ARTIGO: Mulheres rurais, um futuro de esperança
10 maio 2022
Uma parceria entre a Embaixada da Espanha, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), ONU Mulheres e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura distribuiu, no final de abril, R$ 35 mil em prêmios para coletivos de mulheres agricultoras.
Os representantes destas instituições assinaram este artigo, publicado no último dia 8, no jornal Folha de S.Paulo, sobre o papel essencial da mulher na agricultura brasileira.
As mulheres produzem cerca da metade dos alimentos no mundo e representam 43% da mão de obra agrícola mundial, mas ainda estão fora dos espaços de decisão. Os autores defendem que premiar estes coletivos é uma das formas de estimular mudanças neste cenário.
Por Anastasia Dimiskaya, Gabriel Delgado, Fernando García Casas e Rafael Zavala*
O Brasil, país de dimensões continentais e vasta disponibilidade de recursos naturais, tem na agricultura uma das bases de sua economia. Apesar do relevante papel do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB), a protagonista da produção de alimentos que abastece o mercado interno e fornece segurança alimentar é a agricultura familiar.
Tem-se a percepção de que a maioria dos agricultores familiares são homens. Porém, este dado esconde o papel essencial da mulher para a agricultura brasileira. O trabalho invisível delas é percebido como ajuda e não é reconhecido como atividade laboral. Na produção familiar rural compartilha-se o local de trabalho com a moradia, o que dificulta a separação da renda gerada por homens e mulheres.
O prêmio "Mulheres Rurais: A Espanha Reconhece" apoia iniciativas apenas de coletivos femininos, que contribuem na sua autonomia econômica, reduzindo a pobreza e a insegurança alimentar.
Recebemos 482 inscrições de estados brasileiros, de coletivos de mulheres que trabalham em ações como reaproveitamento de resíduos de siri, sementes de frutas ou no combate ao desperdício. Projetos que associam biodiversidade à economia circular, com grande potencial multiplicador para gerar riqueza de forma resiliente e sustentável.
As mulheres foram destinadas a cultivo de hortas, criação de animais, beneficiamento de alimentos, panificação e derivados de leite, além do artesanato. Essas tarefas geram renda, mas o trabalho desenvolvido por elas fica invisível. Na maioria das vezes, não recebem remuneração pelos serviços prestados e ficam dependentes economicamente de seus familiares homens. É questão de gênero, mas também de raça e etnia: há presença de populações indígenas, quilombolas e ribeirinhas inseridas em contextos econômicos vulneráveis.
Guia-nos a Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Os países signatários, sendo o Brasil um deles, levam em conta os desafios enfrentados pelas mulheres rurais e o importante papel que desempenham na sobrevivência econômica.
Elas produzem cerca da metade dos alimentos no mundo e representam 43% da mão de obra agrícola mundial, mas ainda estão fora dos espaços de decisão. Além disso, têm mais dificuldade de acesso à terra, ao crédito e às cadeias de valor, essenciais para sua subsistência. Há ainda muito a ser feito pela comunidade global e pelos governos locais para impulsionar este movimento silencioso e essencial.
Apoiar essas iniciativas, a liderança dessas mulheres e aumentar os benefícios econômicos é a nossa maneira de contribuir nesta questão.
Mulheres rurais, no Brasil, na Espanha e no mundo, geram alimento, renda, emprego, vida e paz. É por isso que a Espanha, firmemente comprometida com a igualdade, junto com três organizações interamericanas e das Nações Unidas, entrega este prêmio.
*Este artigo foi publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo e é assinado pela representante da ONU Mulheres Brasil, Anastasia Dimiskaya, pelo representante Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) no Brasil, Gabriel Delgado, pelo embaixador da Espanha no Brasil, Fernando García Casas e pelo representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, Rafael Zavala.