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Jovens relatam experiência com projeto de enfrentamento à violência

10 junho 2022

Entre os meses de março a maio, 50 jovens de comunidades do Rio de Janeiro participaram do projeto de enfrentamento à violência “Chama na Solução Rio 2022”, realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em parceria com o Centro de Promoção da Saúde (Cedaps).

Moradora da favela da Palmeirinha, Lays dos Santos participou do programa através de uma proposta de uma websérie sobre violências.

Adriano Cypriano participou do grupo “Jovens Revolucionários”, um time da Maré que se juntou para produzir uma pesquisa comunitária, com objetivo de investigar a percepção sobre os impactos e possíveis intervenções para enfrentar as violências vividas no dia a dia.

"É super necessário falar sobre as violências". É no que acredita a jovem Lays dos Santos (à esquerda), uma das 50 participantes do projeto Chama na Solução Rio 2022.
Legenda: "É super necessário falar sobre as violências". É no que acredita a jovem Lays dos Santos (à esquerda), uma das 50 participantes do projeto Chama na Solução Rio 2022.
Foto: © Fábio Caffé/UNICEF.

O projeto Chama na Solução Rio 2022 – realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em parceria com o Centro de Promoção da Saúde (Cedaps) – reuniu jovens moradores de favelas e periferias na construção de propostas para prevenir e enfrentar as violências cotidianas que afetam sua vida. E foi por essa proposta que a jovem Lays dos Santos, 22 anos, sentiu motivação em participar. "Falar de violência pra mim é super necessário, principalmente pelo fato de ser um assunto não muito discutido dentro das comunidades".

Estudante de serviço social, Lays mora atualmente sozinha na favela da Palmeirinha, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro, mas sempre está na casa dos pais, uma rua atrás da sua. No Chama na Solução, Lays participou do grupo “Intercâmbio de Cria”, que desenvolveu o projeto Papo de Cria – uma websérie que retrata as violências do cotidiano. Foi desenvolvido inicialmente um episódio-piloto sobre violência racial. O grupo tem o objetivo de continuar a websérie com mais episódios sobre diferentes tipos de violências que sua juventude enfrenta no dia a dia.

"O processo criativo foi muito bom, é muito gostoso criar, né!? Acho que foi quase consenso comum a necessidade que a gente viu em várias comunidades do reconhecimento da violência como tal, seja ela violência de gênero, violência contra a mulher, violências sociais de modo geral. Então foi muito interessante entender que a violência é endêmica em várias comunidades, mas que ela tem suas singularidades em cada território".

Embora o “Intercâmbio de Cria” tenha estruturado de forma objetiva seu projeto na intenção de alcançar diferentes regiões da cidade, a jovem destaca o maior desafio identificado pelo grupo: a naturalização das pessoas em relação à violência. Falar de violência ainda é uma questão deixada de lado por diversos motivos, seja pela falta de conhecimento ou pelo receio da exposição que pode gerar na vida da vítima. "As pessoas não identificam a violência no território, naturalizam a violência como se fosse algo comum. Esse é o maior desafio, desnaturalizar esses processos de violência, criar o estranhamento à violência".

O caminho para desnaturalizar os processos de violência não é simples. O “Intercâmbio de Cria” surge com essa urgência de falar sobre as violências sociais, principalmente para envolver o próprio território. A perspectiva da participante para implementação do projeto está diretamente relacionada aos jovens se reconhecerem e também reconhecerem os seus espaços. "Eles são instrumentos de mudança, são multiplicadores de informação, são agentes de transformação a partir da formação que eles conquistam. A ideia que a gente tem do impacto dele (projeto) é justamente isto: ver a comunidade reconhecendo os jovens e os jovens reconhecendo a comunidade como necessários, e criando sinergias para ir buscar soluções para o próprio território".

"Nada se resolve com violência". Com essa certeza, o jovem Adriano Cypriano participou do projeto Chama na Solução 2022, na cidade do Rio de Janeiro.
Legenda: "Nada se resolve com violência". Com essa certeza, o jovem Adriano Cypriano participou do projeto Chama na Solução 2022, na cidade do Rio de Janeiro.
Foto: © Fábio Caffé/UNICEF.

Ajudar - "As dificuldades existentes dentro das comunidades estão relacionadas a violências vindas de todas as partes – às vezes, até do nosso vizinho e a gente nem percebe", diz Adriano Cypriano, 18 anos, nascido no Complexo da Maré, na comunidade Baixa do Sapateiro, Zona Norte do Rio de Janeiro, e que hoje em dia mora em Oswaldo Cruz com sua irmã. Ele também foi um dos 50 participantes do projeto Chama na Solução Rio 2022.

Após ler o edital do projeto no início deste ano, Adriano viu uma oportunidade de ajudar as pessoas e também a si próprio. De março a maio, ele e os demais participantes se dividiram em grupos para discutir e propor ações coletivas sobre o tema. Adriano participou do grupo “Jovens Revolucionários”, um time de jovens da Maré que se juntaram para produzir uma pesquisa comunitária, com objetivo de investigar a percepção de adolescentes e jovens sobre os impactos e possíveis intervenções para enfrentar as violências vividas no dia a dia.

Muito do que foi construído pelo grupo tem relação direta com as violências já vivenciadas durante suas próprias trajetórias no território. "No meu caso, vivenciei o racismo, de todas as formas possíveis. A violência psicológica também impactou muito a minha vida, me fazendo ter vergonha de falar de vez em quando, vergonha de expressar meus sentimentos. Cada violência deixa um trauma na gente e acaba inabilitando a gente para fazer certas coisas".

"Nada se resolve com violência". Esse é o pensamento que Adriano carrega ao realizar a pesquisa comunitária no seu território e pretende levar para todos os jovens moradores. "A violência não leva a gente a lugar algum. Agir, fazendo a pesquisa, por exemplo, é a esperança de um mundo melhor para as comunidades, esperança que as coisas vão melhorar, que a violência pode acabar um dia, que todos possam ser empáticos".

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa