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Número de pessoas em insegurança alimentar severa dobra em dois anos

19 maio 2022

Em Nova York, um debate sobre a fome global na sede da ONU reuniu ministros das Relações Exteriores de aproximadamente 30 países. Na ocasião, o secretário-geral, António Guterres informou que antes da pandemia de COVID-19, 135 milhões de pessoas sofriam com a insegurança alimentar severa. Hoje são 276 milhões.

Outras 500 mil pessoas estão em condições de fome, um aumento de mais de 500% desde 2016.

A pandemia de COVID-19, guerra na Ucrânia e mudanças climáticas estão entre os fatores que estão causando estes aumentos. Guterres listou uma série de ações que devem ser tomadas agora para evitar o agravamento da crise global. 

Uma mãe dando mingau para seus filhos. Um número crescente de crianças no norte de Bahr el Ghazal e Warrap, no Sudão do Sul, faz apenas uma refeição por dia.
Legenda: Uma mãe dando mingau para seus filhos. Um número crescente de crianças no norte de Bahr el Ghazal e Warrap, no Sudão do Sul, faz apenas uma refeição por dia.
Foto: © Stefanie Glinski/FAO

Durante uma reunião sobre a fome global na sede da ONU em Nova York, o secretário-geral, António Guterres, informou que o número de pessoas em situação de insegurança alimentar severa dobrou nos últimos dois anos. Antes da pandemia de COVID-19, 135 milhões sofriam com a insegurança alimentar severa e hoje são 276 milhões. Guterres também informou que outras 500 mil pessoas estão em condições de fome– um aumento de mais de 500% desde 2016.

“Esses números assustadores estão estreitamente ligados a conflitos, tanto como causa quanto como efeito”, disse ele. “Se não alimentarmos as pessoas, alimentamos os conflitos”.

A emergência climática é outro impulsionador da fome global, segundo o secretário-geral. Ao todo, mais de 1,7 bilhão de pessoas foram afetadas por desastres relacionados ao clima na última década.  Além disso, o choque econômico induzido pela COVID-19 agravou a insegurança alimentar, reduzindo a renda e interrompendo as cadeias de suprimentos, resultando em uma recuperação econômica desigual. O acesso aos mercados financeiros foi restringido, levando alguns países em desenvolvimento à beira da inadimplência.

“Agora a guerra na Ucrânia está amplificando e acelerando todos esses fatores: mudança climática, COVID-19 e desigualdade”, disse Guterres. “A guerra ameaça levar dezenas de milhões de pessoas à insegurança alimentar, e em seguida para a desnutrição e fome em massa, uma crise que pode durar anos”, alertou o chefe da ONU.

Juntas, Ucrânia e Rússia produzem quase um terço do trigo e da cevada do mundo e metade do óleo de girassol. A Rússia e Belarus são o segundo e terceiro maiores produtores mundiais de potássio, um ingrediente crucial para a produção de fertilizantes. “No ano passado, os preços globais dos alimentos subiram cerca de 30%, os fertilizantes mais da metade e os preços do petróleo quase 70%”.

Efeito devastador - Enquanto isso, a maioria dos países em desenvolvimento não tem espaço fiscal para amortecer o impacto desses enormes aumentos, com muitos países estando incapazes de realizar empréstimos porque os mercados estão fechados para eles.

“Se os altos preços dos fertilizantes continuarem, a crise atual de grãos e óleo de cozinha pode afetar muitos outros alimentos, incluindo arroz, impactando bilhões de pessoas na Ásia e nas Américas”, detalhou Guterres. “Milhões de mulheres e crianças ficarão desnutridas, meninas serão retiradas da escola e forçadas a trabalhar ou se casar e as famílias embarcarão em perigosas jornadas pelos continentes, apenas para sobreviver".

"Altas taxas de fome têm um impacto devastador sobre indivíduos, famílias e sociedades”, disse o chefe da ONU.

Passos urgentes - No entanto, se agirmos juntos, há comida suficiente para todos, defendeu Guterres, acrescentando que “acabar com a fome está ao nosso alcance”.

O secretário-geral delineou  passos urgentes para começar a resolver a crise agora e evitar danos de longo prazo, começando com a redução da pressão sobre os mercados aumentando a oferta de alimentos– através da eliminação das restrições às exportações e disponibilizando reservas excedentes para os mais necessitados.

“Mas sejamos claros: não há solução efetiva para a crise alimentar sem reintegrar nos mercados mundiais a produção de alimentos da Ucrânia, bem como, apesar da guerra, os alimentos e fertilizantes produzidos pela Rússia e por Belarus”.

Guterres também listou como essencial reforçar os sistemas de proteção social de forma a alcançar todos os necessitados com alimentos, dinheiro, água, saneamento, nutrição e apoio aos meios de subsistência. Ele também espera que os governos incrementem a produção agrícola e invistam em sistemas alimentares resilientes que protejam os pequenos produtores de alimentos.

Por fim, ele defende que sejam direcionados fundos para financiar totalmente as operações humanitárias que lutam contra a fome.

Solidariedade- Para encerrar, o chefe da ONU disse que o Grupo Global de Resposta à Crise em Alimentos, Energia e Finanças (GCRG, na sigla em inglês) está rastreando o impacto da crise nas pessoas vulneráveis, identificando e pressionando por soluções. “A crise alimentar não respeita fronteiras e nenhum país pode superá-la sozinho”, disse. “Nossa única chance de tirar milhões de pessoas da fome é agirmos juntos, com urgência e solidariedade”.  

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, presidiu a reunião na qual ministros das Relações Exteriores de aproximadamente 30 países discutiram medidas para aumentar a resiliência global e reduzir a fome. Para enfrentar a crise atual global, o secretário dos EUA anunciou US $ 215 milhões em ajuda humanitária. 

Na mesma reunião, o chefe do Programa Mundial de Alimentos (WFP ), David Beasley, classificou a situação atual do mundo como “muito frágil” devido a anos de conflito, pandemia e ameaças climáticas. Ele também observou que os atuais déficits de financiamento podem impedir que até quatro milhões de pessoas tenham acesso a alimentos. Além disso, o alto funcionário do WFP disse que a interrupção dos portos ucranianos levará as pessoas à beira da fome.“Embora os silos estejam cheios, bloqueios e outros impedimentos os tornam inacessíveis”, disse Beasley, pedindo aos governos reconsiderem estes bloqueios.

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