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ONU lança iniciativa para igualdade de gênero nas empresas da América Latina

10 setembro 2018

ONU Mulheres e União Europeia vão promover, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), iniciativas de empoderamento econômico das mulheres na Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica e Uruguai. Foto: ONU Mulheres/Ângela Rezé
Legenda: ONU Mulheres e União Europeia vão promover, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), iniciativas de empoderamento econômico das mulheres na Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica e Uruguai. Foto: ONU Mulheres/Ângela Rezé





Agências da ONU e a União Europeia reuniram em agosto, em São Paulo, cerca de 550 lideranças dos setores privado e público para debater as desigualdades entre homens e mulheres nas empresas da América Latina e Caribe. O Fórum WEPs 2018 marcou o lançamento do programa Ganha-Ganha: Igualdade de gênero significa bons negócios, que será implementado pelas Nações Unidas e pelo bloco europeu na Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica e Uruguai.



A sigla WEPs é uma referência aos Princípios de Empoderamento das Mulheres (Women's Empowerment Principles, no original em inglês), lançados pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global das Nações Unidas para estimular o compromisso do mundo corporativo com políticas de gênero. Mais de 2 mil instituições já adotaram as medidas, que visam à igualdade entre homens e mulheres no local de trabalho, no mercado e na sociedade.



Durante o fórum, realizado em 29 e 30 de agosto, a Lee Hecht Harrison Brasil e a Sodexo Benefícios e Incentivos aderiram às recomendações dos organismos internacionais. Com isso, subiu para 174 o número de empresas signatárias dos princípios no país. Atualmente, o Brasil é a terceira nação com a maior quantidade de companhias apoiadoras das diretrizes.



Uma pesquisa inédita, realizada pela Fundação Dom Cabral e apresentada no evento em São Paulo, identificou uma diferença salarial considerável entre homens e mulheres no mercado de trabalho. A disparidade aumenta conforme os cargos vão se tornando mais altos. Segundo o estudo, enquanto 54% dos postos de coordenação são ocupados por mulheres, apenas 31% delas ocupam posições de diretoria nas empresas. O número cai para 26% em cargos de presidência e vice-presidência.



O levantamento foi feito em parceria com a Aliança para o Empoderamento da Mulher, que tem o apoio da ONU Mulheres.

Desigualdades de gênero na América Latina e Caribe



Durante lançamento da iniciativa Ganha-Ganha: Igualdade de gênero é um bom negócio, a diretora regional da ONU Mulheres para as Américas e Caribe, Luiza Carvalho, enfatizou a responsabilidade das empresas para acelerar o empoderamento econômico das mulheres.



“Elas (as companhias) podem promover muitas ações, sejam por meio da mudança de sua cultura corporativa, da eliminação de práticas discriminatórias, da promoção de políticas ativas de incorporação e ascensão de mulheres em seus quadros”, explicou.



O diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Martin Hahn, lembrou que mais de 90% dos empregos no mundo estão no setor privado. “O poder de transformação das empresas é enorme e muito estratégico para os negócios. Percebemos que existe uma relação direta e muito clara na melhora de resultados das companhias que implementaram programas que promovem a igualdade de gênero. Mais diversidade gera criatividade e melhoria nos produtos”, afirmou.



Também presente no fórum, a ministra das Mulheres e Igualdade de Gênero do Chile, Isabel Plá, questionou o uso recorrente do conceito de meritocracia, em contextos marcados por disparidades que prejudicam as mulheres.



“Na América Latina, o talento, o mérito e o esforço para as mulheres não são suficientes. Hoje, só 7% de nós estão em cargos de direção na política do Chile”, lembrou.



Em maio, a dirigente lançou em Santiago o “Agenda Mujer”, um programa com 22 medidas para alcançar a igualdade de direitos e deveres para homens e mulheres. Na lista, está o aumento da participação das mulheres em cargos de alta responsabilidade.



O projeto Ganha-Ganha busca promover não apenas a igualdade de gênero nas empresas, mas também oportunidades de negócios para as empreendedoras da Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Jamaica, Uruguai e Europa. O objetivo é incentivar o debate entre instituições, fortalecendo a pauta do empoderamento feminino.



“Queremos colaborar com as companhias para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável na América Latina e no Caribe, por meio do diálogo e do intercâmbio com os países da União Europeia”, destacou o embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho.



Juntos, os seis países latino-americanos e caribenhos envolvidos no programa Ganha-Ganha reúnem quase 250 empresas signatárias dos WEPs. Com quase 70% do total, o Brasil marca presença principalmente nos setores elétrico, bancário e financeiro, tecnologia, suprimentos, saúde, alimentação, mídia e têxtil. Com o programa Ganha-Ganha, a meta é ampliar consideravelmente o número de empresas signatárias, trazendo a questão de gênero para o centro da estratégia de negócios.



Saiba mais sobre os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs) clicando aqui.



Lídia Abdalla, CEO da Sabin Medicina Diagnóstica, frisou que é fundamental transformar a cultura institucional, alcançando as cadeias de fornecimento e fomentando mudanças no entorno da empresa. Para a dirigente, esta “força-tarefa”, que compreende a comunicação clara, a formalização de acordos e a estipulação de metas, “nem sempre é fácil".



"Traz desafios de gestão e administração, mas também uma grande riqueza para os negócios”, afirmou.



Convidado para dividir os compromissos do Santander Brasil, o CEO Sergio Rial chamou atenção para a tendência à conformidade e à acomodação do mundo corporativo. “As empresas têm que ter flexibilidade e diálogo”, disse.



Cida Bento, coordenadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), abordou como a desigualdades de gênero se somam a outras formas de discriminação, como a racial.



“Quando olho para esta sala, quase esqueço da realidade do Brasil. Desafio as minhas colegas: como podemos trazer a agenda da equidade com mais presenças nesses momentos, para que comporte mulheres negras, indígenas, quilombolas? Brasileiras somos todas nós. A realidade das empresas está mudando, mas para quem?”, questionou, em pronunciamento para um público predominante branco.



O Fórum WEPs 2018 discutiu também o engajamento dos homens na pauta da igualdade de gênero, o papel das empresas na luta contra a violência, mecanismos inclusivos de compras corporativas, estereótipos na publicidade e a participação das mulheres com deficiência e da comunidade LGBTI+ no setor privado.



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