OIT promove formação em culinária e arte voltada para pessoas LGBTQIA+
11 novembro 2022
O Cozinha&Voz, curso profissionalizante em assistente de cozinha voltado para a comunidade LGBTQIA+, formou a sua primeira turma no Rio de Janeiro.
A formação aborda aptidões culinárias exigidas pelo mercado formal de trabalho, mas também o desenvolvimento socioemocional dos participantes por meio da poesia e acolhimento. O foco prioritário é na população trans e travesti.
Organizado pela Organização Internacional do Trabalho, o curso faz parte do projeto PRIDE que conta com o apoio do Ministério Público do Trabalho, da Firjan SENAI, do Instituto +Diversidade e da Casa Neon Cunha no Rio de Janeiro.

Transformar o ato de cozinhar em poesia. Foi esta a lição que Fernanda Telles, uma mulher trans de 38 anos, aprendeu como parte da primeira turma do Cozinha&Voz, um curso profissionalizante em assistente de cozinha voltado para a comunidade LGBTQIA+, no Rio de Janeiro.“A cozinha é uma arte e a poesia faz parte da arte. Então, você saber falar, você saber dialogar, você ter uma dicção verbal boa dentro de uma cozinha, te ajuda”, explicou a aluna.
Ao todo, a primeira turma foi formada por 40 homens e mulheres trans e travestis. A iniciativa faz parte do projeto "PRIDE: Promovendo Direitos, Diversidade e Igualdade no mundo do trabalho", uma estratégia combinada para promover o trabalho decente e a inclusão no mercado de trabalho formal de pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Implementado com o Instituto +Diversidade e a Casa Neon Cunha, o projeto impulsiona a inclusão e trabalho decente de pessoas da comunidade LGBTQIA+, com foco prioritário na população trans e travesti. Entre suas linhas de ação, o projeto não apenas foca no ensino de habilidades técnicas, como também procura desenvolver habilidades socioemocionais.
Com esta metodologia em mente, o Cozinha&Voz conta com a coordenação técnica da chef Paola Carosella e também da atriz e poeta Elisa Lucinda e da atriz e diretora Geovana Pires. O curso é composto por oficinas, nas quais as pessoas participantes, por meio da poesia, desenvolvem e aperfeiçoam a inteligência emocional e a comunicação interpessoal para aprender a se comunicar em qualquer contexto profissional, de uma entrevista de emprego a uma apresentação em público.
"Uma das linhas de ação do projeto PRIDE é implementar um programa de qualificação que contemple tanto a qualificação profissional como também uma abordagem de desenvolvimento da expressão e a autoestima, considerando que se trata de uma população em situação de vulnerabilidade que está sujeita a discriminação no mundo do trabalho. Por meio do Cozinha&Voz, o projeto implementa uma abordagem integral que contribui para o acesso ao trabalho decente, que é um direito de todas as pessoas", resume Camila Almeida, coordenadora Nacional do Projeto PRIDE no Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil.
Oportunidades - O estigma e a discriminação generalizada com base na orientação sexual, na identidade de gênero, na expressão de gênero e nas características sexuais negam a igualdade de oportunidades e a garantia dos direitos básicos do trabalho à população LGBTQIA+. "Hoje eu me entendo como chef de cozinha em exponencial crescimento e em busca de uma requalificação profissional, para deixar a prostituição", disse Joana Santos Igayara, mulher trans de 46 anos, que participou do curso.
Nesse cenário, as pessoas trans, em particular, enfrentam barreiras sociais, econômicas e culturais ainda maiores para ingressar no mercado de trabalho formal, o que as expõe ao risco de formas perigosas e exploradoras de trabalho, incluindo o tráfico de pessoas para fim de trabalho escravo.
"Por que o Ministério Público do Trabalho volta a sua atuação para promover a empregabilidade desse público? A gente tem dados aqui que a vulnerabilidade que marca essa população é muito intensa. A expectativa de vida média é de 35 anos. A gente está falando de uma expectativa de vida acho que da Idade Média.”, disse a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) no Rio de Janeiro, Fernanda Diniz.
“A gente tendo a oportunidade, tendo a possibilidade de mostrar o nosso trabalho, mostrar quem a gente é para além dos nossos marcadores sociais, e que os nossos marcadores sociais podem contribuir de maneira muito positiva para a sociedade, a gente mostra quem a gente é e para o que veio.’, disse o mobilizador social da Casa Neon Cunha, Leonardo Peçanha.
Realização - Desde que foi lançado em 2017 – fruto de uma parceria entre a OIT e o MPT – essa foi a primeira vez que o curso do Cozinha&Voz foi realizado no escopo do projeto PRIDE e com apoio da Firjan SENAI Tijuca, que cedeu parte de suas instalações no Rio de Janeiro para receber as pessoas participantes.
“Além da parte técnica, houve também o acolhimento na oficina de poesia. Foi muito além de uma formação profissional, enfatizando a questão comportamental e o ambiente de se sentir inclusos”, explicou a gerente dos Centros de Referência da Firjan SENAI, Joselaine Rampini.
Com informações da ASCOM da Firjan SENAI.