Análise da ONU mostra ligação entre falta de equidade de vacinas e aumento da desigualdade
28 março 2022
Novas análises do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento demonstram que das 10,7 bilhões de doses distribuídas em todo o mundo, apenas 1% foi administrada em países de baixa renda.
Isso significa que 2,8 bilhões de pessoas em todo o mundo ainda estão esperando por sua primeira dos e que 50 dos 54 países africanos não deve cumprir a meta de ter 70% de sua população vacinada até meados de 2022.
O atraso na vacinação tem gerado prejuízos econômicos e de desenvolvimento. Os estudos mostram que, se os países de baixa renda tivessem a mesma taxa de vacinação dos países de alta renda em setembro do ano passado (cerca de 54%), teriam aumentado seu PIB em 16,27 bilhões de dólares em 2021.
Novas análises divulgadas pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que apenas uma pequena proporção das vacinas para a COVID-19 foi administrada em países em desenvolvimento, levando a uma crescente lacuna entre ricos e pobres. Os estudos demonstram também como a lacuna se perpetua para além da vacinação, causando prejuízos econômicos em países mais pobres.
Em setembro de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu uma meta global ambiciosa. A agência de saúde da ONU pediu que 70% da população global fosse vacinada até meados de 2022. Àquela altura, pouco mais de 3% das pessoas em países de baixa renda haviam sido vacinadas com pelo menos uma dose, em comparação com 60,18% em países de alta renda.
Seis meses depois, o mundo está longe de atingir essa meta. O número total de vacinas administradas aumentou drasticamente, mas também a desigualdade da distribuição: das 10,7 bilhões de doses distribuídas em todo o mundo, apenas 1% foi administrada em países de baixa renda. Isso significa que 2,8 bilhões de pessoas em todo o mundo ainda estão esperando por sua primeira dose.
A desigualdade nas vacinas põe em risco a segurança de todos e contribui para aumentar as desigualdades entre – e dentro – dos países. Esse estado de coisas não apenas corre o risco de prolongar a pandemia, mas a falta de equidade tem muitos outros impactos, retardando a recuperação econômica de países inteiros, mercados de trabalho globais, pagamentos da dívida pública e capacidade dos países de investir em outras prioridades.
Recuperação mais difícil do que nunca - Dois anos depois do início da pandemia de COVID-19, os países mais pobres estão tendo mais dificuldade do que nunca para se recuperar economicamente, os mercados de trabalho estão sofrendo, a dívida pública continua insistentemente alta e há pouco nos cofres para investir em outras prioridades.
Uma nova análise do PNUD mostra que a maioria dos países vulneráveis se encontra na África Subsaariana, incluindo Burundi, República Democrática do Congo e Chade, onde menos de 1% da população está totalmente vacinada. Fora da África, Haiti e Iêmen ainda precisam atingir 2% de cobertura.
Os estudos mostram que, se os países de baixa renda tivessem a mesma taxa de vacinação dos países de alta renda em setembro do ano passado (cerca de 54%), teriam aumentado seu PIB em 16,27 bilhões de dólares em 2021.
Os países que, segundo os cálculos, perderam a maior receita potencial durante a pandemia devido à desigualdade nas vacinas são a Etiópia, a República Democrática do Congo e Uganda.
Essa renda perdida poderia ter sido usada para enfrentar outros desafios urgentes de desenvolvimento alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que compõem a Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável – o plano da organização para um futuro justo para as pessoas e o planeta.
No Sudão do Sul, por exemplo, os custos associados às vacinas de COVID-19 poderiam ter coberto todos os programas de assistência social e despesas com educação no país, enquanto no Burundi os custos poderiam ter fornecido assistência médica para cerca de 4,7 milhões de pessoas.
Embora os bloqueios prolongados implementados em todo o mundo prejudiquem os trabalhadores em todos os lugares, os dos países em desenvolvimento foram, novamente, afetados desproporcionalmente. Os países mais ricos suavizaram o golpe aumentando o apoio econômico aos trabalhadores formais e informais, enquanto nos países de baixa renda, o apoio diminuiu entre 2020 e 2021.
Para onde vamos daqui? - O acesso urgente a vacinas e financiamentos – como as doações e concessões propostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) – é, segundo a análise, essencial para os países mais pobres, ao lado de apoios adaptados à situação de cada nação.
Muitos, por exemplo, se beneficiaram de campanhas de vacinação realizadas por organizações internacionais, e essa experiência pode informar a forma como as vacinações contra a COVID-19 são conduzidas.
O Painel Global para Equidade de Vacinas, desenvolvido pelo PNUD, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Universidade de Oxford, está ajudando pesquisadores e formuladores de políticas a executar suas próprias análises e desenvolver os programas que podem beneficiar mais efetivamente seus cidadãos.