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Onze anos depois, Síria continua sendo a maior crise de deslocamento forçado do mundo

15 março 2022

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) faz um apelo ao mundo para que não esqueça ou negligencie as crescentes necessidades dos sírios deslocados dentro e fora do país. Mais de 13 milhões de pessoas fugiram do país ou estão deslocadas dentro da Síria.

Os países vizinhos e próximos precisam de apoio internacional contínuo, tendo recebido generosamente mais de 5,6 milhões de refugiados sírios – a grande maioria dos deslocados em todo o mundo.

A situação é particularmente difícil no Líbano, onde mais de 90% dos sírios vivem em extrema pobreza, juntamente com um número crescente de pessoas das comunidades que os acolhem.

No ano passado, quase 900 crianças na Síria perderam a vida ou ficaram feridas, alertou o UNICEF. Isso traz o número total de crianças mortas e feridas, desde o início da crise, para aproximadamente 13 mil.

Minas terrestres, resíduos explosivos de guerra e munições não detonadas foram as principais causas dessas mortes de crianças em 2021, respondendo por quase um terço de todos os ferimentos e mortes registrados, deixando muitas crianças com deficiências permanentes.

 

Legenda: A refugiada síria Fatima Al Mahmoud, 12, no assentamento informal em Minyeh, norte do Líbano, onde sua família mora.
Foto: © ACNUR/Diego Ibarra

A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) faz um apelo ao mundo para que não esqueça ou negligencie as crescentes necessidades dos sírios deslocados dentro e fora do país, 11 anos desde o início da crise.

A Síria continua sendo a maior crise de deslocamento forçado do mundo. Mais de 13 milhões de pessoas fugiram do país ou estão deslocadas dentro do país.

Os países vizinhos e próximos precisam de apoio internacional contínuo, tendo recebido generosamente mais de 5,6 milhões de refugiados sírios – a grande maioria dos deslocados em todo o mundo.

Esses países estão sob crescente pressão financeira, especialmente devido ao impacto socioeconômico devastador da pandemia de COVID-19. Refugiados e comunidades de acolhida foram duramente atingidos, perdendo meios de subsistência e enfrentando aumento de preços de alimentos e outras necessidades.

Hoje, a maioria das pessoas refugiadas sírias na região vive na pobreza. As perspectivas são terríveis para as mais vulneráveis, como mães solteiras, crianças que vivem sem cuidados e pessoas com deficiência. A situação é particularmente difícil no Líbano, onde mais de 90% dos sírios vivem em extrema pobreza, juntamente com um número crescente de pessoas das comunidades que os acolhem.

As crianças estão abandonando a escola para trabalhar. Os casamentos precoces estão em alta, especialmente entre as famílias mais pobres. As melhorias no acesso à educação e aos cuidados de saúde correm o risco de serem perdidas.

A situação seria ainda pior, mas alguns países de acolhida têm tomado medidas positivas, como permitir o acesso dos refugiados ao mercado de trabalho, cuidados de saúde pública e uma série de outros serviços. Isso foi alcançado apesar do grande número de refugiados hospedados nesses países.

A Turquia continua a abrigar a maior população de refugiados do mundo, incluindo mais de 3,7 milhões de sírios, enquanto o Líbano e a Jordânia estão entre os países com o maior número de refugiados per capita globalmente.

Enquanto isso, as necessidades humanitárias dentro da Síria estão aumentando. Mais de 6,9 ​​milhões de pessoas ainda estão deslocadas dentro do país e 14,6 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária e outras formas de assistência. Cerca de 5,9 milhões de pessoas precisam de ajuda para garantir acomodações seguras, e muitas ainda enfrentam desafios para acessar serviços básicos como educação e saúde.

Em 2021, três quartos de todas as famílias do país disseram não conseguir atender às suas necessidades mais básicas – 10% a mais do que no ano anterior.

No entanto, alguns sírios optam por voltar para casa. Em 2021, o ACNUR verificou ou monitorou o retorno de cerca de 36 mil refugiados à Síria. Os refugiados citam vários fatores em sua decisão de retornar ou não, como segurança, direitos de propriedade e oportunidades de subsistência. Paralelamente, muitos sírios deslocados internamente voltaram para casa, aumentando as necessidades gerais de reintegração.

Soluções políticas são urgentemente necessárias para acabar com 11 anos de sofrimento. Há também a necessidade de aumentar as oportunidades de reassentamento para os refugiados sírios mais vulneráveis.

O ACNUR pede aos doadores internacionais que estendam o apoio aos refugiados e seus anfitriões e atendam às necessidades humanitárias urgentes dentro da Síria, inclusive para os deslocados internos, suas comunidades anfitriãs e retornados.

No ano passado, menos da metade do financiamento necessário para o Plano Regional de Refugiados e Resiliência para responder à crise de refugiados na Síria foi recebida.

Dentro da Síria e à medida que as necessidades crescem, as organizações humanitárias exigem urgentemente os recursos necessários para fortalecer seu trabalho dentro do país. O ACNUR recebeu sete por cento dos US$ 465,2 milhões necessários para seu trabalho na Síria em 2022.

Um momento decisivo para os países demonstrarem seu compromisso será a conferência de doadores “Apoiando o Futuro da Síria e da Região”, em maio, reunindo apoio para refugiados e comunidades anfitriãs na região, bem como para pessoas necessitadas na Síria.

 

Crianças lutam com cicatrizes físicas e psicológicas

Somente na segunda-feira (14), três crianças teriam sido mortas por munições não detonadas na cidade de Aleppo. Onze anos depois do início da crise na Síria, a violência, o deslocamento e a falta de acesso a serviços essenciais continuam obstruindo a vida das crianças.

No ano passado, quase 900 crianças na Síria perderam a vida ou ficaram feridas. Isso traz o número total de crianças mortas e feridas, desde o início da crise, para aproximadamente 13 mil. Minas terrestres, resíduos explosivos de guerra e munições não detonadas foram as principais causas dessas mortes de crianças em 2021, respondendo por quase um terço de todos os ferimentos e mortes registrados, deixando muitas crianças com deficiências permanentes.

"Quase 5 milhões de crianças nasceram na Síria desde 2011. Elas não conheceram nada além de guerra e conflito. Em muitas partes da Síria, elas continuam a viver com medo de violência, minas terrestres e resíduos explosivos de guerra", disse o representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) na Síria, Bo Viktor Nylund.

Legenda: Azzam, 12 anos, cercado por suas irmãs Khadijeh, 1 ano, Nour, 11, e Sidra, 14, fora de sua casa em Nashabieh de East Ghouta, zona rural de Damasco, Síria, em 21 de fevereiro de 2022
Foto: © UNICEF/UN0603137

A crise continua deixando as crianças sírias com cicatrizes psicológicas. No ano passado, um terço das crianças na Síria mostrou sinais de sofrimento psicológico, incluindo ansiedade, tristeza, fadiga ou problemas para dormir.

Embora o UNICEF não tenha números precisos sobre crianças com deficiência, é evidente que as crianças com deficiência carregam um fardo duplo quando se trata de violência, ameaças à sua saúde e segurança, fome, risco de abuso e perda de educação. A falta de mobilidade e a dificuldade em fugir do perigo agravam ainda mais os obstáculos que encontram.

Para suas famílias – como é o caso da maioria das famílias –, oportunidades limitadas de emprego, preços em alta, níveis de pobreza sem precedentes, grave escassez de bens e serviços básicos dificultam a obtenção dos cuidados de que precisam para as crianças com deficiência.

"Como todas as crianças, as crianças com deficiência têm o direito de ser cuidadas e alimentadas. O UNICEF continua empenhado em apoiar essas crianças, sem estigma e onde quer que estejam no país", disse Nylund.

Em toda a Síria e nos países vizinhos que abrigam cerca de 5,8 milhões de crianças que precisam de assistência, o UNICEF e seus parceiros continuam trabalhando para proteger as crianças e ajudá-las a lidar com o impacto do conflito. Isso inclui melhorar o apoio psicossocial para ajudar crianças e cuidadores a que se recuperem de traumas, bem como fornecer apoio e serviços para salvar vidas de crianças com dificuldades físicas e psicológicas.

"Estou feliz por poder ir à escola novamente, me divertir com meus amigos e aprender", disse Azzam, de 12 anos. Ele perdeu a perna no conflito e frequenta uma escola apoiada pelo UNICEF, promovendo a aprendizagem inclusiva. Ele também faz parte do programa integrado de proteção social do UNICEF, que apoia o adolescente e sua família por meio de assistência em dinheiro regular, juntamente com o apoio individual de um gestor de caso.

Esse programa integrado oferece às famílias vulneráveis a oportunidade de pagar pelas necessidades básicas de suas crianças com deficiência e conecta as crianças a serviços essenciais críticos.

"Temos um longo caminho a percorrer para ajudar mais crianças com deficiência e outras crianças afetadas pela guerra, para que possam atingir todo o seu potencial e crescer protegidas de danos, saudáveis e educadas", concluiu Nylund.

Saiba como apoiar o UNICEF clicando aqui.

ACNUR

Miguel Pachioni e Vanessa Beltrame

ACNUR

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

ACNUR
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância

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