Festival Latinidades destaca importância das mulheres negras
26 julho 2022
Realizado entre 22 e 24 de julho em Brasília, o Festival Latinidades retornou ao formato presencial neste ano, após dois anos de hiato por causa da pandemia.
Promovido com apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o evento é o maior festival de mulheres negras da América Latina.
A edição, com o tema “Mulheres Negras - todas as alternativas passam por nós”, homenageou 50 mulheres negras com diferentes trajetórias, reconhecendo a importância de suas conquistas para a construção do país.
O maior festival de mulheres negras da América Latina retornou. Após dois anos sem atividades presenciais por causa da pandemia, o Festival Latinidades foi realizado entre 22 e 24 de julho, em Brasília, com apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
O evento marcou os 30 anos do 1º Encontro de Mulheres Afro Latino Americanas e Afro Caribenhas, realizado em 1992 na República Dominicana, quando se instituiu 25 de julho o Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, e também os 15 anos do Festival Latinidades.
Com o tema “Mulheres Negras - todas as alternativas passam por nós”, a programação homenageou 50 mulheres negras com diferentes trajetórias, a fim de reconhecer a importância de suas conquistas para a construção do país.
A idealizadora do festival, Jaqueline Fernandes, destacou o apoio do UNFPA. “Essa parceria vem de anos. Em várias edições do Festival pudemos contar com este apoio. A missão do Latinidades tem tudo haver com a UNFPA. É muito importante conectar as pessoas e nos reencontrarmos presencialmente”, destacou.
A oficial de gênero, raça e etnia Luana Silva lembrou que apoiar o Latinidades, como maior Festival protagonizado por e para as mulheres negras, é uma obrigação histórica com este grupo populacional brasileiro. Ela também ressaltou que a Década Afrodescendente (2015-2024) é um convite a toda comunidade internacional para que “nenhuma pessoa seja deixada para trás”.
União - O painel de abertura do festival “Mulheres negras e indígenas – todas as alternativas passam por nós!” contou com a presença de Neon Cunha, Chirley Pankará, Epsy Campbell e Larissa Pankararu, com mediação da representante do Geledés Instituto da Mulher Negra, Nilza Iraci.
Em suas falas, todas as convidadas destacaram a importância da união entre mulheres negras e indígenas para a luta por justiça e igualdade. Ex-vice-presidente da Costa Rica, a economista Epsy Campell falou sobre a necessidade de enfrentar a violência contra meninas e mulheres e contra o racismo sistêmico, assim como a importância do combate a gravidez precoce.
“Temos a obrigação de entregar uma vida mais fácil para as que hão de vir, para que não tenham que passar por esses obstáculos de agora. É nossa obrigação entregar uma montanha mais baixa para as próximas gerações”, afirmou. Com participação ativa na política de seu país, Epsy Campbell foi a primeira mulher negra a assumir o cargo de vice-presidente da Costa Rica, em 2018, e lembrou os desafios de ocupar estes espaços: “É pesado o bastão de ser a primeira”.
“As pessoas não nos imaginavam nos espaços de poder formal e isso gera resistências. Mas este desafio está acompanhado de uma grande oportunidade, que é colocar os temas dos povos afrodescendentes e dos setores excluídos da sociedade na agenda pública. Os desafios são permanentes pois temos que lidar com as imagens de poder, que não são nossas, mas as oportunidades são de todas, porque existem muitas pessoas que estão buscando essa diversidade da foto do poder para se sentirem representados e representadas”, ponderou.
Homenageadas - Na sexta-feira (22), o Latinidades fez a homenagem “Rosas em vida: as vozes das nossas griôs na construção e preservação do patrimônio cultural imaterial brasileiro”. Cinquenta griôs (de origem africana, griô é uma pessoa guardiã da memória de um povo ou comunidade) foram homenageadas e algumas delas estiveram presencialmente no evento, como a filósofa Sueli Carneiro e a presidenta de honra da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrade), Creuza Maria de Oliveira.
“A gente se vê ainda resistindo e lutando por coisas que não deveríamos mais estar vivenciando mesmo tendo construído cada pedaço desse país", afirmou Creuza, lembrando que ainda há muita desigualdade. "Ver nossas mulheres morrendo por doenças tratáveis, somente por falta de políticas públicas, por falta de cuidado... A gente contribui com a riqueza do país, mas estamos sempre com o resto. Estamos nas piores condições de emprego, saúde e educação. Então essa homenagem foi muito importante e bonita. Para mim é um orgulho muito grande”, ressaltou