeiros a 344 famílias da comunidade, por meio de moedas sociais.
A moeda social é virtual e depositada na conta de cada família cadastrada. A conta, então, pode ser acessada por meio de um aplicativo específico, usado para fazer compras de itens de alimentação, higiene e limpeza nos comércios da Frei Damião. Os moradores também podem pagar pelas mercadorias com o CPF, sem necessidade do uso do celular.
"No primeiro mês, a moeda social chegou num dia e, no outro, o meu gás acabou. Foi uma sorte, pois, com a moeda, consegui comprar um novo botijão", lembra Andreia. Vivendo uma gestação de risco, ela conseguiu garantir uma alimentação saudável e balanceada com a ajuda dos repasses do Banco Comunitário. "A gente ganha muitas cestas básicas de projetos, mas produtos de higiene, carne, misturas, temperos e frutas para as crianças não vêm. A moeda social ajudou demais nesse sentido.”
“[A moeda social] veio em uma hora que a gente não tava mais com esperança de nada, sabe? Ajudou demais", conta Andreia de Souza Sirtoli, de 37 anos, moradora de Frei Damião
Cada uma das 344 famílias da comunidade recebeu 600 reais que foram divididos em três parcelas de 200 reais cada. Comércios e empreendedores locais foram cadastrados para receber os pagamentos em moedas digitais.
A dona de casa Rafaela Conte de Souza, 34 anos, também foi impactada pela ação. "Não tenho palavras para descrever a ajuda que vocês deram. Essa solidariedade nos faz perceber que temos gente para nos apoiar na hora mais necessária", comenta.
Rafaela conta, com alegria, que – além de itens essenciais como gás e carne – ela comprou também produtos que os filhos sempre desejaram. "Consegui comprar os sucrilhos que meu filho tanto queria e shampoo e condicionador para minhas filhas.”
Além de trazer alento para as famílias, a instalação do Banco Comunitário da Frei Damião fez com que o recurso financeiro circulasse pela comunidade, impulsionando a economia local e potencializando os pequenos negócios.
Para a estudante de pedagogia Brenda da Silva Luz, 27 anos, a pandemia foi difícil. Grávida e mãe de duas crianças, ela conta que o marido teve o salário diminuído quando começou a crise sanitária, o que piorou ainda mais as condições de vida.
"Tivemos que nos virar, fazer o possível para poder nos manter. Quando veio a ajuda do Banco Comunitário, foi muito bom porque o valor caía bem no final do mês", relata Brenda. “Eu achei bem legal, porque tem pessoas que se importam com a gente, com as pessoas que moram aqui no Frei Damião. Tenho só a agradecer".
O Banco Comunitário foi criado pelo ICOM, lançado em março de 2020, com o objetivo de apoiar pessoas em vulnerabilidade social. Os recursos convertidos em moedas sociais são mobilizados por meio de doações financeiras às organizações realizadoras. Na comunidade Frei Damião, além do UNOPS e do MPT, o Instituto Padre Vilson Groh (IVG), a Associação Laura dos Santos, a Associação Evangélica Beneficente de Assistência Social (AEBAS), e organizações locais também ajudaram a implementar a iniciativa.
Com essa rede de solidariedade, muitos moradores voltaram a acreditar em seus sonhos. Andreia, por exemplo, que está no início deste texto, planeja voltar a estudar. "O programa foi um incentivo para retornar aos estudos. Se tudo der certo, vou voltar à faculdade esse ano."