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Ensaio fotográfico empodera mulheres trans e enfrenta LGBTIfobia

17 maio 2022

Nesta terça-feira (17), o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), publicou um ensaio fotográfico em comemoração ao Dia Internacional de Enfrentamento da LGBTIfobia.

O fotógrafo Sean Black, especializado no registro da comunidade LGBTI+, fez o registro de mulheres trans brasileiras como parte de uma abordagem terapêutica que empodera esta população e ao mesmo tempo busca conscientizar sobre a violência sofrida por elas.

Relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) indica que em 2021 foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no país, 99% dos casos tiveram como vítimas travestis e mulheres trans.

 

 

Sasha deseja ter dois filhos. O sonho de Rihanna é ser respeitada sendo quem ela é. Deusa quer estudar administração. E tudo o que Alicia quer é realizar seus sonhos. No Dia Internacional de Enfrentamento da LGBTIfobia, a voz dessas quatro mulheres trans ecoa o desejo – e o direito – de ter uma vida digna, cheia de oportunidades e não sofrer violência, estigma e discriminação.

Elas fazem parte do grupo de 24 mulheres trans residentes da Casa Florescer, um centro de acolhimento em São Paulo, que participaram do Projeto FRESH. A iniciativa é do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) e incluiu um ensaio fotográfico– liderado por Sean Black, fotógrafo norte-americano especializado no registro da comunidade LGBTI+--, como parte de uma abordagem terapêutica para fornecer reforço positivo e estimular a mudança de comportamento.  

Todas as fotos estão sendo divulgadas virtualmente hoje (17) em cooperação com o escritório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil, marcando as comemorações do Dia Internacional de Enfrentamento da LGBTIfobia.

Sasha Santos fala da emoção quando viu o resultado do seu ensaio fotográfico: “Em nossas vidas são tantas coisas ruins que a gente passa, e ao ver a minha foto eu tenho certeza de que sou capaz de muitas coisas. Acho que isso é o essencial para a nossa vida: a gente se amar. O meu sonho, agora, é fazer a minha faculdade, ter minha própria casa e ter meus dois filhos. Esse é o meu sonho.” 

“Quando vi minha foto, vi uma mulher empoderada”, diz Rihanna Borges, que atualmente trabalha com outras mulheres trans para fornecer aconselhamento e apoio de pares na área da saúde. “Acho que o papel que desempenho hoje é incrível, trabalhando com outras irmãs, conversando com elas sobre a importância do autocuidado e da prevenção combinada do HIV.”  



Lorraine Arantes posa para o ensaio em comemoração ao Dia Internacional de Enfrentamento da LGBTIfobia.

Legenda: Lorraine Arantes posa para o ensaio em comemoração ao Dia Internacional de Enfrentamento da LGBTIfobia.
Foto: © Sean Black/UNAIDS/UNESCO

Veja todas as fotos do ensaio aqui.

Empoderamento - As desigualdades, o estigma e a discriminação afetam de maneira mais aguda as populações em situação de maior vulnerabilidade, como travestis e mulheres trans. Relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) indica que em 2021 foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no país, 99% dos casos tiveram como vítimas travestis e mulheres trans. No Brasil, as estimativas indicam uma prevalência do HIV superior a 30% entre travestis e mulheres trans, muito superior aos números da população em geral, com prevalência ao redor de 0,4%. 

“A participação no ensaio fotográfico serviu não apenas para mostrar a beleza interna e externa desse grupo de mulheres trans, mas também para que se sintam mais empoderadas e autoconfiantes”, explica a diretora e representante do UNAIDS no Brasil, Claudia Velasquez. “Igualmente importante foi ajudá-las a aprofundar a reflexão sobre o autocuidado, a importância de cuidar da saúde e de aderir às ferramentas de prevenção combinada do HIV, a fim de obterem um controle de seus corpos e de suas vidas e se sentir fortalecidas para fazer frente ao estigma e à discriminação”, completa. 

A história de vida de cada uma das mulheres retratadas no ensaio fotográfico reflete o impacto das desigualdades e do estigma, que forçaram algumas delas a sair de casa contra a vontade, a recorrer a serviços sexuais para se manter, a ter uma grande dificuldade de conseguir empregos estáveis, a fazer uso de drogas ou sofrer diversos tipos de violências.  

“Na Casa Florescer buscamos justamente trabalhar com as residentes um ciclo de autodescoberta e empoderamento para que possam construir uma trajetória que as leve a sair das situações de vulnerabilidade em que se encontravam”, diz o coordenador da Casa Florescer, Beto Silva. “E a arte fotográfica, que foi uma parte importante do Projeto FRESH com o UNAIDS, foi uma forma muito eficiente para mobilizá-las e engajá-las.” 

Superação - Alicia Kalloch lembra que no início sentiu-se um pouco insegura de acompanhar o projeto e participar do ensaio fotográfico final. “Essa insegurança vem das nossas vivências, de tudo o que a gente carrega, da nossa história. Mas, ao longo dos dias, eu tive a oportunidade de me fortalecer e me encontrar, de descobrir a beleza que às vezes eu achava que não tinha e fui me sentindo mais confiante”, destaca.  

Deusa de Souza completa destacando que participar do Projeto FRESH foi uma oportunidade de autorreconhecimento.

“Foi importante eu me ver, o meu empoderamento, a minha beleza. Minha autoestima melhorou, o meu bem estar também. Eu acho que comecei a ser reconhecida, uma beleza única, original, e acho que isso me fez brilhar”. 

Rihanna finaliza compartilhando o seu desejo: “Meu sonho é que um dia este acesso que eu tive, todas as mulheres trans também possam ter. Que a sociedade possa nos ver mais livres, mais soltas e que muito mais mulheres trans possam se empoderar, dizer “hoje eu sou alguém” e sair dessa invisibilidade. 

 

 

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNAIDS
Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/SIDA
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa