Taxa de transmissão e gravidade da variante Ômicron ainda não estão claras
29 novembro 2021
O alcance de transmissão e gravidade da nova variante da COVID-19, a Ômicron, ainda estão sendo investigados pela OMS e especialistas em todo o mundo. Segundo a agência da ONU, não há indícios de que a variante cause sintomas distintos da COVID-19 comum, entretanto há evidências de que pessoas que já contraíram coronavírus possuam maior risco de serem reinfectadas com a nova variante.
Na abertura da sessão extraordinária da Assembleia Mundial da Saúde, o diretor da OMS, Tedros Ghebreyesus, reforçou que a única maneira de acabar com a pandemia e surgimento de variantes é resolvendo a crise das vacinas, especialmente no continente africano.
Enquanto as investigações sobre a nova variante continuam, a agência de saúde das Nações Unidas e o secretário-geral da ONU recomendam que os países mantenham fronteiras abertas e adotem uma abordagem científica baseada no risco para limitar uma possível disseminação da Omicron. "O povo africano não deve ser penalizado por identificar e compartilhar informações científicas e de saúde cruciais com o mundo”, destacou António Guterres.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou no domingo (28) uma atualização sobre a nova variante do coronavírus batizada de Ômicron, que está causando preocupação global e gerando crescentes proibições de voos nos países do sul da África. Uma sessão especial da Assembleia Mundial da Saúde começou nesta segunda-feira (29), em Genebra, para tratar do assunto. Os especialistas da OMS, pesquisadores na África do Sul e em todo o mundo revelaram que não está claro se a Ômicron é mais transmissível e mais grave em comparação com outras variantes, incluindo a Delta. Não há informações de que a nova variante cause sintomas diferentes da COVID-19 original.
“Embora os dados preliminares sugiram que há taxas crescentes de hospitalização na África do Sul, isso pode ser devido ao aumento do número geral de pessoas que estão se infectando, ao invés de resultado de uma infecção específica com Ômicron”, disseram especialistas do Grupo Consultivo Técnico da OMS sobre Evolução de Vírus (TAG-VE).
Maior risco de reinfecção - No entanto, o TAG-VE afirmou que as evidências preliminares indicam que as pessoas que já tiveram COVID-19 podem ser reinfectadas mais facilmente com Ômicron em comparação com outras variantes preocupantes.
Até agora, as infecções inicialmente relatadas foram entre indivíduos mais jovens que tendem a ter sintomas mais leves, “mas entender o nível de gravidade da variante Ômicron levará dias a várias semanas”, afirmaram os especialistas.
O grupo enfatizou que está trabalhando com parceiros para entender o impacto potencial desta variante nas vacinas, na eficácia dos testes de COVID-19 atuais e nos tratamentos existentes, mas ainda são necessárias mais informações.
Fronteiras abertas e embasamento científico - Como um número crescente de países impôs proibições de voos às nações da África Meridional devido a preocupações com a variante Ômicron, a agência de saúde da ONU instou-os a seguir as evidências e os Regulamentos Sanitários Internacionais que pedem 'que as fronteiras permaneçam abertas'.
Embora as restrições de viagens possam ter um papel na redução da disseminação da COVID-19, 'elas colocam um pesado fardo em vidas e meios de subsistência', disse a OMS, em um comunicado no domingo.
“Se as restrições forem implementadas, elas não devem ser desnecessariamente invasivas ou intrusivas e devem ter embasamento científico, de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional que é um instrumento juridicamente vinculativo do direito internacional reconhecido por mais de 190 nações”, destacou a OMS.
Enquanto as investigações continuam sobre a variante Ômicron, a agência da ONU recomenda que os países adotem uma abordagem científica baseada no risco e implementem medidas que possam limitar sua possível disseminação.
O secretário-geral da ONU também expressou sua profunda preocupação pelo isolamento agora sentido por países do sul da África devido às novas restrições de viagens da região por dezenas de nações em todo o mundo.
“O povo africano não pode ser responsabilizado pelo nível imoralmente baixo de vacinas disponíveis na África - e não deve ser penalizado por identificar e compartilhar informações científicas e de saúde cruciais com o mundo”, destacou António Guterres, numa declaração enfática.
Desigualdade vacinal e novas variantes - Nesta segunda-feira (29), em Genebra, teve início uma sessão especial da Assembleia Mundial da Saúde sobre a pandemia do novo coronavírus. Na abertura do encontro, o diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, declarou que o surgimento da variante Ômicron mostra como a situação ainda é “perigosa e precária”.
Tedros reforçou que a única maneira de acabar com a pandemia é resolvendo a crise das vacinas. Segundo ele, já foram administradas em menos de um ano quase 8 bilhões de doses no mundo - a maior campanha da história.
Ao mesmo tempo, “o ciclo de pânico e negligência” pode fazer com que os ganhos obtidos até agora “desapareçam num instante”, afirmou Tedros.
Ele explicou que mais de 80% das doses das vacinas contra a COVID-19 foram para os países do G-20, enquanto as nações de renda baixa, a maioria na África, receberam apenas 0,6% dos imunizantes.
Pedidos por mais vacinas - A União Africana, a Aliança Gavi e agências da ONU, como OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), divulgaram um comunicado conjunto pedindo à comunidade internacional a doação dos imunizantes para a África. Por meio dos mecanismos COVAX e AVAT, o continente recebeu 90 milhões de doses até o momento, mas a maioria foi entregue sem aviso prévio e perto do prazo de vencimento. Com isso, os países africanos têm tido dificuldade para planejar as campanhas de vacinação.
Especialistas em direitos humanos se juntaram a Tedros em seu apelo na segunda-feira (29), exortando os Estados a agirem decisivamente para garantir que todas as pessoas tenham acesso igual e universal às vacinas de COVID-19, particularmente aquelas em países de baixa renda que foram deixados de fora da resposta global.
Mais de 27 relatores especiais e especialistas independentes da ONU enviaram uma declaração conjunta em resposta ao anúncio do adiamento indefinido da 12ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em que uma renúncia temporária aos direitos de propriedade intelectual para facilitar patentes de vacinas deve ser discutida.
Agora é hora de agir - Tedros também defendeu uma nova abordagem global comum e vinculante para as pandemias, durante seu discurso na Assembleia Mundial da Saúde. Para ele, compreensão, coordenação e eficácia são três palavras que “a história não usará para descrever a resposta global à pandemia de COVID-19”.
A sessão especial da Assembleia Mundial da Saúde vai até quarta-feira (30) e, ao final da reunião virtual de três dias, os países decidirão se há vontade política para uma nova estrutura internacional para responder a futuras pandemias.