Agência Internacional de Energia Nuclear: controle russo de usinas nucleares na Ucrânia causa preocupação
07 março 2022
Em comunicado divulgado no domingo (6), o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, afirmou que causa grande preocupação a informação de que a maior usina nuclear da Ucrânia – e da Europa - está sob controle das forças russas.
Ele foi informado pelas autoridades ucranianas que, embora os trabalhadores locais continuem operando a usina nuclear de Zaporizhzhya, qualquer ação de gerenciamento da usina – incluindo medidas relacionadas a operação técnica dos seis reatores – requer aprovação prévia do comandante russo das forças que controlaram o local na semana passada.
O regulador nuclear da Ucrânia informou ainda que está com problemas de comunicação com a usina de Zaporizhzhya porque as forças russas no local estão bloqueando a internet. Alguma comunicação por celular ainda é possível, embora de baixa qualidade, mas linhas de telefonia fixa, e-mails e fax não estão mais funcionando.
Em comunicado divulgado no domingo (6), o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Mariano Grossi, afirmou que causa grande preocupação a informação de que a maior usina nuclear da Ucrânia – e da Europa - está sob controle das forças russas. Ele foi informado pelas autoridades ucranianas que, embora os trabalhadores locais continuem operando a usina nuclear de Zaporizhzhya, qualquer ação de gerenciamento da usina – incluindo medidas relacionadas a operação técnica dos seis reatores – requer aprovação prévia do comandante russo das forças que controlaram o local na semana passada.
Grossi disse que isto viola um dos sete pilares de segurança nuclear que ele descreveu num encontro da AIEA no dia 2 de março: “os trabalhadores devem ser capazes de cumprir suas tarefas de segurança e ter a capacidade de tomar decisões livres de pressões indevidas”.
Comunicação restrita – O regulador nuclear da Ucrânia informou à AIEA que está tendo problemas de comunicação com os trabalhadores operando a usina de Zaporizhzhya porque as forças russas no local estão trocando algumas redes locais e bloqueando a internet. Alguma comunicação por celular ainda é possível, embora de baixa qualidade, mas linhas de telefonia fixa, e-mails e fax não estão mais funcionando.
A Agência informou que esta situação viola outro dos sete pilares indispensáveis de segurança nuclear e deve haver “comunicação confiável com o regulador e outros”.
“Estou extremamente preocupado com estes desdobramentos que me foram informados hoje”, afirmou Grossi. “Alguns dias atrás apresentei os sete principais elementos de segurança nucelar à diretoria da AIEA, e diversos deles já estão sendo comprometidos. Para ser possível operar a usina com segurança, gerentes e trabalhadores devem ter permissão para atuar nas suas tarefas vitais em condições estáveis, sem nenhuma interferência ou pressão externa indevida”.
“A deteriorada situação sobre a comunicação vital entre o regulador e a usina de Zaporizhzhya é também fonte de muita preocupação, especialmente durante um conflito armado que pode colocar em risco as instalações nucleares do país a qualquer momento”, afirmou o diretor-geral. “Comunicações confiáveis entre o regulador e o operador são parte crítica da segurança geral nuclear”.
Radiação – Apesar dos problemas de comunicação, o regulador conseguiu dar informação atualizada sobre o status operacional da usina de Zaporizhzhya para a AIEA e confirmou que os níveis de radiação continuam normais.
Equipes operacionais na usina estão agora atuando em três turnos mas, segundo o regulador, a oferta e suprimento de alimentos são limitados, o que tem impacto negativo no moral dos trabalhadores.
Chernobil e Mariupol – Respondendo a relatos de que pessoal técnico e guardas do local onde houve o acidente nuclear de Chernobil não foram substituídos desde o dia 23 de fevereiro, Grossi pediu que as forças russas que controlam o local permitam que eles sejam substituídos por outros colegas e descansem, para conseguir trabalhar com segurança.
O regulador ucraniano informou à AIEA que a comunicação com Chernobil está atualmente limitada a emails.
Em outro desdobramento preocupante, o regulador informou que não há comunicação entre instituições e empresas que usam a categoria 1-3 de fonte de radiação na cidade portuária de Mariupol e não há informação sobre seus status. A AIEA alertou que este material radioativo pode causar sérios danos às pessoas se não forem guardados e manejados corretamente.
O perigo nuclear na Ucrânia
- A Ucrânia abriu mão de armas nucleares depois da dissolução da União Soviética e todo o armamento nuclear foi retirado de seu território em junho de 1996. No entanto, o país continuou com o direito de desenvolver energia nuclear para fins pacíficos. Acredita-se que cerca de 114 instalações - incluindo quatro usinas de energia nuclear - tenham algum tipo de material nuclear.
- O conflito militar na Ucrânia é o primeiro a acontecer no território de um país com muitas instalações nucleares. Na quinta-feira (3) à noite, a usina de Zaporizhzhia, a maior e mais poderosa da Europa, foi bombardeada, despertando o temor de uma explosão e vazamento de radiação.
- Lembranças do desastre de Chernobil, que ocorreu em 26 de abril de 1986, também reviveram: Chernobil foi um dos incidentes nucleares mais sérios da história da humanidade e levou a uma nuvem de radiação que cobriu grande parte do nordeste europeu.
- No ataque a Zaporizhzhia, um complexo de treinamento foi bombardeado perto de reatores nucleares. Nenhum material radioativo vazou e os sistemas de segurança da usina não foram comprometidos.
- No entanto, um acidente ou explosão em Zaporizhzhia, que é muito maior do que Chernobil, poderia levar a consequências muito mais sérias do que o incidente de 1986. Poderia ser provocado por ataques ou mesmo perda de eletricidade, situação que poderia impedir o sistema de resfriamento do reator de funcionar, levando a uma explosão (esta foi a causa do desastre de Chernobil).