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Guterres pede "paz agora" na Ucrânia e alerta para risco da fome

14 março 2022

A Ucrânia está sendo “dizimada diante dos olhos do mundo” com a ofensiva militar da Rússia contra civis “alcançando proporções terríveis”, afirmou o chefe da ONU nesta segunda-feira (14).

António Guterres alertou que o resultado do derretimento da economia global está provocando uma crise alimentar que está atingindo duramente os mais pobres. Ele falou falou om jornalistas na saída da sala do Conselho de Segurança, em Nova Iorque, e anunciou a liberação de mais 40 milhões de dólares  para aumentar assistência vital no país.

“Os apelos pela paz devem ser ouvidos. Esta tragédia precisa parar. Nunca é tarde para diplomacia e diálogo. Precisamos cessar imediatamente as hostilidades e negociar seriamente, com base nos princípios da Carta da ONU e da legislação internacional”, afirmou.

Um bombardeio matou a mãe de Milana, de 6 anos. Ela se recupera de uma cirurgia num hospital infantil em Kyiv, na Ucrânia
Legenda: Um bombardeio matou a mãe de Milana, de 6 anos. Ela se recupera de uma cirurgia num hospital infantil em Kyiv, na Ucrânia
Foto: © Oleksandr Ratushniak/UNICEF

A Ucrânia está sendo “dizimada diante dos olhos do mundo” com a ofensiva militar da Rússia contra civis “alcançando proporções terríveis”, afirmou o chefe da ONU nesta segunda-feira (14). Ele alertou que o resultado do derretimento da economia global está provocando uma crise alimentar que está atingindo duramente os mais pobres.

O secretário-geral António Guterres falou com jornalistas na saída da sala do Conselho de Segurança, em Nova Iorque, e disse que a cada passar de hora na Ucrânia, morte e destruição estão ficando piores. “Qualquer que seja o resultado, esta guerra não tem vencedores, apenas perdedores”, afirmou.

Estradas, aeroportos e escolas estão em ruínas em função da invasão da Rússia, com pelo menos 24 centros médicos sofrendo ataques, enquanto centenas de milhares de pessoas estão agora sem água ou eletricidade.

Guterres afirmou que a ONU e parceiros humanitários estão trabalhando para garantir a passagem segura nas áreas cercadas e enviar ajuda onde a segurança permitir, deixando que cerca de 600 mil pessoas recebam algum tipo de apoio desde que os bombardeios começaram.

Ele anunciou a liberação de mais 40 milhões de dólares do Fundo Central de Respostas de Emergências Central para aumentar assistência vital, mas lembrou que “avenidas de entrada e saída dos centros das cidades estão mais precárias a cada dia”.

Cerca de dois milhões de pessoas estão deslocadas dentro do país e quase três milhões se tornaram refugiadas nas duas últimas semanas – a grande maioria, mulheres e crianças. Ele alertou que elas estão ficando cada vez mais vulneráveis.

“Para predadores e traficantes de seres humanos, a guerra não é uma tragédia. É uma oportunidade. E o alvo são mulheres e crianças. Elas precisam de segurança e apoio a cada passo do caminho. Continuarei a chamar a atenção para o desesperado flagelo dos ucranianos, como estou fazendo hoje”.

Mais vulneráveis – Além de devastação hora após hora dentro da Ucrânia, o chefe da ONU disse que a guerra estava indo além das fronteiras, com a Espada de Dâmocles agora pendendo sobre a economia global, “especialmente no mundo em desenvolvimento”.

Nos últimos meses, os países em desenvolvimento estão lutando para se recuperar da pandemia, com recorde de inflação, aumento das taxas de juros e iminente peso das dívidas, enquanto a capacidade de resposta está sendo “apagada pelos aumentos exponenciais nos custos de financiamento”.

“Agora este celeiro está sendo bombardeado”, ele afirmou.

Rússia e Ucrânia representam mais da metade da produção do óleo de girassol e cerca de 30% da produção global de trigo, ele acrescentou, lembrando que apenas a Ucrânia produz mais da metade do fornecimento de trigo do Programa Mundial de Alimentos (WFP).

“Os preços de alimentos, combustível e fertilizantes estão disparando. As cadeias de abastecimento estão sendo interrompidas. E os custos e atrasos no transporte de bens importados – quando disponíveis – estão em níveis recordes. Tudo isto está atingindo mais duramente os mais pobres e plantando as sementes da instabilidade política ao redor do mundo”, alertou.

“Furacão de fome” – Ele afirmou que 45 países menos desenvolvidos e africanos importam pelo menos um terço do trigo da Ucrânia ou da Rússia e 18 deles importam ao menos 50%.

“Precisamos fazer todo o possível para evitar o furacão da fome e o derretimento do sistema alimentar global. Além disso, estamos vendo claras evidências de que esta guerra está minando recursos e a atenção de outros focos de crise que precisam de ajuda”, enfatizou.

Guterres pediu que os países encontrem maneiras criativas de financiar mais ajuda humanitária e recuperação de desenvolvimento em todo o mundo e dar imediatamente e generosamente os recursos solicitados.

“Em uma palavra, os países em desenvolvimento estão sendo esmagados. Eles estão enfrentando uma cascata de crises – além da guerra da Ucrânia, não podemos esquecer a COVID e os impactos das mudanças climáticas, em particular a seca”, afirmou.

Novo grupo de resposta – Como uma resposta direta, ele anunciou o estabelecimento de um novo Grupo de Resposta à Crise Mundial de Alimentos, Energia e Finanças, baseado no Secretariado em Nova Iorque e supervisionado pela vice-secretária-geral, Amina Mohammed. 

Ele disse que a guerra também mostrou “como a dependência global aos combustíveis fósseis está colocando a segurança energética, a ação climática e toda a economia global a mercê da geopolítica”.

O chefe da ONU descreveu o aumento do nível de alerta das forças nucleares feito pelo presidente russo Vladimir Putin como um fato “assustador”.

A perspectiva de uma guerra nuclear, disse, “era impensável e agora está de volta ao território da possibilidade”. “A segurança das instalações nucleares deve ser preservada”, afirmou.

Caminho diplomático – “Está na hora de parar o horror perpetrado ao povo da Ucrânia e entrar no caminho da diplomacia e da paz”, ele afirmou, lembrando que tem estado em contato próximo com países, incluindo China, França, Alemanha, Índia, Israel e Turquia, em esforços de mediação para acabar com a invasão russa.

“Os apelos pela paz devem ser ouvidos. Esta tragédia precisa parar. Nunca é tarde para diplomacia e diálogo. Precisamos cessar imediatamente as hostilidades e negociar seriamente, com base nos princípios da Carta da ONU e da legislação internacional”, afirmou.

Guterres acrescentou que precisamos de paz agora. “Paz para o povo da Ucrânia. Paz para nosso mundo”.

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