No Conselho de Segurança, Guterres pede fim do “ciclo de mortes" na Ucrânia
06 maio 2022
O secretário-geral da ONU, António Guterres, informou o Conselho de Segurança que “não mediu palavras” durante reuniões com os presidentes Putin e Zelenskyy, na semana passada, sobre a necessidade de acabar com o conflito brutal.
"Eu disse a mesma coisa em Moscou e em Kyiv. A invasão da Ucrânia pela Rússia é uma violação de sua integridade territorial e da Carta das Nações Unidas", disse aos embaixadores.
A ONU continuará a aumentar as operações humanitárias, salvar vidas e reduzir o sofrimento, assegurou o chefe da ONU, acrescentando que suas reuniões com os dois líderes também focaram na segurança alimentar mundial.
“É hora de nos unirmos e acabarmos com esta guerra”, concluiu o secretário-geral.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, informou o Conselho de Segurança que “não mediu palavras” durante reuniões com os presidentes Putin e Zelenskyy, na semana passada, sobre a necessidade de acabar com o conflito brutal.
"Eu disse a mesma coisa em Moscou e em Kyiv. A invasão da Ucrânia pela Rússia é uma violação de sua integridade territorial e da Carta das Nações Unidas", disse aos embaixadores.
“Deve acabar pelo bem do povo da Ucrânia, da Rússia e de todo o mundo… o ciclo de morte, destruição, deslocamento e ruptura deve parar”.
O chefe da ONU disse que entrou em uma zona de guerra ativa na Ucrânia, depois de viajar pela primeira vez para Moscou, sem muita perspectiva de um cessar-fogo – já que o leste do país continua a enfrentar “um ataque contínuo em grande escala”.
'Situação terrível' dos civis - Antes da visita, a Ucrânia fez um apelo à ONU e a ele pessoalmente sobre a “situação terrível dos civis” na cidade devastada de Mariupol e especificamente na siderúrgica Azovstal.
“Na minha reunião com o presidente Putin, enfatizei a necessidade de permitir o acesso humanitário e as evacuações de áreas sitiadas, incluindo em primeiro lugar, Mariupol”, disse Guterres, apelando fortemente para um corredor humanitário seguro e eficaz para os civis terem segurança na fábrica de Azovstal, onde centenas vivem no subsolo há semanas.
Pouco tempo depois, ele recebeu a confirmação de “um acordo em princípio” do primeiro-ministro russo.
“Devemos continuar a fazer todo o possível para tirar as pessoas destes locais infernais”, disse o chefe da ONU.
Uma ponta de esperança – Para Guterres, a complexa operação humanitária em andamento, liderada pela ONU e pela Cruz Vermelha (CICV), mostra sucesso e traz esperança.
Ele conta que a operação começou em 29 de abril e exigiu uma enorme coordenação e advocacy com a Federação Russa e com as autoridades ucranianas. “Até agora, dois comboios de passagem segura foram concluídos com sucesso”.
A primeira etapa no fim de semana viu 101 civis evacuados com segurança para o norte de Mariupol, enquanto a segunda fase na noite de quarta-feira (4) levou “mais de 320” da região para um porto seguro.
Uma terceira operação está em andamento, mas Guterres não fornece detalhes até que ela seja concluída, para evitar qualquer intercorrência.
“É bom saber que, mesmo nestes tempos de hipercomunicação, a diplomacia silenciosa ainda é possível e às vezes é a única forma eficaz de produzir resultados”, afirmou.
Segurança Alimentar - A ONU continuará a aumentar as operações humanitárias, salvar vidas e reduzir o sofrimento, assegurou o chefe da ONU, acrescentando que suas reuniões com os dois líderes também focaram na segurança alimentar mundial.
“Uma solução significativa para a insegurança alimentar global requer a reintegração da produção agrícola da Ucrânia e a produção de alimentos e fertilizantes da Rússia e da Belarus nos mercados mundiais, apesar da guerra”, ressaltou.
A guerra na Ucrânia também está colocando em movimento “uma crise que também está devastando os mercados globais de energia, perturbando os sistemas financeiros e exacerbando vulnerabilidades extremas para o mundo em desenvolvimento”, disse o chefe da ONU.
“A guerra é sem sentido em seu escopo, implacável em suas dimensões e sem limites em seu potencial de dano global. É hora de nos unirmos e acabarmos com esta guerra”, concluiu o secretário-geral.
Mais de 13 milhões em fuga - O chefe do escritório humanitário da ONU (OCHA), Martin Griffiths, apresentou um quadro sombrio analisando a infraestrutura civil destruída e os mais de 13 milhões de ucranianos forçados a fugir de suas casas, arrancando vidas e dilacerando famílias.
Ele observou que os idosos e outros que não podiam correr, não conseguiram se abrigar das bombas, sair para coletar suprimentos ou receber informações sobre evacuações.
E desde que a guerra começou, a ameaça de violência baseada em gênero aumentou com crescentes alegações de violência sexual contra mulheres, meninas, homens e meninos.
“As estradas estão fortemente contaminadas com munições explosivas, colocando civis em risco e impedindo que comboios humanitários cheguem a elas”, acrescentou o chefe da OCHA, que também atua como coordenador de emergência.
Atendendo às necessidades - Para atender às necessidades crescentes, a ONU e mais de 217 parceiros humanitários aumentaram em “velocidade recorde”, para alcançar mais de 4,1 milhões de pessoas com alguma forma de assistência em 24 regiões do país.
A resposta humanitária visa prestar serviços de assistência e proteção às pessoas deslocadas; pré-posicionar suprimentos e aumentar a preparação para onde a guerra deve mudar em seguida; além de engajar-se com as partes em conflito para pressionar por ajuda em áreas de conflito ativas ou negociar passagem segura para a saída de civis.
“Até o momento, conseguimos organizar cinco comboios de ajuda entre agências para algumas das áreas mais atingidas”, disse o coordenador de emergência, descrevendo-os como “a salvação para os civis cercados pelos combates”.
Ele descreveu os corredores bem-sucedidos estabelecidos para civis na área de Mariupol nos últimos dias: “Finalmente estamos vendo os frutos do nosso trabalho nas últimas semanas”, disse ele. “Há muito mais que podemos fazer se trabalharmos juntos”.
Para encerrar, o chefe da OCHA assegurou que a organização continuará pressionando para que mais civis possam deixar Mariupol livremente, enquanto também pesquisa opções para chegar a outras partes da Ucrânia onde os civis são profundamente impactados pelos combates.
Observando que “as repercussões desta guerra estão sendo sentidas em todo o mundo”, ele manteve o firme compromisso da ONU de medir esforços para salvar vidas.
“O mundo espera isso de nós. O povo da Ucrânia merece isso”, disse ele.
“Situação continua a piorar” - A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, informou os embaixadores sobre os relatos de violações do direito internacional humanitário e dos direitos humanos e a necessidade de prestação de contas.
Desde 2014, o escritório de direitos humanos da ONU (ACNUDH) monitora a situação na Ucrânia. E desde a invasão da Rússia em fevereiro, não parou o trabalho “por um único dia”, disse ela.
Ela explicou que, à medida que as alegações de violações continuam a ser verificadas, muitas podem constituir crimes de guerra.
“Dói-me dizer que todas as nossas preocupações permanecem válidas e a situação continua se deteriorando”, afirmou.
“Morto na frente de sua esposa e filhos” - A invasão está em seu 72º dia, mas o conflito já dura oito anos.
“Relatos de incidentes mortais, como ataques ao hospital nº 3 e ao teatro em Mariupol, na estação ferroviária de Kramatorsk, em áreas residenciais em Odesa, tornaram-se lamentavelmente frequentes”, disse a alta comissária da ONU para direitos humanos. “Parece não haver fim à vista para os relatórios diários de mortes e ferimentos de civis”.
Ao invés de descrever o “trauma e choque” das vítimas, Bachelet citou os parentes daqueles que morreram em Maripoul.
“Ele foi morto na frente de sua esposa e filhos”, disse uma testemunha. Outra descreveu o corpo de um ente querido sob os escombros de sua casa, observando que eles não podiam nem enterrá-la. Uma terceira testemunha descreveu um tio, “enterrado em uma cova coletiva”.
Conferência capta US$ 6,5 bilhões – As necessidades humanitárias continuam a aumentar na Ucrânia devastada pela guerra, disse o chefe de ajuda de emergência da ONU, Martin Griffiths, nesta quinta-feira (5), durante a Conferência Internacional de Doadores para a Ucrânia em Varsóvia. O evento, captou US$ 6,5 bilhões, foi co-organizado pela Polónia e Suécia, em cooperação com os Presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu.
De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mais de 5,7 milhões de pessoas já fugiram pelas fronteiras da Ucrânia em busca de abrigo, nos dois meses e meio desde a invasão russa em 24 de fevereiro.