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Dedicação e conhecimento transformam a mulher do campo

12 outubro 2020

  • A baiana Marcela Tavares Monteiro, 44, sempre teve interesse pelo mundo do chocolate. Bisneta e filha de produtores de cacau em Ilhéus, ela cresceu na cultura do cacau, formou-se em Administração, mas só depois de sair do país em 2008, foi que despertou para a vocação na chocolateria.
  • A história de Marcela faz parte da ação “15 dias de iniciativas transformadoras” da campanha #MulheresRurais, mulheres com direitos, iniciativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

 

A baiana Marcela Tavares Monteiro se especializou na produção de chocolate e conta que as mulheres conquistaram espaços onde antes eram ocupados apenas por homens.
Legenda: A baiana Marcela Tavares Monteiro (esquerda) se especializou na produção de chocolate e conta que as mulheres conquistaram espaços onde antes eram ocupados apenas por homens.
Foto: © FAO

A baiana Marcela Tavares Monteiro, 44, sempre teve interesse pelo mundo do chocolate. Bisneta e filha de produtores de cacau em Ilhéus, ela cresceu na cultura do cacau, formou-se em Administração, mas só depois de sair do país em 2008, foi que despertou para a vocação na chocolateria.

“Decidida a mudar de profissão procurei algo que eu pudesse estudar enquanto estava fora do país e vi que o chocolate poderia ser uma profissão. Então me aprofundei nesse universo, fiz diversos cursos e decidi abrir uma chocolateria em Ilhéus, minha cidade natal”, conta.

Ela também participou do programa Pro-Senar Cacau, desenvolvido pelo Senar Bahia, que auxilia o produtor a melhorar a produtividade e rentabilidade do negócio rural. “Desde sempre fui apaixonada por chocolate e transformar o que amava em profissão era um sonho que graças a Deus e muito empenho, tornei realidade”.

Marcela explicou que inicialmente não usava as amêndoas produzidas na propriedade da família, somente após alguns anos fazendo chocolate que decidiu se voltar para o negócio familiar e investir no cacau fino, lançando a linha tree to bar (da árvore à barra).

“Fiz o caminho contrário da maioria dos produtores de cacau que começaram a trabalhar com chocolate. Primeiro me especializei na produção de chocolate, fui pioneira na região e depois senti a necessidade de me especializar também com o cacau”.

A produtora disse que toda a produção dos chocolates da Cacau do Céu, sua chocolateria em Ilhéus, é artesanal e feito por ela. O cacau que utiliza nos chocolates vem 50% da propriedade da família, onde ela planta, colhe, fermenta e seca as amêndoas. Os outros 50% ela compra de um produtor vizinho que recebeu, por duas vezes, o prêmio de cacau de excelência pelo International Cocoa Awards, que acontece no salão do chocolate em Paris.

A chocolateria de Marcela tem uma grande variedade de produtos entre barras na linha tree to bar e na linha bean to bar, e quase 50 sabores diferentes de recheios, onde a maioria é feita com castanhas, cupuaçu, grão de café da Chapada Diamantina e até laranja do quintal da casa dela.

“Temos também barra com mix de pimentas e canela, melado de cana com nibs de cacau, amêndoas inteiras com flor de sal, bombons de queijo gorgonzola, manjericão, limão siciliano e muitos outros, além de diversos produtos sazonais. O chocolate nos proporciona sair da nossa zona de conforto e arriscar com novos sabores e novas combinações”.

Em 2019, Marcela participou do Prêmio Brasil Artesanal de Chocolate promovido pelo Sistema CNA/Senar. Seu produto ficou em segundo lugar como o chocolate mais votado. Segundo ela, esse e outros prêmios que ganhou serviram para fazê-la acreditar que estava no caminho certo.

“Além de toda repercussão nacional, o mais importante para mim é ter a certeza que meu trabalho, feito com qualidade e amor, é reconhecido e aprovado pelos consumidores. Para se ter um bom chocolate é necessária uma boa amêndoa de cacau, conhecimento técnico, bons equipamentos e principalmente muito amor no que faz. O trabalho é grande, mas a recompensa é maior ainda”.

Ela afirma que a participação feminina cresceu muito na produção de cacau e chocolate. Crescimento esse que pode estar atrelado à sensibilidade e à força feminina, acredita.

“Conheço mulheres fantásticas que tocam suas fazendas, lideram órgãos ligados à tecnologia do cacau e por aí vai. Faço parte de duas associações a “Bean to Bar Brasil” e a Chocosul (Chocolateiros do Sul da Bahia) e em ambas já somos a maioria na fabricação de chocolate. Inclusive na Cacau do Céu somos duas mulheres, eu e minha irmã Manuela”.

A produtora contou que as mulheres conquistaram espaços onde antes eram ocupados apenas por homens. “É um caminho sem volta. É só querer, se especializar e correr atrás. Não existe isso de sexo frágil, somos fortes sim, é só arregaçar as mangas e lutar pelo que almeja”.

Programa Mulheres em Campo

O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), entidade ligada ao Sistema CNA, desenvolve desde 2017 o programa Mulheres em Campo, para ampliar as competências de empreendedorismo e gestão da mulher, com foco no desenvolvimento pessoal e da propriedade rural. O programa foi idealizado em 2009 e reformulado em 2017 para oferecer conteúdo com ainda mais qualidade às mulheres rurais. 

O Mulheres em Campo oferece cinco encontros onde são ministrados conteúdos de diagnóstico e empreendedorismo, planejamento, custos de produção, indicadores de viabilidade e comercialização e desenvolvimento pessoal. E todo o curso é ministrado por instrutoras.

Além de capacitar as mulheres, o Senar também prepara as instrutoras com metodologia própria. Nesses 11 anos de existência, a iniciativa promoveu mais de 2,6 mil turmas e capacitou 36,7 mil mulheres e 309 instrutoras em 15 estados e no Distrito Federal.

Segundo a gestora do programa no Senar Santa Catarina, Nayana Bittencourt, muitas mulheres já relataram o quanto o programa Mulheres em Campo fez diferença em suas vidas. “O olhar dela perante seu papel dentro da atividade rural mudou, passou a entender o quanto é importante nos diversos papéis que assume como mãe, filha, dona de casa, esposa e também como gestora do seu negócio”.

A regional no estado realizou aproximadamente 515 turmas e formou mais 7,2 mil mulheres entre 2011 e 2020 pelo programa.

15 dias de iniciativas inspiradoras

A história de Marcela Monteiro, produtora baiana, e a história do programa Mulheres em Campo, foi enviada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e faz parte da ação “15 dias de iniciativas transformadoras”, parte da campanha #MulheresRurais, mulheres com direitos.

Durante os próximos dias, outras organizações parceiras da campanha irão compartilhar histórias de mulheres rurais promotoras da alimentação saudável, guardiãs da terra, líderes e empreendedoras, com base em três eixos principais: direitos e autonomia econômica; papel produtivo em sistemas agroalimentares; redução de lacunas e uma vida livre de violência. No dia 15 de outubro, encerra-se a ação com a celebração do Dia Internacional das Mulheres Rurais.

Entidades da ONU envolvidas nesta atividade

FAO
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

Objetivos que apoiamos através desta iniciativa