Conheça o trabalho humanitário de acolhida a refugiados em Roraima
19 agosto 2022
Hoje é o Dia Mundial Humanitário, data em que valorizamos todos os trabalhadores e trabalhadoras da resposta humanitária às crises regionais, nacionais e globais. No Brasil, a maior parte das ações de resposta humanitária estão em Roraima, na região norte.
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), com o apoio do Governo de Luxemburgo, trabalham conjuntamente desde 2018 na região, e em especial para o empoderamento econômico de mulheres venezuelanas que chegam ao Brasil.
Como forma de celebrar a data, conheça trabalhadoras humanitárias da ONU que atuam com pessoas refugiadas em Roraima e o funcionamento dos Espaços Seguros, exemplo de acolhimento e informação na assistência humanitária.
O dia 19 de agosto é marcado como o Dia Mundial Humanitário, ou o Dia Mundial de Trabalhadores e Trabalhadoras Humanitárias. A data foi instituída pelas Nações Unidas em homenagem a 22 funcionários e funcionárias que, em 19 de agosto de 2003, perderam a vida após um ataque à sede da ONU em Bagdá, no Iraque – entre eles, o brasileiro Sergio Vieira de Mello.
No Brasil, a maior parte das ações de resposta humanitária estão em Roraima, na região norte. O estado tem sido a porta de entrada para milhares de venezuelanos e venezuelanas que, desde 2018, chegam ao país em busca de melhores condições de vida. Ainda naquele ano, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), ONU Mulheres e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) estabeleceram equipes na região e, desde 2019, com o apoio do Governo de Luxemburgo, agem em programas conjuntos que têm como foco as diferentes demandas de mulheres e meninas refugiadas e migrantes.
Situações de emergência, como o fluxo migratório forçado, acabam afetando de maneira mais intensa as mulheres e meninas, com aumento da violência e insegurança, além do aumento considerável das responsabilidades assumidas com atividades de cuidado, responsabilidades domésticas e tarefas de subsistência. Por outro lado, estudos e evidências apontam que a participação das mulheres em processos de construção de paz (como em guerras e emergências humanitárias) levam a resultados mais duradouros e resilientes.
Pensando nisso, a partir de 2021, a ação conjunta das três agências passou a atuar com mais intensidade no componente do empoderamento econômico de mulheres refugiadas e migrantes. Por meio do programa Moverse, ACNUR, ONU Mulheres e UNFPA trabalham não apenas para acolher e atender às demandas emergenciais dessa população, mas também para garantir condições para que consigam se integrar social e economicamente em diferentes regiões do Brasil, alcançando autonomia e melhoria na qualidade de vida.
Para receber mais informações sobre o Moverse, cadastre-se na newsletter do programa neste link.
Conheça, a seguir, três trabalhadoras que têm atuado nessa iniciativa:
Thais Silva Menezes - Aos 36 anos, Thais é doutora em Relações Internacionais e compõe o time do ACNUR há quase cinco anos. Hoje, trabalha como líder das unidades de Interiorização, Meios de Vida, Proteção, Registro, Saúde Pública e Relações Institucionais. Sua gestão de equipes numerosas e de grande impacto na resposta humanitária promove o início do processo de integração e de promoção da dignidade às pessoas que chegam da Venezuela em busca de proteção internacional. “A busca por soluções duradouras, a criação de políticas públicas e o pleno acesso a direitos é fundamental para pessoas refugiadas e migrantes que chegam no Brasil. Elas vêm com conhecimentos e habilidades para diversificar e melhorar a economia do país, ao mesmo tempo que buscam oportunidades para uma vida com mais segurança”, diz.
Erika Hurtado Gonzáles - Vivendo há cinco anos no Brasil, Erika, 38, é colombiana. Formada em Jornalismo, ela ingressou no mestrado em Antropologia em Roraima assim que chegou. Em pouco tempo, ela começou a fazer estágio na ONU Mulheres e foi contratada como consultora. “Atualmente, no Moverse, minha função é mobilizar organizações da sociedade civil para que desenvolvam planos de ação para a inserção laboral e o empoderamento econômico das mulheres migrantes e refugiadas. Também mobilizo essas mulheres para participarem de atividades focadas no empoderamento econômico, como cursos, educação formal, treinamentos e rodas de conversa, para que possamos refletir e construir de forma conjunta possibilidades de crescimento”, explica. Sobre seu trabalho em Roraima, Erika finaliza dizendo que ter sensibilidade com quem está em situação de vulnerabilidade é uma forma de demonstrar amor pelo que faz. “Devemos trabalhar com empatia, com ternura, pois tudo está muito ligado às nossas emoções, isso faz parte do meu trabalho. Os diálogos recuperam e valorizam as experiências que vão além do que a gente imagina, e isso nos fortalece como trabalhadoras.”
Jaqueline Oliveira - Jaqueline tem 24 anos e é natural de Boa Vista (RR). Ela ingressou no UNFPA em 2019, por meio do programa de estágio afirmativo. Hoje, é assistente de proteção e lidera o time do UNFPA no Posto de Triagem (PTRIG) de Boa Vista, que atende pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas. No Moverse, Jaque – como é conhecida no UNFPA – está envolvida nas atividades de resiliência comunitária, fortalecimento das capacidades locais, comunicação com a comunidade e gestão de casos de proteção. Além disso, ela facilita as oficinas de treinamento contra abuso, assédio e exploração sexual (PSEAH). “Como trabalhadoras humanitárias, nós não somos heroínas, mas pessoas que estão prontas para defender e promover os direitos humanos de todas e todos que precisam de informação e acesso aos seus direitos básicos”, ressalta.
Espaços Seguros - Pessoas de todas as idades, coletes de muitas organizações, oficiais fardados, bagagens, filas, dúvidas, esperanças e planos. Este é o clima no Posto de Interiorização e Triagem (PTRIG) da Operação Acolhida em Pacaraima (RR), fronteira terrestre entre Brasil e Venezuela. É lá que as pessoas refugiadas e migrantes chegam ao Brasil e buscam uma série de serviços: emissão de documentos – CPF, carteira de trabalho, residência, refúgio –, vacinação, atendimento psicossocial, abrigamento, entre outros. No meio disso tudo, há uma porta. Nela, está escrito: espacio seguro. É o espaço seguro do UNFPA, exemplo de acolhimento e informação na assistência humanitária.
“A pessoa que chega aqui, acabou de entrar no Brasil. Ela não entende português, não se alimenta bem faz tempo, veio de carona. Ela chega ansiosa, abalada”, conta o líder do UNFPA no PITRIG de Pacaraima, Harlen Lamar. Os espaços seguros são as salas onde as equipes de trabalhadoras humanitárias do UNFPA atuam para atender, informar, detectar e encaminhar casos de violência baseada no gênero e de saúde sexual e reprodutiva. Tudo com sigilo e respeito, para que nenhuma abordagem cause mais danos à vida de quem é atendida. Essas salas também estão presentes nos PITRIGs de Boa Vista e Manaus.
Além dos atendimentos integrais, são realizadas rodas de conversa, atividades educativas – com jogos e vídeos –, e de empoderamento. Há também poltronas para as mães amamentarem seus filhos. Todas as pessoas são bem-vindas: a porta está sempre aberta e a demanda é espontânea.
Em contextos de emergência, como deslocamentos forçados, conflitos e desastres naturais, a resposta humanitária tem papel fundamental na garantia dos direitos básicos das pessoas. “Neste dia 19 de agosto, nós reconhecemos o importante papel que as 50 trabalhadoras e trabalhadores humanitários do UNFPA exercem na garantia de direitos de mulheres e meninas, especialmente das refugiadas e migrantes da Venezuela. São milhares de pessoas vulneráveis beneficiadas” declara Igo Martini, oficial de projetos e chefe de escritório do UNFPA em Roraima.
Os espaços seguros são mantidos com o apoio do Governo de Luxemburgo, através do Projeto Moverse.