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Em perigosa travessia marítima, povo rohingya busca segurança em Bangladesh

13 setembro 2017

Um homem rohingya carrega seu filho recém-nascido enquanto sua família estava se escondendo na selva, após terem sido forçados a fugir da violência em Rakhine, no norte de Mianmar. A família desafiou o mar agitado da Baía de Bengala para chegar a Teknaf, região no sudeste de Bangladesh. Foto: ACNUR/Vivian Tan
Legenda: Um homem rohingya carrega seu filho recém-nascido enquanto sua família estava se escondendo na selva, após terem sido forçados a fugir da violência em Rakhine, no norte de Mianmar. A família desafiou o mar agitado da Baía de Bengala para chegar a Teknaf, região no sudeste de Bangladesh. Foto: ACNUR/Vivian Tan





Ele é muito jovem para ter um nome, mas já sofreu mais do que a maioria das pessoas durante uma vida inteira.



O bebê “x” nasceu há nove dias, logo após sua família ter perdido tudo que tinha. "Eles queimaram nossa casa e nos expulsaram a tiros. Caminhamos por três dias pela selva. Foi lá que ele nasceu", diz Mohamed, pai da criança.



A família, composta por sete membros, está entre os 270 mil refugiados rohingya que foram forçados a fugir do estado de Rakhine, no norte de Mianmar, desde que a violência iniciou no país em 25 de agosto. O limite de capacidade dos abrigos já atingiu seu máximo. Agora, os refugiados estão em abrigos improvisados, que estão cada vez maiores ao longo da estrada e nas terras disponíveis das áreas de Ukhiya e Teknaf.



Eles aguardam uma noite na fronteira de Mianmar antes de pegar um barco de pesca para Bangladesh, enfrentando uma viagem de cinco horas pelos mares agitados na Baía de Bengala.



Nos últimos dias, centenas – ou talvez milhares – de outros chegaram nas praias de Teknaf, no sudeste de Bangladesh. Os barcos que geralmente carregam peixes têm levado esses refugiados para locais seguros, mas cobram uma taxa. Os passageiros pagam entre 5 mil e 10 mil taka de Bangladesh (moeda local, equivalentente a 60-122 dólares) por pessoa.



Os refugiados dizem que aqueles que não podem pagar são detidos pelos donos do barco até que seus parentes paguem ou que a polícia chegue e os liberem.



A costa de Teknaf está repleta desses barcos de pesca. Eles se aproximam da região e liberam as pessoas nas águas profundas. Esgotados após a longa e instável jornada, os rohingya ainda encontram energia para percorrer a costa, ao lado de crianças e idosos. Alguns esgotados, caem na praia. Outros sorriem de alívio, pois finalmente conseguiram encontrar segurança.



Hafez Mohammed, de 45 anos, chegou com sua família de 10 pessoas, uma das mais bem equipadas: carregavam potes, arroz e esteiras.



“Há muitos mais que esperam os barcos”, diz Mohammed sobre a situação do porto de Mianmar, de onde saiu. “Levaria um mês para trazer todos eles.”



O povo rohingya é uma minoria de muçulmanos apátridas em Mianmar, que têm enfrentado discriminação e extrema pobreza há décadas.



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Crianças, mulheres e famílias inteiras estão saindo de suas casas e deixando tudo o que possuem para trás, caminhando longas, cansativas e desconhecidas jornadas, na esperança de encontrar segurança nos campos de refugiados de Bangladesh. Eles estão com fome, em condições físicas precárias, e precisam de apoio para salvar suas vidas após a terrível experiência.



A maioria passa a noite na aldeia vizinha de Shamlapur, que hospedou muitos refugiados rohingya desde o final da década de 1970. Um líder local chamado Shahid estima que mais de 10 mil rohingyas tenham chegado em sua aldeia sozinhos nos últimos dias.



Em Bangladesh, os rohingyas buscam qualquer parente que possa abrigá-los no país. Aqueles que não tem família procuram assistência – como os campos de refugiados de Kutupalong ou locais improvisados como Balukhali, cerca de 15 km de distância.



Os dois campos de refugiados de Cox’s Bazar, no sudeste de Bangladesh – moradia para cerca de 34 mil refugiados rohingyas antes do grande fluxo – estão superlotados. A população mais que dobrou nas duas últimas semanas, passando os 70 mil. É urgente que mais terra e abrigos sejam disponibilizados aos rohingyas.



Eles ainda não acabaram sua trajetória. Mas, pelo menos esta noite, sabem que podem dormir em paz.



O ACNUR, a Agência da ONU para os Refugiados, está trabalhando no local com seus parceiros para garantir proteção, ajuda humanitária como abrigo, comida, água e assistência médica. O ACNUR solicita o registro de todos os refugiados rohingyas na chegada aos campos, visando garantir sua proteção e acesso aos serviços básicos.



Você pode realizar doações para o ACNUR e ajudar os refugiados rohingya clicando aqui.